quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Pelo Tempo: "Alternativo, Vaudeville, Burlesco…" (2012-03-31)

Em jeito de continuação do último artigo referente à “Música Alternativa”, o Vaudeville era um género de entretenimento muito comum nos Estados Unidos e Canadá no fim do século XIX e início do século XX, com origens variadas e aconteciam geralmente à noite, com músicos, dançarinos, mágicos ou acrobatas, palestras e até atletas.
O Vaudeville está de facto de volta, pelo menos a estética em torno dele, ou a ideia que fazemos dessa estética. A teatralidade dos espectáculos musicais é um dos aspectos mais atraentes para os fãs, quer ao vivo, quer na imagem que depois mantêm. Só que agora em vez das famosas cobras vivas em palco tipo Ozzy Osbourne ou Alice Cooper, temos um jovem artista de camisa branca, calça e colete preto, com um velho chapéu típico dos anos 20, sentado num banco, tocando banjo e cantando com muita intensidade e lirismo…
Se num dia nos apetece algo movimentado e cheio de acção, com fogo-de-artifício e explosões, mas no seguinte já queremos algo mais reflectivo, ou mesmo com questões políticas à mistura, temos isso no Vaudeville, com múltiplos planos de entretenimento, misturando circo, igreja e cabaré se necessário. Um bom exemplo disso é a banda Vagabond Opera, que atua ocasionalmente em Portugal.
Numa perspectiva talvez mais agressiva, certamente mais provocadora, surge também o ressurgimento da estética burlesca. Não são apenas stripers num palco, mas um género directamente descendente da Commedia dell’arte, uma performance de improviso, extremamente popular nos séculos XV e XVII em Itália.
Mas é no século XIX que o Burlesco surge em força, novamente nos Estados Unidos e Canadá, em pequenos teatros de entretenimento popular, com música, trapezistas, ventríloquos e outros. Nestes espaços podia-se consumir álcool, fumar, estar de pé e falar no tom que apetecesse, criando um ambiente mais popular do que nos tradicionais teatros.
Sobreviveu com alguma intensidade até aos anos 50 e 50 do século passado, mas com a emergência da televisão e do rock, acabou por perder a sua lógica, deixando no entanto um enorme legado e influência estética.
E o revivalismo que se vive desde os anos 90 destas duas linguagens tem também a sua origem, obviamente, nos Estados Unidos, nomeadamente em Nova Iorque, São Francisco e Los Angeles, desde o striptease artístico, com o destaque para a diva mundial Dita Von Teese, mas também humor negro ou cabaré, reforçado recentemente com o filme “Burlesque”, com Cher e Christina Aguilera. Na música temos referências, quase todas elas já aplaudidas em Portugal, como as CocoRosie, Devendra Banhart ou Ditty Bops.

Variedade e criatividade não faltam…

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Basta Estar Lá - E Peter Sellers...

​​Being​ There (1979)

Esta comédia retrata a vida de Chance, um simples jardineiro, que nunca abandonou a casa do seu patrão, e que conhece o mundo apenas através da televisão.

Realizado por Hal Ashbye e com argumento de Jerzy Kosinski, cujo texto que arrecadou alguns prémios de destaque na Inglaterra e Estados Unidos. 

Conta no elenco com várias estrelas, com Shirley MacLaine e Jack Warden, mas o destaque do filme vai todo para Peter Sellers, com uma excelente performance, sendo mesmo o último filme a ser estreado antes da sua morte.

Chance não sabe ler nem escrever. É relativamente ingénuo (para ser simpático)​. Quando o seu patrão morre, e após ser obrigado a deixar a casa onde sempre viveu, é atropelado por um milionário, do qual rapidamente se torna amigo - sendo a partir daí considerado um homem genial, onde tudo o que diz transporta a sabedoria do mundo!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Pavement - já está tudo dito...

Pavement - Crooked Rain, Crooked Rain (1994)

Já suficientes vezes referenciei os Pavement como uma das bandas mais importantes e marcantes da minha vida, permitindo-me acima de tudo abrir os horizontes para um tipo de som fora do mainstream, sincero, sentido, poético e criativo. 

Neste caso, com base no movimento alternativo e estudantil norte-americano de início da década de 90, época da qual se destaca este trabalho, pela Matador Records, tendo sido reeditado em 2004, e sendo visto pelos órgãos de comunicação social especializados em música como um dos principais álbuns da década de 90.

