segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O Poeta Atlântico do Concretismo (e outras cousas, como a Mundividência ou a Perfeição).


"Emanuel Félix: Obra Completa. Poesia - Prosa - Vária" (2015)

Excelente iniciativa do Governo Regional, já no ido ano de 2015, onde se homenageou o trabalho de Emanuel Félix, com um trabalho de recolha e embelezamento étnico-poético por parte de Vasco Pereira da Costa.

São três volumes, Poesia, Prosa e Vária. Se o centro do seu trabalho reside da sua poesia, onde é um dos nomes maiores da língua portuguesa, também nos textos aqui reunidos conseguimos ver a sua ética, cuidado e interesse pela humanidade.

Obviamente uma forte tentativa de catapultar o nome de Emanuel Félix para um panorama nacional, que deve continuar a ser reforçada.

Um dos nossos clássicos.


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

A Netflix a dar-me música

            

What Happened, Miss Simone? (2015)

Chasing Trane: The John Coltrane Documentary (2016)

Miles Davis: Birth of the Cool (2020)


PS: Fez-me recordar os "5 Noites, 5 Filmes", da RTP 2


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Quintessencial YLT

 

Yo La Tengo - I Can Hear the Heart Beating as One (1997)

I Can Hear the Heart Beating as One é o oitavo álbum da incrível discografia dos Yo La Tengo, lançado em 1997 pela Matador. A melancolia é o tema central, com guitarradas muito pop, um baixo muito presente, e influências nítidas de música eletrónica, bossa-nova e krautrock.

Curiosamente foi o primeiro álbum dos Yo La Tengo a entrar em tops, neste caso da Billboard, tendo o disco recebido excelentes críticas de várias revistas e jornalistas, realçando o facto de explorarem ao máximo as fronteiras do pop.

Esta banda de referência do universo indie pop formou-se em New Jersey a meio da década de 1980, e são compostos pelos amigos Ira Kaplan (guitarra, piano e voz), Georgia Hubley (bateria, piano e voz) e James McNew (baixo e voz).

Nunca atingiu grande reconhecimento público ou entrou na vaga de sucesso mainstream, mas é considerada uma das bandas preferidas dos críticos de música dos EUA, pois deliciam-se com as pérolas musicais que produzem... No entanto servem de referência a inúmeros projetos musicais nos últimos 30 anos, assim como mantém um forte número de seguidores de nicho, de culto (como eu...).

Quintessencial.


sexta-feira, 30 de outubro de 2020

18 linhas de Berryman

 Dois poemas brutais, nas suas habituais 18 linhas, de John Berryman, retirados do livro "The Dream Songs" (Prémio Pulitzer Poesia em 1965), cuja vida, pessoal e literária, gira em torno do suicídio...


"145"

Also I love him: me he's done no wrong

for going on forty years -- forgiveness time --

I touch now his despair,

he felt as bad as Whitman on his tower

but he did not swim out with me or my brother

as he threatened --


a powerful swimmer, to    take one of us along

as company in the defeat sublime,

freezing my helpless mother:

he only, very early in the morning,

rose with his gun and went outdoors by my window

and did what was needed.


I cannot read that wretched mind, so strong

& so undone. I've always tried. I -- I'm

trying to forgive

whose frantic passage, when he could not live

an instant longer, in the summer dawn

left Henry to live on.



"235"

Tears Henry shed for poor old Hemingway

Hemingway in despair, Hemingway at the end,

the end of Hemingway,

tears in a diningroom in Indiana

and that was years ago, before his marriage say,

God to him no worse luck send.


Save us from shotguns & fathers’ suicides.

It all depends on who you’re the father of

if you want to kill yourself-

a bad example, murder of oneself,

the final death, in a paroxysm, of love

for which good mercy hides?


A girl at the door: ‘A few coppers pray’

But to return, to return to Hemingway

that cruel & gifted man.

Mercy! my father; do not pull the trigger

or all my life I’ll suffer from your anger

killing what you began.


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O Mestre Modernista Jacob Lawrence

 

The Businessmen (1947)

Tombstones (1942)

The Migration Series n.º 60 (1940-1941)

The Lovers (1964)

Strugles Series, N.º 16 (1956)

terça-feira, 20 de outubro de 2020

"O Segredo de um Cuscuz" - Comédia Dramática mas Fraternal

 

La Graine et le Mulet (2007)

Belo filme de Abdellatif Kechiche, tristemente traduzido para português para "O Segredo de um Cuscuz" - pois se fosse à letra a tradução seria o "grão e a tainha", referente a um prato tunisino de cuscuz com esse peixe, e que serve de metáfora gastronómica a todo o filme, que aborda o conceito de família, os seus rituais comunitários e a problemática integração na sociedade francesa onde estão e querem estar...

