quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Ensaio e Criatividade - "A Fábrica de Nada"

A Fábrica de Nada (2017)

Grande filme de Pedro Pinho, numa pesada experiência sobre a profundidade das emoções e dos dilemas do dia-a-dia de um conjunto de portugueses, bastante criativo e reflexivo, talvez pecando apenas por ser um pouco longo, mas a essência está lá...

Ao abordar a história de um grupo de operários fabris que não têm outra solução senão embarcarem numa solução de auto-gestão da sua fábrica devido a abandono pelos patrões, Pedro Pinho, que se baseia numa história real passada numa fábrica de elevadores OTIS em Portugal, logo após o 25 de Abril de 1974, vai pegar numa ideia de Jorge Silva Melo e criar um filme-ensaio sobre a crise e como a humanidade lida com ela, ao mais pequeno nível...

O filme tem tido críticas mistas, mas são de realçar os prémios já recebidos, em Cannes (Prémio da Federação Internacional de Críticos de Cinema) e em Munique (Prémio CineVision de Melhor Novo Filme), assim como a indicação para o Prémio Espírito da Liberdade no Festival de Jerusalém.

A ver!


quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Um Dia Feliz...

Lançamento do meu livro "Políticas Culturais nos Açores", numa edição da Associação Cultural Burra de Milho, realizada no Auditório do Museu de Angra do Heroísmo, no passado dia 2 de Dezembro.

Obrigado a todos, os que tornaram possível, os que tiveram presentes, e aos do costume.





sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Pelo Tempo: "Júlio Resende Afinal Não Morreu" (Setembro de 2011)

Tal pena ter sido este o motivo para escrever sobre tão brilhante e completo artista, um dos que ficará para a história da arte em Portugal – a morte de Júlio Resende. Como é óbvio, e reforçado pelo título, o seu trabalho perdurará, quer em acervos de muitos institutos e coleções, quer pelos vários exemplos de arte pública de grande qualidade e inovação que criou.
Nasceu no início do século XX, em 1917, no Porto, tendo-se diplomado em pintura em 1945, pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, e partindo depois em 1948 para Paris e Madrid, onde continuou a sua formação enquanto bolseiro do Instituto para a Alta Cultura.
Trabalhou ainda como ilustrador em jornais, e realizou a sua primeira exposição em 1946, em Lisboa. Em 1951, ainda radicado no Porto, ganha o prémio especial na Bienal de São Paulo (Brasil).
Começa depois a expor por vários países, sendo o tema dominante dos seus trabalhos a gente do mar, influência da sua região de origem. Está presente em Espanha, Bélgica, Noruega e Brasil, representando Portugal em várias ocasiões, nas Bienais de Veneza, Londres ou Paris.
Foi professor do ensino secundário, e na década de 1960 enveredou por projetos de arquitetura e de decoração, levando-o a trabalhar em painéis, que o viriam agora a imortalizar.
Podem se destacar os dois painéis do Hospital de São João e um conjunto de painéis no Instituto Português de Oncologia do Porto. Em Lisboa, o destaque vai seguramente para os painéis da estação de metro de Sete Rios.
Mas foi o gigantesco painel de azulejos intitulado “Ribeira Negra”, junto à saída do tabuleiro inferior da Ponte D. Luís I, no seu Porto natal, que se tornou o trabalho mais reconhecido, sendo considerado por muitos como o melhor painel cerâmico contemporâneo português.
Tem sido muitas as manifestações de pesar, e serão certamente várias as homenagens que justamente se preparam, desde os mais altos representantes do estado, como o prudente Secretário de Estado da Cultura, a vários artistas e amigos de todas as áreas.
Em 1993 criou-se a Fundação Júlio Resende – Lugar do Desenho, claro está, na cidade do Porto. Contém um espólio de cerca de dois mil desenhos do artista, onde, para além de exposições, se realizam concertos, conferências, seminários e workshops em vários domínios. A sua lógica é multidisciplinar, promovendo o diálogo entre várias áreas das artes.
Esperemos que seja uma continuação da vontade de ensinar e partilhar de Júlio Resende, dando lugar permanente à experimentação e estimulação dos jovens artistas portugueses.
Miguel Rosa Costa