Foi este o disco que fez os Pavement passarem a um patamar de projeção nacional, com um som mais "mainstream rock", com o destaque para o moderado sucesso do single "Cut Your Hair", atingindo também a banda algum reconhecimento na Europa.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

LABMEETING 2013


O LABJOVEM – Concurso de Jovens Criadores dos Açores 2013 entra na sua fase de LABMEETING, de 6 a 8 de Dezembro, com as reuniões dos júris que seleccionarão as obras a integrar a MOSTRA LABJOVEM para 2014. 

Os 30 membros do júri, das 10 áreas a concurso, estarão reunidos na Academia de Juventude e das Artes da Ilha Terceira e na Filarmónica União Praiense, para análise e selecção dos trabalhos entregues durante a fase de concurso, que decorreu de 1 de Maio a 25 de Novembro.

No dia 6 de Dezembro, pelas 19h00, decorrerá a Conferência de Imprensa dos trabalhos apresentados nesta 4ª edição do Concurso LABJOVEM – Jovens Criadores dos Açores, com a presença da Directora Regional da Juventude, Dra Pilar Damião, no Angra Marina Hotel.

No dia 7 de Dezembro, pelas 22h00, no Cais d’Angra decorrerá o lançamento do livro “Bandas Sonoras”, da fotógrafa Rita Carmo, membro do júri da área de Fotografia. De seguida, atuarão os Juke n’ Jam.

Os membros do júri LABJOVEM para a 4ª Edição são:

- Arquitetura: Carlos Joaquim Marques da Silva | João Costa Ribeiro | Márcio José de Sousa Mendes;
Artes Plásticas: José Dominguez | Lourenço Egreja | Sandra Vieira Jurgens
Artes Cénicas: Cláudia Galhós | João Didelet | Martim Pedroso
Design de Moda: Ana Marigarida Serpa da Silva | António Grácias | Miguel Vieira
Design Gráfico: Filipa Bensaúde | João Tovar | Pedro Falcão
Fotografia: Magali Tarouca | Rita Carmo | Pepe Brix
Ilustração e Banda Desenhada: Bruno Rafael | Pedro Vieira | Susana Antão
Literatura: Joel Neto | Rui Zink | Nuno Costa Santos
Música: Frankie Chavez | Luís Varatojo | Gabriel Gomes
Vídeo: José Pinheiro | Miguel Tomar Nogueira | Miguel Valverde

O CONCURSO LABJOVEM – Jovens Criadores dos Açores é um projeto do Governo Regional dos Açores, através da Direção Regional da Juventude, e organizado pela Associação Cultural Burra de Milho, que visa incentivar e promover jovens criadores das diferentes áreas artísticas, servindo de plataforma a uma nova geração de artistas açorianos.

As áreas contempladas na presente edição são: Arquitetura, Artes Plásticas, Artes Cénicas, Design de Moda, Design Gráfico, Fotografia, Ilustração e Banda Desenhada, Literatura, Música, e Vídeo.

Do concurso resultará uma seleção de projectos que serão apresentados sob o formato de Mostra Regional. A Mostra LABJOVEM é um programa itinerante que pretende de forma continuada difundir o trabalho dos jovens criadores, englobando:

- Exposição de Arquitetura, Artes Plásticas, Design de Moda, Design Gráfico, Fotografia, Ilustração e Banda Desenhada.
- Apresentação de espectáculos nas áreas de Artes Cénicas e Música;
- Apresentação de uma Mostra de Vídeo;
- Publicação de obras literárias;
- Elaboração de um catálogo geral dos projectos selecionados.

De entre os projectos seleccionados em cada área para integrar a Mostra LABJOVEM, será também selecionado pelo júri do concurso um projecto ao qual será atribuído uma bolsa de formação a título de prémio.