O realizador franco-tunisino Abdellatif Kechiche (Mektoub, Meu Amor e a Vida de Adèle) consegue mais uma vez contar uma história profunda, com carácter etnográfico e sociológico, usando o cinema como linguagem.

O cenário é a cidade costeira francesa de Sète, onde Slimani, um pai de família na casa dos sessenta, faz de tudo para sobreviver, e de uma certa maneira, gerir as tensões da sua complexa e movimentada família.

Conta com a representação de Habib Boufares, Hafsia Herzi e Farida Benkhetache, e é de facto uma comédia dramática mas fraternal, cheia de desesperos e reconfortos, onde Abdellatif Kechiche apresenta a sua experiência sábia, ambiciosa e realista, explorando temas pessoais e sociais.


terça-feira, 6 de outubro de 2020

Era só para falar dos TMBG...

Os ​They Might Be Giants (muitas vezes abreviados para TMBG) são um projeto musical de John Flansburgh e John Linnell, que ao longo dos anos ficaram conhecidos pelo seu estilo experimentalista e quase absurdo, recorrendo ao humor e ao exagero, como é disso exemplo os pouco convencionais instrumentos musicais que utilizavam.

Ao longo dos anos (formaram-se em 1982) obtiveram muito sucesso na cena do rock alternativo nos EUA, assim como nas rádios e roteiros universitários. Mas a sua criatividade e versatilidade, para mim, destaca-se pelo incrível sucesso que foram os seus três álbuns dedicados aos mais novos ("Here Come the ABCs", "Here Come the 123s", e "Here Comes Science"), tendo todos obtido o galardão de Disco de Ouro nos EUA (mais de 500 mil exemplares), que lhes levou a produzirem muito para televisão e cinema infantil.

Outro projeto de sucesso, nomeado inclusivamente para melhor partitura original nos Prémio Tony, foi "SpongeBob SquarePants: The Broadway Musical". Mas não se tornaram uma banda virada apenas para o público mais jovem, sendo mesmo considerados uma das referências das bandas DIY ("do it yourself"), imagem de marca da cena musical de Brooklyn nos anos 80. 

Neste percurso já lançaram 22 álbuns, tendo atingido a Platina com "Flood", ganho dois Grammy e vendido mais de 4 milhões de discos. Pessoalmente admiro muitos os dois primeiros discos:

They Might be Giants (1986)

Lincoln (1988)

Era só para falar dos TMBG...



quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Linhas, Cores e Formas

Seria simples demais considerar Ellsworth Kelly incrível e seminal... A explorar. Pintura, escultura e gravura. 

https://ellsworthkelly.org/


Ellsworth Kelly - Meschers (1951)


Ellsworth Kelly - Barnes Totem (2011)

Ellsworth Kelly - Blue Breen Red (1963)


Ellsworth Kelly - White Curves (2001)

Ellsworth Kelly - Colors for a Large Wall (1951)


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

 Lisa Congdon e Meg Mateo Ilasco - Art, Inc. (2014)

Curioso trabalho, num estilo de guia prático, na lógica das publicações de auto-ajuda, mas abordando algumas possibilidades de como um artista, ou artesão, pode originar algum rendimento, ou mesmo tornar-se auto-sustentável através da venda do seu trabalho ou serviço.

Conta com várias histórias e episódios de profissionais de referência e de várias áreas artísticas, com quem nos podemos identificar, mas também abordam muito a questão da motivação e confiança: "You don't have to starve to be an artist. Build a career doing what you love."

Se é que podemos fazer um resumo deste livro, acho que importa destacar 4 pontos:
1.- é fundamental ser autêntico!
2.- a melhor arte possui uma carga de autenticidade e traços do interior/ser do artista;
3.- a arte reflete a tua história e os eventos que te tornaram quem tu és;
4. - se copiamos alguém, não somos capazes de inovar.

Foi um exercício curioso.


quarta-feira, 11 de março de 2020

Urban Rural Pop Art Photo Design...

O incrível e seminal trabalho de Edward Ruscha.



 Edward Ruscha - 47 Large Trademark With Eight Spotlights, 1962

 Edward Ruscha - Daily Planet, 2003

 Edward Ruscha - Standard Station, 1966

 Edward Ruscha - Whiskey A-Go-Go (Sunset Strip Portfolio), 1995

Edward Ruscha - Hope, 1998

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Estreia de filme

A Associação Cultural Burra de Milho estreia no próximo dia 18 de Janeiro de 2020, pelas 18h00, na Recreio dos Artistas, o documentário "Esse Mundo Fora do Mundo", que conta com o apoio do Governo dos Açores e da Azores Airlines, assim como a parceria do Cineclube da Ilha Terceira.

