quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Tristes Trópicos...

Claude Lévi-Strauss - Tristes Trópicos (1955)

É o mais reconhecido ensaio de Claude Lévi-Strauss, um dos mais importantes filósofos e antropólogos franceses, escrito sob a forma de uma narrativa etnográfica romanceada, e com excertos sobre várias sociedades indígenas.

É acima de tudo uma memória das suas viagens e trabalhos de cariz antropológico, com destaque para o tempo passado no Brasil, embora se cruzem várias áreas do pensamento e comportamento humano, como a sociologia, a geografia ou mesmo a música e a literatura.

Tornou-se um clássico da etnologia mundial, mas também uma obra universal, abordando a crise do processo civilizacional da modernidade (1955), sendo mesmo considerado um dos 100 livros do século pelo jornal "Le Monde".

Lévi-Strauss é considerado o pai da antropologia estrutural (que tanto me assustou no início da minha licenciatura...), e um dos grandes intelectuais do século XX. Professor universitário e catedrático em várias instituições, realizou também vários trabalhos de campo, que deram origem a uma extensa obra, reconhecida internacionalmente.

Aproveito para deixar duas citações suas conhecidas:

1.- "O antropólogo é o astrónomo das ciências sociais: ele está encarregado de descobrir um sentido para as configurações muito diferentes, por sua ordem de grandeza e seu afastamento, das que estão imediatamente próximas do observador."

2.- "Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente".

Muito Bom.


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Pelo Tempo: "Os Sons de 2012 – Internacional" (2013-01-08)

Nada mais previsível do que cliché repetido… mas não consigo evitar de partilhar esta pesquisa de fim-de-ano que realizo sistemicamente em todos os Dezembros. Assim, lá fui pesquisando nas últimas semanas as habituais revistas de referência musical, entanto abranger a maior diversidade possível, em edições norte-americanas, europeias e portuguesas.

Como as informações, embora breves e amadoras, são muitas, tenho de dividir o texto em dois artigos, nomeadamente às listas internacional e nacional. Também não custa referir que se as listas fossem baseadas nos tops de vendas, teríamos aqui nomes como Rhianna, Taylor Swift ou Tony Carreira, todos grandes músicos e de carreiras populares imensas – mas o que se procura é apresentar o que de melhor a nível musical se produziu, segundo os críticos da especialidade.

As revistas consultadas para a cena internacional foram a New Music Express, Rolling Stone, Spin, UNCUT, Paste Magazine e a Magic RPM, abrangendo bastantes áreas e estilos musicais. Aliás, torna-se esta uma excelente forma de descobrir novos sons, pelo menos para mim… que resultou nesta lista:

10. Alt-J: “An Awesome Wave”. Fresco trabalho destes jovens ingleses, com o seu primeiro álbum de estúdio. Singularmente divertido e acessível.

9. Grimes: “Visions”. Trabalho da experimentalista canadiana, complexo, mas muito bonito e provocante q.b., recheado de uma duvidosa estética futurista.

8. Bob Dylan: “Tempest”. Um regresso é um regresso, e Bob Dylan mantém a sua linguagem, embora, como o título indica, algo mais tempestuoso.

7. Jack White: “Blunderbuss”. Primeiro trabalho a solo do vocalista dos White Stripes, muito bem recebido pela crítica e pelo público, também se mantém fiel ao seu rock sentido, emotivo e singelo.

6. Grizzly Bear: “Shields”. Quarteto indie norte-americano, lançam o seu quarto álbum, mais complexo e rico, com um pop-rock introspetivo, mas não estático.

5. Japandroids: “Celebration Rock”. Está na moda o punk com toques de rock clássico, muito bem executado aqui por este duo canadiano. Enérgico e estimulante.

4. Fiona Apple: “The Idler Wheel Is Wiser…”. Outro regresso, da aclamada artista “alternativa” norte-americana, já nomeada para Grammy com este disco. Apenas com 4 álbuns de estúdio, esta poetisa da música nunca deixa de encantar.

3. Tame Impala: “Lonerism”. Segundo álbum destes psicadélicos australianos, de uma sonoridade pop lembrando os anos 60 e 70. Obrigado Kevin Parker.

2. Kendrick Lamar: “good kid, m.A.A.d city”. Ao ritmo de uma autobiografia, Lamar vai-nos contando as peripécias da sua vida em Compton (Califórnia), numa fascinante narrativa em hip-hop suave e lírico, onde as rimas criam uma atmosfera entre o real e o onírico, onde se incluem pequenos trechos reais de conversas e histórias da sua vida. Disco vital de 2012!

1. Frank Ocean: “Channel Orange”. Este é o disco do ano, sem dúvida o mais referido nas leituras realizadas, apanhando a importante boleia de Jay-Z e Kanye West, comprovando que o som hip-hop e soul está de facto na moda, onde criando um bonito e sentido álbum, atinge também níveis muito interessantes de vendas, como Kendrick Lamar, aliás. Apresenta-nos uma mistura ideal: a sensibilidade de um cantautor recheado de poética, com a afetividade do soul – objetivo para onde os últimos anos de experimentalismo do hip-hop vinham encaminhando… Elegante, inteligente, lírico e sofisticado.

Junta-se assim aos álbuns de 2010 (Kanye West: “My Beautiful Dark Twisted Fantasy) e 2011 (PJ Harvey: “Let England Shake”). No entanto são ainda de referir os trabalhos de Bruce Springstenn, dos Chromatics, o regresso de Bill Fay e o fantástico álbum dos Swans. A título pessoal, destacaria “Bloom”, dos Beach House, assim como o disco de estreia dos açorianos October Flight, já com visibilidade nacional.


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

DJ Shadow - O Pai do Sampling

DJ Shadow - Endtroducing..... (1996)

Este foi o primeiro álbum de DJ Shadow, e como muitos dos primeiros trabalhos dos grandes génios, é fantástico, e talvez o mais marcante da sua carreira e de uma nova área que se passou a existir no panorama discográfico.

Marcou uma época, e serviu de farol para muitos jovens que queriam mais da música, tendo sido o primeiro disco criado inteiramente a partir de samples de outros álbuns, automaticamente aclamado pela crítica especializada, e ainda com a curiosidade de ter sido integrado no Guiness Book of Records (em 2001).

A base é hip-hop, mas com os cortes e misturas efetuadas, criou um disco profundo, tenso e intrigante, recheado de texturas e estilos musicais, tendo para isso contribuído os misteriosos e obscuros discos de vinil que descobria (dizem ter uma coleção de mais de 60 mil discos de vinil...).

DJ Shadow (Josh Davis), é originário de San Jose, Califórnia, e começou como DJ na universidade e na rádio comunitária, sempre numa perspetiva experimental do hip-hop, sendo ainda referenciado como um dos criadores do trip-hop (título que rejeita...). Tem vários discos editados e um interessante trabalho em conjunto com outro visionário, DJ Cut Chemist, este mais de influência funk, mas também na área das mixtapes e experimentalismo.