Tal
pena ter sido este o motivo para escrever sobre tão brilhante e
completo artista, um dos que ficará para a história da arte em
Portugal – a morte de Júlio Resende. Como é óbvio, e reforçado
pelo título, o seu trabalho perdurará, quer em acervos de muitos
institutos e coleções, quer pelos vários exemplos de arte pública
de grande qualidade e inovação que criou.
Nasceu
no início do século XX, em 1917, no Porto, tendo-se diplomado em
pintura em 1945, pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, e
partindo depois em 1948 para Paris e Madrid, onde continuou a sua
formação enquanto bolseiro do Instituto para a Alta Cultura.
Trabalhou
ainda como ilustrador em jornais, e realizou a sua primeira exposição
em 1946, em Lisboa. Em 1951, ainda radicado no Porto, ganha o prémio
especial na Bienal de São Paulo (Brasil).
Começa
depois a expor por vários países, sendo o tema dominante dos seus
trabalhos a gente do mar, influência da sua região de origem. Está
presente em Espanha, Bélgica, Noruega e Brasil, representando
Portugal em várias ocasiões, nas Bienais de Veneza, Londres ou
Paris.
Foi
professor do ensino secundário, e na década de 1960 enveredou por
projetos de arquitetura e de decoração, levando-o a trabalhar em
painéis, que o viriam agora a imortalizar.
Podem
se destacar os dois painéis do Hospital de São João e um conjunto
de painéis no Instituto Português de Oncologia do Porto. Em Lisboa,
o destaque vai seguramente para os painéis da estação de metro de
Sete Rios.
Mas
foi o gigantesco painel de azulejos intitulado “Ribeira Negra”,
junto à saída do tabuleiro inferior da Ponte D. Luís I, no seu
Porto natal, que se tornou o trabalho mais reconhecido, sendo
considerado por muitos como o melhor painel cerâmico contemporâneo
português.
Tem
sido muitas as manifestações de pesar, e serão certamente várias
as homenagens que justamente se preparam, desde os mais altos
representantes do estado, como o prudente Secretário de Estado da
Cultura, a vários artistas e amigos de todas as áreas.
Em
1993 criou-se a Fundação Júlio Resende – Lugar do Desenho, claro
está, na cidade do Porto. Contém um espólio de cerca de dois mil
desenhos do artista, onde, para além de exposições, se realizam
concertos, conferências, seminários e workshops em vários
domínios. A sua lógica é multidisciplinar, promovendo o diálogo
entre várias áreas das artes.
Esperemos
que seja uma continuação da vontade de ensinar e partilhar de Júlio
Resende, dando lugar permanente à experimentação e estimulação
dos jovens artistas portugueses.
Miguel
Rosa Costa