A
pedido de muitos núcleos familiares, e algumas insistências
institucionais, volto a partilhar a minha experiência com a música
ao longo do ano que terminou, com cada vez menos tempo disponível e
cada vez mais projetos a surgirem.
Sendo
o quinto ano que opino sobre alguns projetos musicais internacionais
e nacionais, já me apercebi que os jornalistas da especialidade têm
a tendência de dizer que "2010 foi um grande ano" ou "2013
foi cheio de surpresas" – pois para 2014 o cenário é meio
desmoralizador, afirmando alguns que foi um "ano morno" ou
"sem grandes surpresas".
Não
compreendo como, pois cada vez mais surgem novos artistas,
tornando-se incomportável acompanhar todas as tendências e
novidades, numa época de intenso desenvolvimento tecnológico em
relação às artes e à criatividade...
Então:
de acordo com as tabelas da crítica musical internacional, dois
discos dominam o panorama, nomeadamente o rap alternativo em Run
the Jewels 2 (resultando do
encontro de El-P com Killer Mike)
e Lost in the Dream dos The War on Drugs.
Outro
destaque terá de ir obrigatoriamente para o álbum Syro, de
Aphex Twin, que finalmente obtém o mérito generalizado e merecido a
nível mundial, sendo um ídolo para todos os amantes da música
eletrónica, principalmente da mais industrial e experimental. Não
lançava um disco de originais desde 2001!
Acho
que é justo destacar brevemente os álbuns It's Album Time de
Todd Terje (uma deliciosa e inteligente eletrónica suave), o
trabalho homónimo de St. Vincent, cada vez mais profunda e
indelével, e ainda Our Love, dos agora extremamente dançáveis
Caribou (mais eletrónica...).
Para
rematar o cenário internacional, os meus preferidos: To Be Kind,
dos Swan, que teve uma aceitação muito boa na crítica e nas
tabelas finais do ano; e o inevitável disco do ano: Benji,
dos maravilhosos Sun Kil Moon, liderados por Mark Kozelec. Trata-se
de um disco com contornos mágicos, desde logo o título, retirado
assumidamente do filme sobre um dos mais amados cachorros da história
do cinema, e que nos leva numa mágica e serena viagem pelo mundo das
letras e do folk contemporâneo.
Outra
saborosa curiosidade, que nem o próprio músico (antigo líder dos
míticos Red House Painters) sabe explicar, que é a relação com
Portugal, pois a sua editora chama-se "Caldo Verde Records"
e neste álbum é utilizada mais do que uma vez a guitarra
portuguesa, tocada pelo próprio Kozelec...
Já
vai longa a explanação auditiva, mas queria ainda referir os
projetos Perfume Genius e Future Islands, e a minha última
aquisição, Black Messiah por D'Angelo, apenas editado em
dezembro e talvez ainda pouco divulgado e conhecido – mas
magnífico! Hip-Hop, Soul e Funk de intervenção e introspeção...
A
nível nacional vivemos o ano da Capicua, pois a rapper portuense
saiu da sombra dos fãs do hip-hop para o reconhecimento generalizado
– deliciosa! Impossível não referir também os trabalhos de
Capitão Fausto (Pesar Sol), Dead Combo (A Bunch of
Meninos) e Sensible Soccers (8).
E
porque não uma secção regional? Aí teria de realçar os jovens
Sara Cruz e Rubeshe Silva (DL-Jay), e ainda a organização do
Festival Tremor, que tanta qualidade e inovação trouxeram a Ponta
Delgada (nota: começar a pensar em fazer perninhas noutras
ilhas...).
PS. Visto que quase 20 dias após o envio deste artigo de opinião, num espírito de partilha, para a imprensa escrita da Terceira, e nenhum interesse ter despoletado, decido obviamente a divulgação modesta via blogue. É assim.
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