Serão ainda atribuídas as seguintes menções:
a) LABCOMUNIDADES – aos projectos que, de entre os seleccionados, tenham sido concebidos por descendentes de açorianos, até à 3ª geração.
b) LABREVELAÇÃO – aos projectos que, de entre os seleccionados, tenham sido concebidos por jovens com idade inferior a 20 anos até 31 de Dezembro de 2013.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Um Fresco Olhar do Amor

(500) Days of Summer (2009)

Inteligente e não-linear argumento de Scott Neustadter e Michael H. Weber, com realização do estreante Marc Webb, este filme aborda um relacionamento falhado pelos olhos de um jovem norte-americano. 
Filme com uma produção relativamente humilde, de cariz independente, e que se catapultou devido a uma ovação em pé no Festival Sundance, acabando por ser distribuído pela Fox.
Basicamente custou cerca de 6 milhões de euros e obteve um lucro de 55 milhões, o que a indústria chama de "sleeper hit"... curioso. 
Também a crítica foi extremamente favorável, e ganhou ainda vários prémios de cariz mais independentes e secundários.
Com duas excelentes performances por Joseph Gordon-Lewit e Zooey Deschanel, atores de uma nova geração que estão em voga, fazendo a transição para a grande fama e mainstream dos estúdios principais, é um filme muito inteligente e sensível, sobre a busca pelo amor, questionando sempre a sua verdadeira existência.
De uma certa maneira, com uma história que já foi mais do que contada, onde o clichê é o lugar mais comum, consegue-nos dar uma fresca versão da mais antiga história de amor do mundo.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Malinowski - O Pai da Etnografia

Argonauts of the Western Pacific (Argonautas do Pacífico Ocidental) (1922)​

Podem ser já detalhes do saudosismo da idade, mas existem obras que de facto nos marcam enquanto estudantes universitários - e este é outro exemplo disso, que ainda hoje me marca profundamente, na lógica de pensar e estudar o pensamento e comportamento humano. 

Argonautas do Pacífico Ocidental é uma peça fundamental do trabalho do antropólogo Bronislaw Malinowski, publicado no início do século (1922), rompendo com várias questões, estabelecendo a etnografia e o uso etnográfico da fotografia.

Aborda a própria investigação no terreno que o autor realiza, entre 1914 e 1918, nas Ilhas Trobriand (Papua-Nova Guiné, junto à Indonésia e Austrália), inaugurando-se assim a etnografia enquanto trabalho de campo.

O tema do livro é sobre um sistema de trocas existente na ilha, místico e sem noção de posse permanente, e que influencia a vida e as instituições de todos os habitantes.

Paralelamente ficam definidos os três pilares para a realização de um trabalho de campo etnográfico: a lógica; as condições de trabalho; e o dever de possuir métodos especiais e específicos de trabalho.

A ideia consistia que a melhor pesquisa é aquela efectuada com o envolvimento do investigador com o "nativo", com o objeto de estudo, participando ao vivo no que está a abordar - pode parecer óbvio hoje, mas no início do século quebrou com algumas barreiras...

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Maravilhas da Ásia, em seda e metal

"Apenas" duas das mais recentes obras de Do-Ho-Suh, um dos mais prolíficos artistas sul-coreanos. 

Home Within Home Within Home Within Home Within (2013) - (pormenor 1)

Home Within Home Within Home Within Home Within (2013) - (pormenor 2)

Home Within Home Within Home Within Home Within (2013) - (pormenor 3)

Karma (2013) - (pormenor 1)

Karma (2013) - (pormenor 2)

Karma (2013) - (pormenor 3)

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Engranvnigs by Forest Swords, Dream Music by Matthew Barnes

Forest Swords - Engravings (2013)

Disco de estreia (após algumas experiências em EP's) do projeto de Matthew Barnes, intitulado Forest Swords, brilhante produtor musical britânico, já considerado uma das grandes certezas da nova geração de produtores/compositores, de grande sensibilidade e conhecimento musical.

O álbum teve uma receção excelente, criando ondas em todas as revistas da especialidade, assim como nas redes sociais, sendo nomeado disco da semana ou do mês em vários sites.

Tem a particularidade de ter sido misturado em auscultadores, em vez de um estúdio, ao ar livre e numa zona rural e remota de Inglaterra, com a intenção de atribuir ao disco um ambiente ainda mais natural e realmente atmosférico... 

Outra curiosidade do álbum é que o disco foi gravado "às prestações", pois Barnes viu-se a par com problemas auditivos, perturbando e interrompendo várias vezes as gravações...