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Thievery Corporation - Música "Mundial"

Thievery Corporation - The Mirror Conspiracy (2000)

The Mirror Conspiracy foi o segundo álbum dos Thievery Corporation, duo composto por Rob Garza e Eric Hilton, originários de Washington D.C. (EUA). É um álbum fantástico e que os catapultou para o reconhecimento internacional, sobretudo pela utilização das músicas "Lebanese Blonde" e "Indra" nos filmes Garden State e Vanilla Sky, respetivamente.

Até hoje continua a ser o seu disco mais vendido nos EUA, embora sejam reconhecidos por todo o mundo, com destaque para a cena downtempo e chillout europeia, devido principalmente ao seu estilo musical muito variado, com elementos desde a bossa nova ao jazz, passando pelo dub, reggae e hip hop.

Além do seu som culturalmente transversal, é de realçar o seu papel no ativismo político na última década, onde se destaca o seu trabalho na luta contra a fome mundial, ou ainda a participação em grupos de oposição à Guerra do Iraque.


segunda-feira, 7 de agosto de 2017

"Spotlight" - Ética e Coragem

O Caso Spotlight (2015)

Drama de cariz biográfico, o filme foi realizado por Tom McCarthy, que também o escreveu em conjunto com Josh Singer, e contou com um conjunto de excelentes atores, como Mark Ruffalo e Michael Keaton.

O filme aborda a investigação jornalística levada a cabo pelo jornal Boston Globe sobre abusos sexuais e pedofilia na Igreja Católica em Boston, levada. A investigação foi liderada por Michael Rezendes (Mark Ruffalo), filho de açorianos emigrantes nos EUA, que inclusivamente ganhou o Prémio Pulitzer por essa história (o mais prestigiante no mundo do jornalismo).

O filme teve uma boa receção, sendo mesmo indicado a seis Óscares, tendo vencido dois: Melhor Filme e Melhor Argumento original.

Um filme sobre ética, coragem e resiliência.


segunda-feira, 17 de julho de 2017

Pelo Tempo: "Mais Cultura. Mais Democracia." (Setembro de 2011)

Mais Cultura. Mais Democracia.

Felizmente ao longo dos últimos anos, principalmente a partir dos anos 90, os governos e a sociedade tem vindo a olhar para a arte e cultura em geral com outros olhos, compreendendo o seu papel e importância para o desenvolvimento socioeconómico das comunidades modernas.

Passou a perceber-se e a aceitar que é uma área com regras próprias, com as suas condutas, as suas especificidades, levando a que as pessoas que nela estão envolvidas se vão tornando especialistas ou conhecedoras dessas suas características.

Existe um número cada vez maior de profissionais da cultura, que se formam, trabalham e aprendem diariamente com atividades que consideramos culturais. Desde os programadores culturais, aos responsáveis pela logística, passando pelos técnicos de som e luz, e aos artistas, evidentemente, representando um extenso grupo profissional, e que muito tem batalhado pelo seu reconhecimento legal.

E um dos aspetos mais importantes em toda a atividade em torno da arte e cultura, por parte dos artistas e restantes agentes, é a sua democratização, ou seja, torná-la acessível a todos, promovendo valores culturais humanistas e críticos.

E é com base na participação popular, da sociedade civil, que essa democratização tem de evoluir, pois se as grandes decisões relacionadas com as políticas culturais centrais são da responsabilidade dos governos (centrais e regionais), é sobre a esfera pública que recai a responsabilidade da iniciativa e criatividade em eventos, momentos e intervenções, com destaque óbvio para as associações culturais e cooperativas.

