quinta-feira, 27 de setembro de 2012

OuVido: Akron/Family, em pura liberdade criativa...

Akron/Family - Set 'Em Wild, Set 'Em Free (2009)

Os Akron/Family, talvez ainda pouco conhecidos em Portugal, são originários de Nova Iorque, mais especificamente do bairro "indie/hippie" de Williamsburg, Brooklyn, um dos atuais locais de referência para a música nos últimos 10 anos.
Do folk ao rock experimental, passando obviamente pelo psicadélico, esta banda já nos deu de tudo. Este trabalho de 2009 começa com um funk bem ritmado, e leva-nos ao soul, indie eletrónico e paisagens sonoras do mais variado possível, por estes três jovens revolucionários.
Também há uns meses atrás ninguém conhecia ou dava crédito aos Beach House e Ariel Pink, e agora é ouvi-los em anúncios televisivos e programas de imobiliária e design...

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Pelo Tempo: "Sinfonia Imaterial – O Filme" (2011-06-16)


Foi apresentado esta semana no Auditório do Ramo Grande, numa iniciativa da Direção Regional da Cultura, o filme “Sinfonia Imaterial”, de Tiago Pereira. Este projeto resulta de uma encomenda feita pela Fundação INATEL, em coprodução com a Associação Pé de Xumbo e com o apoio da referida direção regional.
O realizador Tiago Pereira, com total liberdade criativa, fez uma longa viagem por Portugal, do Minho aos Açores, entre março e abril deste ano, filmando exemplos de tradições musicais e não só, conseguindo suaves e interessantes transições entre diferentes momentos.
O filme não tem narração, nem voz-off, nem legendas, sendo-nos apenas apresentado o local e instrumentos a serem executados. Trata-se de uma peça, que não sendo um documentário, também não é necessariamente ficção, mas um filme sem narrativa, que mais poderá ser considerado um “sampling” (misturar) de momentos espontâneos de tradição musical e cultural.
Dos Pauliteiros de Miranda a uma senhora faialense de 91 anos a tocar guitarra portuguesa com uma firmeza e qualidade indiscutível, são muitas as tradições e instrumentos musicais que nos aparecem ao longo do filme, das rabecas aos adufes, das violas da terra ao curioso “bexigoncelo”, instrumento em desuso nas tradições madeirenses, e que consiste na utilização de uma bexiga de porco para a elaboração de um instrumento que faz lembrar um violoncelo, mas apenas com uma corda.
Como foi também referido pela representante do INATEL, não foram tidas em conta quaisquer preocupações científicas, de cariz etnográfico ou musicológico, mas apenas a captação de registos espontâneos da tradição musical hoje em dia. As filmagens são sempre em plano fixo e enquadradas numa paisagem natural, em tascas ou em salas de estar.
Tiago Pereira, o realizador, de 38 anos, desde cedo se interessou por som e animação, tentando sempre aliar o tradicional com o contemporâneo, com um objetivo bem definido: chegar à tradição de futuro. Foi já distinguido por vários filmes, como “11 Burros Caem no Estômago Vazio” e “Quem Canta Seus Males “Espanta”, em festivais como o DocLisboa, Dialektus Festival (Hungria) e Ovarvídeo.
Podendo-se identificar mais com um músico do que como realizador, os seus filmes são autênticos exemplos de “sampling” visual e sonoro, sempre misturando o tradicional e o contemporâneo, referindo-se inclusive a DJ Spooky, o famoso “sampler” norte-americano (que mistura tudo, desde uma campainha de telefone a um chocalho de cabras), cujo lema é “deem-me dois discos e dou-vos o universo”, ou como em tom de brincadeira diz Tiago Pereira: “deem-me duas velhinhas e eu dou-vos o universo.
Trata-se pois de uma interessante abordagem ao património oral português, em constante mutação e utilização por centenas de milhares de pessoas, não se podendo no entanto comparar a abordagens mais académicas da área da etnomusicologia e das recolhas das tradições orais, com as principais referências portuguesas a serem “atiradas a um canto” pelo realizador, propositadamente, imprimindo uma linguagem mais contemporânea, na minha opinião igualmente importante.
São várias as referências aos importantes trabalhos de Michel Giacometti, Artur Santos, Fernando Lopes-Graça e Ernesto Veiga de Oliveira, nos anos 50, 60 e 70. Mais recentemente são de destacar também Rui Vieira Nery, José Alberto Sardinha e ainda Manuel Rocha (Brigada Vitor Jara). Todos estes nomes seguem uma linha de ação que pretende estudar a música no seu contexto cultural, ou o estudo da música como cultura, concentrando-se na forma de compreender o porquê daquela música ser como é.
Entre exemplos de todo o país, os Açores talvez sejam a região mais representada, começando e acabando o filme na região. Dos foliões das várias ilhas, passando pelas cantigas ao desafio, até ao chamamento do búzio, são vários os momentos que nos tocam mais fundo, pois identificamo-nos automaticamente.
Um belo registo, que provavelmente voltará a ser exibido na região.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Leituras: o humanismo de Graham Greene