Ao nível da música, podemos considerar o trabalho como do género ambiente, mas com uma rugosidade que se sente mais do que habitualmente, com laivos de sensualidade e emoção, e com uma intensidade onírica brilhante - parece um sonho, melódico, mas realista.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Pelo Tempo: "Música Alternativa" (2012-03-14)

O termo “música alternativa” ganhou expressão nos anos 80 e inícios de 90, tendo uma origem provavelmente na cena musical independente inglesa e nos primórdios do grunge norte-americano, ambos saídos do rock. Actualmente o termo diversificou-se e especificou-se, onde antes cabiam todos no mesmo saco, hoje catalogamo-os de indie rock, post-punk, gótico, etc…
Com origem no rock, como quase toda a música que existe actualmente, ao serem considerados alternativos era provável que fossem buscar influências também ao jazz, folk e reggae, o que o tornava de facto num termo muito genérico.
Mas o importante era fugir à regra, e acima de tudo, não ser proveniente das grandes editoras. Mas isso não evitou que, desde 1991, os Prémios Grammy, os mais importantes da indústria musical, concedessem anualmente um prémio para o melhor álbum de música alternativa, onde os maiores vencedores viriam a ser os Radiohead e os White Stripes, bandas que atingiram fama e número de vendas que de alternativo não tem nada…
Acredito que muito do que “alternativo” se cria vem em resposta à mente inquisitiva e curiosa do ser humano, e nessa lógica, o diferente é muito atraente. Assim, nos últimos anos, em áreas como a música, moda ou performance, observou-se um recurso ao retro, ao reutilizar estéticas antigas. Primeiro foram os 70’s, que depois de gasta a imagem, recuou-se ainda mais no tempo, pela sede de diferença, e foi-se ao início do século.
Mas o que realmente me levou a escrever este texto é a mais recente “moda alternativa”: o freak folk, e mais especificamente, o seu representante mais castiço, de quem sou um recente fã: Ariel Pink's Haunted Graffiti!
Esta banda, liderada pelo californiano Ariel Pink, explora as fronteiras entre um pop psicadélico e o freak folk, e enquanto escritor de canções, consegue misturar influências desde David Bowie a Brian Eno, numa lógica anos 70-80.
Influenciado desde jovem por várias bandas de rock gótico, como Bauhaus ou The Cure, a leveza do seu som leva-nos a um R. Stevie Moore ou mesmo o ritmo de Michael Jackson.
Quem o ouve não acredita quando o vê pela primeira vez: daquela melancólica e doce voz, vem um jovem cheio de insinuações sexuais, cabelo comprido e barba sempre por fazer, numa perspectiva de performance sempre em provocação.
Depois de vários álbuns lançados entre 2004 e 2009, despertam a atenção da poderosa editora 4AD, e lançam o álbum “Before Today”, considerado por algumas revistas da especialidade um dos melhores de 2010. Para Ariel, este é considerado o seu primeiro álbum, o que é compreensível, pois tem muito mais qualidade que os anteriores, não em criatividade, mas em coerência.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Fellini - Anárquica Roma...

​​Federico Fellini​ ​- Roma (1972)

Foi este o primeiro filme que vi de Fellini, e mesmo não sendo o mais referenciado do profícuo realizador, é um dos que mais me marcou. Tem um forte e interessante cariz autobiográfico, carregado de inocência e sinceridade que me tocou, no meio de toda a loucura do filme!

Excelente fotografia, apanágio do artista, numa não-narrativa, irreverente e anárquica. Consola!


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

AMOSTRAM´ISSE LISBOA


AMOSTRAM´ISSE                       

Mostra de Cinema dos Açores

De 14 a 18 de Novembro - Cinema City Alvalade

Sessões às 20h00



O Governo Regional dos Açores, através da Direção Regional da Juventude, e com a organização da Associação Cultural Burra de Milho apresenta o “AMOSTRAM’ISSE” – Mostra de Cinema dos Açores, que consiste na exibição de um conjunto de filmes realizados nos Açores, e que pretende de uma certa forma abordar o estado da arte do cinema na região. 
 
O grande objetivo deste projeto é permitir que o público tome contacto com a realidade do cinema realizado nos Açores, pela descoberta de uma nova corrente de cinema contemporâneo, e pelos seus criadores. 
Nesta mostra desejamos também mostrar a identidade do cinema realizado na região, identificando-nos, contando e recontando a nossa história, o que acaba por ser um exercício de introspeção sobre arte e cultura. 
 
O evento já percorreu três cidades, Angra do Heroísmo, Horta e Ponta Delgada, num crescendo de expetativa e público, que agora culmina com a apresentação em Lisboa. 
 
Apresenta-se então entre 14 e 18 de Novembro, no Cinema City Alvalade, com exibições diárias de curtas e longas-metragens de ficção e documentário, pelas 20h00, contando sempre que possível com a presença do realizador e/ou produtor. 