Quanto mais os eventos e os trabalhos artísticos se aproximarem das pessoas, quanto mais “fácil” for ao público conhecer e compreender os trabalhos apresentados, mais pensaremos e questionaremos os aspetos importantes da vida, originando uma discussão permanente tendo em vista uma melhoria das condições civilizacionais. Assim, quanto mais acesso à cultura, melhor democracia.

Angra do Heroísmo, Setembro de 2011 


Miguel Rosa Costa


terça-feira, 4 de julho de 2017

Pixies - Doolitle - Seminal

Pixies - Doolitle (1989)

Este foi o segundo álbum dos Pixies, em 1989, já pela mítica 4AD. Embora a temática lírica e conceptual seja bastante pesada, abordando desde a violência bíblica, tortura ou surrealismo, o som ganhou uma maturidade e limpidez que tornaram este "punk-rock" bastante audível e passando uma mensagem clara - que pode ter tido a haver com o lançamento internacional do disco, o primeiro fora dos Estados Unidos.

"Here Comes Your Man" e "Monkey Gone to Heaven" são dois clássicos da banda que surgiram neste disco, tendo atingido várias tabelas de tops, sendo que pelo lado da crítica, os temas de referência sejam talvez "Debaser", "Wave of Mutilation" ou mesmo "Hey".

Este é mais um importante disco da história da música de cariz mais alternativo e do rock contemporâneo, servindo de influência a milhares de jovens músicos. Numa votação da NME (New Music Express), foi considerado o 2º melhor álbum de rock de sempre...

Seminal, obrigatório, clássico...



segunda-feira, 17 de abril de 2017

The Help - uma história emocinante

The Help (2011)

Filme realizado por Tate Taylor e baseado no livro homónimo de Kathryn Stockett, é mais um exercício sobre o racismo vivido nos Estados Unidos da América na década de 1960. A história passa-se em Jackson, no estado de Mississippi, em plena época do conhecido movimento dos direitos cívicos neste país.

A temática recai sobre as empregadas domésticas de origem africana, na sua relação com as "patroas" e uma história sobre uma jovem "caucasiana" que pretende ser jornalista, que acaba por editar e publicar o livro que dá origem ao filme...

Conta com um elenco poderoso, principalmente no que diz respeito a atrizes femininas, como Emma Stone, Viola Davis, Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain ou Sissy Spacek - que conquistou para o filme o prémio para melhor elenco em cinema no Screen Actors Guild Awards. Destaque maior ainda para Octavia Spencer, que acabou mesmo por ganhar vários prémios como melhor atriz secundária, assim como o prestigiante Óscar.

É um excelente filme, mesmo podendo ser criticáveis alguns clichés sobre o estereótipo de homem e mulher afro-americanos...




sexta-feira, 7 de abril de 2017

Pelo Tempo: "Jornalismo Cultural?" (Agosto de 2011)