Este filme teve origem num projeto de divulgação do cinema açoriano pelas comunidades emigradas (“Amostram´isse”) que decorreu entre 2013 e 2018, e mais especificamente pela passagem nessa região dos Estados Unidos, onde pudemos constatar toda a paixão e dedicação de algumas pessoas e entidades em relação a Portugal e aos Açores, às suas memórias, cultura e identidade.

Aborda a perspetiva de alguns elementos da comunidade emigrante portuguesa da Nova Inglaterra, maioritariamente açoriana, através de um discurso direto, onde se pretendeu captar um momento na vida e história deste grupo de pessoas.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Pelo Tempo: "Que Música nos Deu 2011" (Janeiro de 2012)

(…) Assim, a haver um álbum do ano, só poderia ser “Let England Shake”, de PJ Harvey, sendo referenciado em quase todos as listas dos órgãos de comunicação social da área, e em alguns deles como número um. Polly Jean arrasou de novo, mostrando um coração enorme, sempre com uma atitude lutadora.
Estatisticamente, o álbum que apresento em 2º ficou realmente em 3º, mas gosto mais! Trata-se do disco homónimo dos Bon Iver, para mim o seu melhor trabalho até agora: angelical, fácil de entender e com letras para ouvir várias vezes…
E agora, em 3º, o 2º classificado: “21”, de Adele. Poderoso disco, de grande impacto comercial, acabando de vez com as comparações iniciais a Amy Winehouse. Som profundo, num piano pesado e sofredor.
A seguir, destaque para o segundo álbum dos tUnE-yArDs, “w h o ki l l”, banda e disco com nomes estilizados, que antecipam a intensidade e criatividade do projeto, misturando folk, funk, afro-pop e rock, apoiados na poderosa voz de Merrill Garbus. Gostei, mas tenho que ouvir mais.
No trabalho de St. Vincent, “Strange Mercy”, vem ao de cima toda a poética e criatividade de Annie Clark, onde com uma bela voz e uma melodia quase inocente, nos conta pesadas histórias de amor, dor e confusão.
Em sexto lugar, temos uma espécie de estreia, embora seja o segundo álbum, e ambos lançados pelos próprios: “House of Balloons”, dos The Weeknd. A vogal que parece faltar já tinha mexido comigo antes, instigando-me curiosidade. O seu som parece uma mistura antiga, com técnica futurista…Difícil parar de ouvir. Também tenho que explorar mais.
Por oposição a álbuns de estreia, seguem-se dois consagrados nomes: Jay-Z e Kanye West, que poucos meses depois de editarem magníficos trabalhos em nome individual (sendo o 2º, para mim, o disco do ano em 2010), juntaram-se em “Watch the Throne”, numa já habitual atmosfera de crítica social, política e económica. Parece feito “às três pancadas”, mas quando se juntam estes dois o resultado apenas pode ser fenomenal!
Em oitavo, nova presença norte-americana, com o aparentemente desatualizado som folk-rock dos Fleet Foxes, com o álbum “Helplessness”. Poderosa harmonia que consegue identificar esta banda com o som independente americano. A ouvir melhor.
A próxima referência, “Black Up”, do projeto Shabazz Palaces, encontra-se no submundo do hip-hop experimental, com fortes influências de jazz e eletrónica, mas editado por uma editora de bandas independentes… Só mesmo ouvindo e percebendo o que estou a descrever.
A acabar uma pseudo-lista de álbuns para 2011, fica a deliciosa referência ao trabalho “David Comes to Life”, dos revivalistas punk canadianos Fucked Up, apresentando-nos um disco duplo conceptual de 80 minutos, retratando a vida de um operário fabril chamado David numa verdadeira opera rock. Pesado e longo, mas marcante.
Resta-me referir, a título mais pessoal, os álbuns dos Destroyer (“Kaputt”), dos Wild Flag (“Wild Flag”) e de Kurt Ville (“Smoke Ring For My Halo”), e acima de tudo, o novo trabalho de Stephen Malkmus, sem o brilho dos magníficos Pavement que liderou nos anos 90, mas é sempre bom ver alguém que admiramos gravar novo álbum, e com a qualidade desejada, como é o caso deste “Mirror Traffic”.
Em jeito de conclusão, e em comparação com artigo do mesmo género que escrevi o ano passado, pode observar-se uma maior aproximação a um som mais mainstream, mais comercial, por parte da crítica musical. Pode também ser um sinal dos tempos, com anos mais experimentalistas do que outros. (...)

PS. Todos os anos me divertia imenso a fazer estas listas, mas cada vez me encontro mais assoberbado com os inúmeros novos projetos que saem, revisitações a clássicos pouco explorados e descobertas constantes à base de muitos amigos musicais… “No more” listas.