O Fim da Aventura (1951)

Graham Greene continua a ser o meu predileto autor, no que diz respeito a consumo de livros, ou seja, é o autor de quem li mais até hoje.
Em O Fim da Aventura (The End of the Affair), Greene apresenta-nos uma comovente ligação amorosa entre Bendrix e Sarah, repentinamente interrompida por esta, sem qualquer explicação.
Os tempos em que vivem são intensos, em Londres, durante os bombardeamentos da II Guerra Mundial, que contribuem para o pesado ambiente da história. Dois anos passados do fim da relação, e ainda conduzido por ciúme e grande dor, Bendrix contrata um detetive privado com vista a descobrir o que realmente se passou.
Daí para a frente o relato é mágico, sempre com uma narrativa envolvente, e terminando com um magistral fim desta história de amor.
Logo quatro anos após a sua edição, em 1955, o livro virou filme, tendo obtido um relativo sucesso. Em 1999 volta aos ecrãs, por Neil Jordan, e destas vez com estrelas maiores do cinema de Hollywood, nomeadamente Ralph Fiennes e Julianne Moore, que foi mesmo nomeada para melhor atriz pelo papel.
No entanto, mesmo sendo bons filmes e passando a moral do filme, não se comparam em termos de envolvência, imaginação e suspense.
Por curiosidade, em 2004 foi adaptado para ópera por Jack Heggie, e em 2011, ao teatro, por Karla Boos.
Um verdadeiro sucesso, nascido do génio narrativo e humanista de Graham Greene.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

OuVisto e ReVisto: Lawrence da Arábia

Lawrence of Arabia (1962)

Aqui está um dos vários filmes da minha vida. 
Primeiro, é um grande filme, um verdadeiro épico, com contornos de humanidade, solidariedade e coragem profundos.
Depois, marcou uma fase da minha vida, onde o fui obrigado a ver com vista a um trabalho universitário, que me levou a mudar completamente a minha perspetiva sobre o médio oriente e os contextos islâmicos.
É baseado na obra de T. E. Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria, e realizado pelo grande David Lean, e retrata a excêntrica personalidade de Lawrence, em plena I Guerra Mundial, quando um jovem britânico é destacado para o Egito.
Além disso, foi fortemente reconhecido, ganhando sete Óscares (incluindo melhor filme e melhor realizador), assim como muitos outros prémios (Bafta, Globos de Outro, etc.).
Vejo uma ou duas vezes por ano, na boa!


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Guarda-chuva, Guarda-sol...





Bonita e simples instalação, por Patrícia Almeida, em Águeda.
Coisas bonitas e simples em Portugal. Bem feitas!

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O "melhor" dos Dead Can Dance...

Dead Can Dance - Wake (2003)

Mesmo não sendo um fã de discos de compilações, este trabalho dos australianos Brendan Perry e Lisa Gerrard (Dead Can Dance) abrange cerca de 20 anos do seu trabalho, e está muito bem elaborado, num duplo CD com perto de 30 canções/músicas.
Este "acordar" ou "despertar" deixa no ar um misterioso, de duplo sentido, numa mística e imagem que se encontram presentes em todo o trabalho desta formação, num som altamente denso e complexo.
Maravilha.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Pelo Tempo: "Serreta – Peregrinação e Partilha" (2011-10-07)