Podemos generalizar que, em jornalismo, a crítica cumpre uma função de comentário sobre um determinado tema, geralmente sobre a esfera artística, tendo por objetivo informar o leitor não só da existência ou ocorrência do evento, mas também fazendo uma avaliação sobre esse momento.
Em meios de grande impacto da economia da cultura, como grandes cidades produtoras, podem os críticos ser o início ou o fim da carreira de um artista, com o poder das suas palavras. 
Os críticos de arte geralmente criticam os trabalhos num contexto de estética e da teoria da beleza, sendo um dos seus objetivos principais a perseguição de uma base racional para a apreciação da arte em geral.
Já no distante ano de 2005, realizou-se um colóquio sobre jornalismo cultural na ilha Terceira, intitulado “A Cultura Depois da Notícia”, numa iniciativa da Casa da Cultura da Terceira e do IAC (Instituto Açoriano da Cultura), no Palacete Silveira e Paulo, sob a égide da Direção Regional da Cultura. Contou com os convidados José Manuel Rodrigues e Luciana Leiderfarb, duas individualidades com muito para partilhar nas lides do jornalismo cultural, ao que atenderam vários profissionais da comunicação social, numa lógica da promoção da discussão pública em domínios diversos da atividade criativa com impacto social.
Infelizmente, a questão que motivou a realização deste colóquio continua atual, nomeadamente, a constatação de que não existe uma cobertura justa dos imensos eventos de cariz cultural que acontecem na região, ou mais especificamente, na Terceira e em São Miguel.
Se existe de facto uma boa divulgação, que provavelmente depende mais dos promotores dos eventos do que da comunicação social per si, assim como consegue existir alguns episódios de notícia sobre o evento decorrido, raramente acontece com uma perspetiva de jornalismo cultural ou crítica artística.
Não podemos exigir aos nossos órgãos de comunicação social, principalmente com as grandes dificuldades que passam, que tenham nos seus quadros jornalistas especializados e qualificados nesta área em particular. Mas pode e deve haver uma discussão pública sobre o assunto, uma estratégia que leve à correção desta lacuna, e mesmo um espírito de missão com uma lógica de formação de profissionais também neste sentido, e não apenas com esta especialidade.
O evento cultural, e aliás, todo o processo criativo, depende também da boa cobertura jornalística, quer com a componente de divulgação, valorização do trabalho, e discussão da sua importância social.
Torna-se necessário aqui um pequeno parêntesis, pois a área cultural sofre muito do seguinte problema: todos julgam que percebem de arte e de cultura! Mas a arte e cultura não são só entretenimento, esse sim de cariz popular e destinado a divertir, socializar e envolver as pessoas. Como todas as áreas profissionais do mundo, exige muito conhecimento, formação, experimentação e, acima de tudo, contacto com os profissionais, os artistas e o seu trabalho.
Assim, não se pode obrigar a um jornalista, credenciado ou estagiário, que vá assistir a uma peça de dança contemporânea e consiga escrever um texto quase de caráter ensaísta, ou pelo menos, com conteúdo crítico, pois não tem conhecimento sobre o que ali se passou: não está habituado a ver espetáculos de dança; não conhece o coreógrafo nem os bailarinos, e provavelmente nem terá muita vontade de ir assistir ao evento…
Deve-se dar início a um hábito de assistência aos eventos da nossa ilha e região, começando a perceber o mundo específico das artes, talvez com algum estagiário, como referido acima, desenvolvendo conhecimento e apetite pela discussão.
Poderá também, se necessário, recorrer-se ao apoio das entidades competentes, numa saudável parceria com a sociedade civil e órgãos de comunicação social, não esquecendo as redes sociais e os blogues, talvez os principais produtores do que se poderá chamar uma crítica cultural atualmente nos Açores. Mais recentemente tem aparecido alguns textos com muita qualidade em alguns jornais da região, principalmente em São Miguel, inserido talvez na crescente dinâmica cultural tem atingido em Ponta Delgada nos últimos 10 anos.
Não é fácil definir “jornalismo cultural”, mesmo em termos académicos e discussão entre profissionais raramente se chegarão a conclusões fortes, embora existam algumas tendências e percursos a destacar nos principais órgãos de comunicação social.
A televisão domina em todas as áreas, com um efeito devastador para a imprensa, geralmente mais minuciosa nesta área de intervenção e sem hipóteses de concorrência ao nível do impacto da publicidade. Mesmo assim podemos destacar alguns casos da imprensa escrita, como os suplementos “Y” e “Mil Folhas” do jornal Público, ou o “DNA” do Diário de Notícias, entre outros. A principal referência nacional vai obviamente para o Jornal de Letras, resistindo desde 1981 como o único jornal exclusivo ao tema da cultura, embora a sua qualidade seja exceção, pois assiste-se genericamente a uma aproximação crescente entre puro jornalismo cultural (informação e opinião) com a promoção do evento em questão.
A lógica dos “press-releases” (ou comunicados de imprensa) comanda a lógica atual da informação cultural, encontrando-se os órgãos de comunicação social subordinados à agenda de eventos e às indústrias culturais, numa clara atitude de divulgação – o que não é mau, mas está longe de ideal.
Nos Açores existe apenas um jornal também exclusivamente dedicado à cultura, o Feedback 100%, mas gostaria de destacar, numa perspetiva mais específica do mundo das artes, a revista Fazendo (Associação Cultural Fazendo, Horta) e a fanzine TRANSFORM│AR.TE (Associação Cultural Burra de Milho, Angra do Heroísmo).
Queria para concluir, voltar a referir a importância dos blogues neste movimento de discussão artística e desenvolvimento social, assim como fazer as obrigatórias referências históricas e institucionais à Revista Atlântida (Instituto Açoriano de Cultura) e aos Boletins do Instituto Cultural de Ponta Delgada e Núcleo Cultural da Horta.