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Ainda bem que ouvi Elliot Smith...

Elliott Smith - From a Basement on the Hill (2004)

Elliot Smith é mais um daqueles ícones, merecidamente, que nos deixou cedo demais. Se calhar foi na altura certa. Provavelmente Não. Foi há 10 anos que esta perturbada, embora brilhante mente, e em contornos nunca bem esclarecidos, morreu vítima de duas facadas no peito, aos 34 anos.

Não sei se a dor será fundamental para se atingir uma poética como a de Smith, mas a verdade é que foi um dos mais sensíveis e criativos cantautores desta nova vaga do fim do século XX.

From a Basement on the Hill foi lançado a título póstumo, quase um ano após a sua morte, embora grande parte do trabalho já estivesse completo, tendo sido finalizado pelo antigo produtor e pela ex-namorada de Smith. Devido ao mediatismo inerente, atingiu um fantástico número 19 nos tops norte-americanos, algo que o cantor nunca esperaria atingir, por mais repleto de qualidade que o seu trabalho fosse.

Ao nível da crítica e da receção popular, o álbum também atingiu grandes valores e registos, onde se realçavam as características negras e pesadas das suas letras, mas também uma certa maturidade e inovação no som de Smith.

Ironicamente tornou-se no seu disco mais conseguido, com uma carga de potencial enorme, e definindo o seu estilo. É um disco mais complexo e rico do que os seus trabalhos anteriores, principalmente nas harmonias e nos adornos musicais, com guitarradas mais pesadas, mais influências de várias áreas, mas sempre sem perder a delicada e intensa mensagem das suas palavras.

Mesmo assim, obrigado Elliot Smith.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Na Rua ou Em Casa - Daniel Buren





 
Há já várias décadas que Daniel Buren nos vem agraciando com o seu experimentalismo, sobretudo em arte de rua, com base num certo minimalismo abstracto (...).

Excêntrico, colorido, simples.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Jim Jarmush, Bill Murray & Broken Flowers

Broken Flowers (2005)

Mais uma comédia "intelectual" de Jim Jarmush, onde o fio condutor liderado pelo homem da moda do género, Bill Murray, nos leva a uma viagem pelas relações entre homens e mulheres, crise de meia-idade e busca por um possível filho...

O elenco conta ainda com a presença de Sharon Stone, Jessica Lange, Tilda Swinton e Chloë Sevigny, entre outros, muito bem escolhidos e enquadrados.

Acabou por ganhar o Grande Prémio em Cannes, depois de uma calorosa receção pela crítica especializada, assim como a representação de Murray foi fortemente referenciada em inúmeros festivais e revistas.

Muito trágico/cómico divertido.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O Maravilhoso Caos de James Gleick

James Gleick, Caos - A Criação de uma Nova Ciência (1987)

Outro daqueles livros que pareciam um monstro de leitura obrigatório com fins académicos, mas que acabou por ser tão revelador e esclarecedor da nossa dimensão... mínima!

Gleick explora aqui os atuais princípios básicos da sua teoria do caos, hoje fortemente desenvolvida e divulgada, tendo sido finalista com esta obra do National Book Award, Pullitzer Prize e Science Book Prize.

Este foi o primeiro livro que se tornou popular ao abordar uma teoria muito complexa, desconhecida e de ruptura, com conceitos matemáticos complexos - extremamente complexos para quem não percebia nada como eu... (e continuo sem perceber). 

Mas ao percorrermos os vários exemplos e contributos, de cientistas de várias áreas, percebemos a veracidade dos seus cálculos e esforços em comprovar o que defendem.

Basicamente, uma obra pesada, principalmente para quem é de ciências sociais, mas que deixa uma forte imagem no nosso espírito, basilar para a compreensão de todos os fenómenos naturais (e culturais?) do planeta: o bater das asas de uma borboleta em Tóquio altera de certeza o clima em Los Angeles...

Fundamental!


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Tune-Yards, a brincar se dizem as verdades...

Tune-Yards - Whokill (2011)

Este trabalho dos criativos Tune-Yards tem um cariz experimental muito bem conseguido, onde não é apenas "música diferente", mas sim divertido, fresco e com qualidade, cobrindo uma variedade enorme de estilos e géneros musicais, do punk ao jazz e do folk ao funk.