Serreta, pequena freguesia no extremo ocidental da ilha Terceira, com aproximadamente 400 habitantes, com um clima fresco, ambiente saudável e uma grande carga mística.
Não sou natural da Serreta, embora desde criança tenha uma relação pessoal e familiar, que se cimentou nos últimos anos. Até o começar a pensar que lá vou passar uns dias, entre família e amigos, em festa ou em reflexão, me entusiasma, demonstrando já aqui o seu significado e importância.
Sentado a meio da tarde de sexta-feira, olhando para a rua, ainda antes da grande movimentação de gentes em torno do santuário ou da mata, escrevo algumas notas num pequeno caderno que me trouxeram de Nova Iorque. Penso logo na distância geográfica e cultural entre estes dois pontos, passando por conceitos como localismo e globalização. Era já sinal da referida reflexão…
Seria extremamente imprudente num simples artigo de opinião “falar” sobre a Serreta, a peregrinação, o santuário, as festas e a sua gente. Mas, como muitos, pelo facto de me impressionar imenso, desejo partilhá-la.
E como passar a mensagem do peso ou da importância que estes dias têm? Como explicar a magnitude de sentimentos e o orgulho que sentimos? É de facto algo muito poderoso.
Segundo reza a história, no fim do século XVII, um padre chamado Isidro Fagundes Machado, em choque com a vida em sociedade, procurou refúgio na Serreta, associando o seu desejo de isolamento com os saudáveis ares de montanha que o local oferecia. Terá construído uma pequena ermida onde colocou uma imagem de Nossa Senhora, numa localização diferente de onde hoje se situa o Santuário.
Já em 1842, o local é elevado a curato, sendo transferida para a nova igreja uma imagem de Nossa Senhora dos Milagres, e dando-se início às peregrinações, tendo vindo a tornar-se ao longo dos anos um dos mais populares cultos religiosos nos Açores, reunindo milhares de peregrinos, que a pé percorrem os caminhos da ilha.
Se para muitos é um ato de fé, numa espécie de oração em formato de promessa e demonstração de devoção, para outros será um processo de introspeção, não necessariamente de cariz religioso, mas pessoal. Para outros é o passeio e o convívio, não menos importante para a nossa robustez mental.
Alguns peregrinos optam por fazer o trajeto descalços ou carregando um número ou peso simbólico de velas, por pagamento de promessas específicas, com um forte sentimento de dádiva e gratidão, chegando por vezes a alcançarem os 40 ou 50 quilómetros de distância.
Se olharmos para cada rosto vermelho e cansado que chega ao Santuário, é difícil não pensar no peso das histórias que carregam, na importância de cumprir determinada promessa, por amor e por devoção.
Li algures que serão cerca de 20 mil pessoas a passarem pela Serreta nestes dias de festa, desde os peregrinos, às touradas e ao famoso piquenique.
Aliás, a dimensão profana das festas tem vindo a aumentar, como é disso exemplo a proliferação de tasquinhas ao longo do percurso, onde as “donetes” e as socas de milho se tornaram parte da festa, assim como a imagem de algumas famílias sentadas à frente de casa observando os peregrinos.
Na segunda-feira realiza-se a famosa toirada da praça do Pico da Serreta, tão concorrida que o dia é considerado feriado não oficial em toda a ilha, com tolerância de ponto concedida nas escolas e ao funcionalismo público.
Na quarta-feira, também a toirada de corda reúne muitas pessoas na freguesia, seja visitando antigos amigos, reconhecendo rostos com mais de 40 anos de intervalo, ou apenas para ver os toiros. Este ano ligeiramente prejudicada por jogar o Benfica…
Mas o elemento emocional e espiritual continua a ser o mais importante e significativo para as pessoas, como se presenciou após o fim da procissão de Domingo, onde centenas cantaram a Glória, ao som das sete magníficas filarmónicas presentes.
A incrível sensação de partilha, de pertença a uma comunidade, sendo ou não serretense, a um conjunto de pessoas que têm problemas, alegrias e emoções como nós, foi de facto o clímax espiritual destes dias.

Nota: um ano passado, mantém-se e intensifica-se o sentimento.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

OuVisto: Uma Viagem Selvagem..

Into the Wild (2007)

Talvez o filme mais poderoso e conseguido de Sean Penn enquanto realizador, baseado numa história verídica, passada a livro pelo jornalista Jon Krakauer, e relata a história de Christopher McCandless, que após concluir os estudos universitários, aos 22 anos, decide partir numa viagem libertadora.
Abandona todas as suas posses materiais, incluindo doar os 24,000 dólares que tinha a instituições de solidariedade, e vai de boleia até ao inóspito estado do Alaska, com vista a viver na natureza...
Durante a viagem cruza-se com algumas personagens interessantes, que continuam a moldar o seu espírito, acabando por encontrar no meio do nada um autocarro abandonado onde fica a residir.
Quatro meses depois, quando chega à fundamental conclusão de que a felicidade apenas pode existir quando partilhada com outros, tenta o regresso...
Pesado.