Miguel Rosa Costa
http://aviventar.blogspot.pt/


quarta-feira, 29 de março de 2017

Lamb (Barlow and Rhodes)

Lamb - Fear of Fours (1999)

Mesmo sendo os Lamb uma banda de referência da cena musical eletrónica da Inglaterra do trip-hop e drum & bass, nunca conheceram grande sucesso financeiro e popular. Este foi o seu álbum com mais sucesso a nível de vendas e de visibilidade, chegando mesmo aos TOP 40 dos EUA e Reino Unido (1999).

Esta dupla vem da cena de Manchester, com Andy Barlow (música e mistura) e Lou Rhodes (voz), conhecidas personalidade da cena eletrónica, e que curiosamente tem uma extrema popularidade em Portugal, muito maior do que no resto da Europa (fazendo lembrar os fenómenos dEUS e Sigur Rós), e isto principalmente pelos êxitos "Gorecki" e "Gabriel".

Paralelamente ambos os criadores tem passado por projetos individuais, alguns de bastante sucesso, como o caso da carreira de Lou Rhodes a solo, com algumas nomeações e prémios internacionais, e tendo lançado um álbum juntos após anos de interrupção em 2014 (Backspace Unwind).

Brutais e Seminais!







quinta-feira, 2 de março de 2017

Juno - Um clássico alternativo...

Juno (2007)

Divertido filme de Jason Reitman, que ganhou o Óscar de Melhor Argumento em 2007, que se desenrola-se em torno da temática da gravidez na adolescência, neste caso, de uma jovem de 16 anos (Ellen Page) que engravida de um colega de liceu (Michael Cera) e decide ter o bebé - contando para o efeito com a ajuda da família e amigos, e com vista a entregar a criança para adoção.

Tem a feliz particularidade de ter tido um custo de 7,5 milhões de dólares, e de ter atingido um lucro de 230 milhões de dólares, partindo nitidamente do "low cost" para o "high profit"... Foi de facto um sucesso nas bilheteiras, na opinião pública em geral e na crítica em particular, o que lhe levou a várias nomeações e conquistas de prémios da indústria.

E mais! A banda sonora é fantástica, contando com a participação de vários artistas, como os Belle & Sebastian, Cat Power, Sonic Youth, The Velvet Underground, e acima de tudo Kimya Dawson, pelo ambiente criado para o álbum. Atingiu inclusive o número 1 em algumas listas, como o caso da norte-americana Billboard.

Um clássico alternativo...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Pelo Tempo: "Indústrias Culturais e Criativas" (2015-05-30)


- A discussão em torno das indústrias culturais e criativas começa agora a estar mais acesa nos Açores. No entanto, a aposta neste setor – também económico! – é ainda bastante residual. O que é que falta, na sua opinião, para que haja nos Açores um efetivo desenvolvimento destas indústrias?

