sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Pelo Tempo: "Júlio Resende Afinal Não Morreu" (Setembro de 2011)

Tal pena ter sido este o motivo para escrever sobre tão brilhante e completo artista, um dos que ficará para a história da arte em Portugal – a morte de Júlio Resende. Como é óbvio, e reforçado pelo título, o seu trabalho perdurará, quer em acervos de muitos institutos e coleções, quer pelos vários exemplos de arte pública de grande qualidade e inovação que criou.
Nasceu no início do século XX, em 1917, no Porto, tendo-se diplomado em pintura em 1945, pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, e partindo depois em 1948 para Paris e Madrid, onde continuou a sua formação enquanto bolseiro do Instituto para a Alta Cultura.
Trabalhou ainda como ilustrador em jornais, e realizou a sua primeira exposição em 1946, em Lisboa. Em 1951, ainda radicado no Porto, ganha o prémio especial na Bienal de São Paulo (Brasil).
Começa depois a expor por vários países, sendo o tema dominante dos seus trabalhos a gente do mar, influência da sua região de origem. Está presente em Espanha, Bélgica, Noruega e Brasil, representando Portugal em várias ocasiões, nas Bienais de Veneza, Londres ou Paris.
Foi professor do ensino secundário, e na década de 1960 enveredou por projetos de arquitetura e de decoração, levando-o a trabalhar em painéis, que o viriam agora a imortalizar.
Podem se destacar os dois painéis do Hospital de São João e um conjunto de painéis no Instituto Português de Oncologia do Porto. Em Lisboa, o destaque vai seguramente para os painéis da estação de metro de Sete Rios.
Mas foi o gigantesco painel de azulejos intitulado “Ribeira Negra”, junto à saída do tabuleiro inferior da Ponte D. Luís I, no seu Porto natal, que se tornou o trabalho mais reconhecido, sendo considerado por muitos como o melhor painel cerâmico contemporâneo português.
Tem sido muitas as manifestações de pesar, e serão certamente várias as homenagens que justamente se preparam, desde os mais altos representantes do estado, como o prudente Secretário de Estado da Cultura, a vários artistas e amigos de todas as áreas.
Em 1993 criou-se a Fundação Júlio Resende – Lugar do Desenho, claro está, na cidade do Porto. Contém um espólio de cerca de dois mil desenhos do artista, onde, para além de exposições, se realizam concertos, conferências, seminários e workshops em vários domínios. A sua lógica é multidisciplinar, promovendo o diálogo entre várias áreas das artes.
Esperemos que seja uma continuação da vontade de ensinar e partilhar de Júlio Resende, dando lugar permanente à experimentação e estimulação dos jovens artistas portugueses.
Miguel Rosa Costa