Num conceito atual de Indústrias Culturais e Criativas (ICC), temos uma combinação de situações, onde a criatividade é condição nuclear para o negócio, sendo no entanto a sua origem cada vez mais vocacionada para a inovação, competências e talento individual, potenciando assim a criação de trabalho e riqueza, numa época tão complexa e de crise como os dias de hoje, valorizando a propriedade intelectual. Partindo dessa definição objetiva e simplista, sempre houve na região vários exemplos de ICC de sucesso, como editoras, galerias de arte ou ateliês de arquitetura. Na minha opinião, o que se passa atualmente na região é essas empresas não conseguem obter valorização por parte da sociedade, tendo grandes dificuldades para se imporem. É observável uma falta de experiência profissional, pois trata-se de um setor em que os profissionais são muito jovens e recentemente licenciados. Por outro lado é notória a falta de conhecimento em questões de gestão financeira e estratégica de comunicação – talvez os aspetos fundamentais a trabalhar atualmente.

- Será, aliás, realista pensar na criação de um setor de indústrias culturais e criativas nos Açores? As dificuldades decorrentes da insularidade podem dificultar este processo?

Como referi, o setor já existe, e fortemente influenciado pela insularidade, como toda a nossa sociedade – ou até se calhar menos, pois estamos a falar de uma área com uma forte componente tecnológica, estando atualmente o mundo todo ligado. O problema da distância talvez se observe mais no facto de não se poder reunir pessoalmente com alguns clientes ou parceiros. Por outro lado, num hipotético projeto em rede ao nível regional, são várias as experiências que demonstram que tal ainda não é possível, pois as ilhas ainda estão muito viradas para dentro. Ainda numa terceira perspetiva, e assumindo as dificuldades decorrentes desta nossa localização e distribuição geográfica, é de salientar o papel das autarquias, pois poderão potenciar muitos projetos a nível local, e mesmo de cariz intermunicipal.


- Qual tem sido o papel dos agentes culturais da Região no sentido de clarificar este conceito e de impulsionar o desenvolvimento deste setor?

Nos últimos anos muitos projetos que provavelmente seriam catalogados de “apenas artísticos”, embarcaram em aventuras empresariais, passando assim a estarem claramente englobados neste setor económico das ICC. Não existe aqui problema nenhum, aliás, quanto mais criativo e original, melhor correrá o projeto, e mais forte será a sua identidade. Na região o papel dos agentes culturais tem sido então muito importante, pois é um setor com sensibilidade para estas questões, e acaba muitas vezes por ser o principal cliente e parceiro dos profissionais da área. Não existindo quem faça uma mediação entre o trabalho artístico e um projeto de gestão, acabamos muita vez por sentir necessidade de ter um certo papel de consultoria e apoio a muitos jovens que nos procuram.


- As instituições e o Estado tiveram e têm, no continente, um papel central na dinamização das indústrias culturais. Qual terá de ser, nos Açores, a estratégia a adotar? Universidade e Governo Regional serão dois pilares essenciais neste domínio?

Acho que sim. Mesmo abordando um setor onde a iniciativa privada e o empreendedorismo são as palavras-chave, acredito que pode existir espaço para uma entidade, de cariz associativo (privado ou público), que sirva de complemento às atividades de gestão e comunicação das várias ICC, agindo como uma plataforma de informação legislativa, divulgação de atividades, apoio técnico e mesmo representatividade. Além do Governo e da Universidade, devemos acrescentar um conjunto alargado de agentes culturais, câmaras do comércio e indústria e as autarquias, principalmente se inserirmos na discussão a importância das incubadoras de ICC, como serve a região Norte do país de bom exemplo.

Nota: Entrevista ao Diário Insular, 2015-05-30



terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Portuguese Fusion

Wraygunn - Ecclesiastes 1.11 (2004)

Rock e Soul da sempre inspirada e acelerada cabeça de Paulo Furtado, é o resumo deste álbum, chegando mesmo a abrir as portas fora de Portugal à banda de Coimbra. Excêntrico q.b., pode mesmo ser o trabalho que define a imagem de marca deste projeto.

A fusão do blues, gospel, rock e soul, todos de base americana, são complementados ainda com o hip hop ou funk, resumindo o som desta criativa banda portuguesa.

Este foi o terceiro dos cinco álbuns da banda, que conta ainda com a colaboração de Raquel Ralha, Selma Uamusse, Sérgio Cardoso, Francisco Correia, Pedro Pinto e João Doce.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Do Inferno vem a Arte...







Nascida em 1981 em Alepo - Síria. Do Inferno vem a Arte...
Fantástica jovem artista, com esculturas bastante personalizadas e únicas.

http://www.dianaalhadid.com/


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

The Lady

The Lady in the Van (2015)​

Esta comédia dramática de 2015, do realizador Nicholas Hytner, conta-nos a história verídica de Mary Shepherd, uma senhora que vive na sua carrinha, que ficou estacionada por 15 anos na entrada da casa do argumentista do filme, Allan Bennett.

Bem recebido pela crítica, e com a atuação e presença brilhante de Maggie Smith, trata-se de um filme ternurento, que nos faz olhar para as pequenas coisas do mundo.

Num dia de chuva, à noite, em casa - sabe bem.


terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Pelo Tempo: "Amostram’isse PDL" (2013-10-12)

Decorreu entre 2 e 5 de outubro a exibição do “Amostram’isse” – Mostra de Cinema dos Açores, desta vez em Ponta Delgada, depois da visita a Angra do Heroísmo e Horta. Este evento, organizado pela Associação Cultural Burra de Milho, nasceu com o intuito de promover o cinema realizado e produzido nos Açores, com destaque para os filmes de jovens realizadores açorianos.
Até ao momento já assistiram cerca de 500 espetadores à mostra, tendo para esse número muito contribuído a exibição em São Miguel, onde se constatou que este projeto tem vindo em crescendo, e acima de tudo, tornando-se conhecido do público, quer do mais ligado ao cinema, quer ao nível geral.
É naturalmente com orgulho que muitos dos espetadores tem saído das sessões, deslumbrados com os filmes que acabaram de ver, primeiro por terem de facto qualidade, e segundo, por serem realizados e produzidos nos Açores e por açorianos.
O conjunto de filmes que tem sido exibido tenta congregar o que foi feito nos últimos dois ou três anos na região, com uma opção deliberada de ser o mais eclética possível, com exemplos de ficção e documentário, em curtas e longas-metragens.
Sempre que possível, têm estado presente antes da exibição dos filmes, os realizadores, produtores ou atores dos mesmos, o que confere um ambiente especial e acolhedor para o espetador, assim como dá a hipótese ao realizador que acrescentar algo à exibição do seu projeto.
Tem-se vindo a assistir, conforme a organização do evento, a uma onda de interesse em torno do cinema feito nos Açores, gerando alguns convites para exibição, assim como, por outro lado, o contacto por parte de vários realizadores e produtores que já filmaram nos e sobre os Açores, ou que isso pretendem.
De seguida vem a exibição em Lisboa, entre 14 e 18 de novembro, no Cinema City Classic Alvalade, o atual ponto de referência para cinema de qualidade em Lisboa, congregando-o com o comercial cinema de Hollywood, em salas modernas e recentemente melhoradas. Espera-se também que seja um momento de reflexão sobre o cinema na região, sobre a arte em geral, e de uma certa maneira, com a açorianidade de Nemésio por pano de fundo.
Foi também assinado recentemente um protocolo entre a Direção Regional da Juventude (promotor desta mostra) e a Casa dos Açores do Norte, com vista à exibição da mostra no Porto, em fevereiro de 2014. Ainda antes disso deverá ser anunciada a exibição em mais três ilhas do arquipélago, num formato reduzido, assim como se encontra em fase de negociações uma possível ida aos Estados Unidos e Canadá. Assim, além de uma “nacionalização” dos filmes realizados nos Açores, teremos também a sua internacionalização, preferencialmente junto de públicos estrangeiros, não esquecendo no entanto as populações emigradas.

Nota: os "inícios" do "Amostram'isse"...