Com uma forte mensagem social de revolta contra a injustiça e crueldade humana, principalmente no que diz respeito às questões em torno do género, classe social e racismo, sem ser obviamente um êxito comercial nos conservadores Estados Unidos da América, conseguiu uma excelente crítica nos meios da especialidade, atingindo várias listas e revistas de interesse, incluindo algumas nomeações para disco do ano (2011).

Mas é experimental e divertido...

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Cohen & Cohen - Fargo (1996)

Fargo (1996)

Um dos mais marcantes filmes de uma geração, fortemente influenciada pelo trabalho dos irmãos Cohen, onde a simplicidade da história pode e deve chocar com a complexidade dos personagens, tornando assim o próprio enredo profundo.

Se a isso juntarmos um conjunto de atores que os Cohen (felizmente) cismam em utilizar, como Frances McDormand (a chefe de polícia grávida) ou William H. Macy (vendedor de carros que manda raptar a mulher), temos uma incrível comédia negra, inteligente, acolhedora e intensa.

Além de atingir um público tendencialmente mais exigente (que o estritamente comercial), o filme foi também um sucesso nos tradicionais prémios cinematográficos, com dois Óscares, um BAFTA e melhor realização em Cannes para Joel Cohen, assim como outros prémios em festivais e eventos.

Devido à sua importância cultural, de cariz estético e histórico, foi integrado no Registo Nacional do Cinema dos Estados Unidos (tipo Hall of Fame, mas mais sério...).

Grande Filme!

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

The Album Leaf - mais introspecção...


​The Album Leaf​ - ​In a Safe Place (2004​)

Aqui está um daqueles projetos que admiro muito, mas que infelizmente tem pouca ou nenhuma divulgação. Também é um género introspetivo, pouco comercial e nada dançável, talvez alguns dos motivos do desconhecimento... mas é muita bom!

Projeto já com 15 anos, trata-se do produto da criatividade de Jimmy LaValle, da banda norte-americana Tristeza, com inspirações na música clássica, jazz e no riquíssimo pós-rock, numa postura ecléctica, misturando esses sons com ruídos, transmissões de rádio, etc...

Cedo deu nas vistas no mundo particularmente artístico do pós-rock, abrindo concertos para bandas como os Sigur Rós (que foi aliás como o conheci...). Em 2004 produz então In A Safe Place, no mesmo estúdio da banda islandesa referida e editado pela Sub Pop. Já gravou mais três álbuns entretanto, mas a minha preferência vai para este trabalho.

É um disco meditativo, profundo, que mesmo podendo parecer repetitivo em certas ocasiões, leva-nos certamente à introspeção, num onda de emoções que termina num grande vazio - relaxante (?).

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Pelo Tempo: "A angústia humana através do cinema" (2012-03-03)

Começou bem o ciclo de filmes organizado pela Associação Cultural Burra de Milho, intitulado “Amostra-me Cinema Português”, na passada quarta-feira, no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo. Com este ciclo pretende-se ao longo do ano exibir um filme português por mês, sempre a uma quarta-feira, dando a conhecer o excelente trabalho que se tem feito em Portugal nesta área.
Numa época em que temos de promover o que é nosso e desenvolver o máximo possível de áreas de crescimento, o cinema encontra-se de facto numa onda positiva, com vários prémios internacionais para realizadores portugueses, como o caso do filme desta quarta-feira, “Angst”, de Graça Castanheira. Depois de ter sido premiado no CineEco 2011 e no Cineport 2011, este documentário foi premiado no Festival Cinemed 2011, Festival Internacional de Montpellier (França).
É um filme muito intimista, onde nos é transmitida a opinião sentida da realizadora, sobre o papel do Homem no planeta, com base em clássicos grandes planos de poderosas imagens, aliadas a uma narrativa consistente, de cariz filosófico sobre a actual e futura situação da humanidade.
As grandes preocupações partilhadas pela realizadora são a sobrepopulação do planeta e o risco do esgotamento das energias fósseis, assim como do próprio espaço para vivermos em sociedade como a entendemos. No entanto, afirmou que gostaria de viver no século XXII, talvez por acreditar que nos vamos “safar” desta e ter curiosidade de ver como isso acontecerá.
O título do filme baseia-se numa curiosa palavra alemã, “Angst”, que significa medo ou ansiedade, nomeadamente um conflito intenso e interno. A filosofia, mais especificamente na sua corrente do existencialismo, utiliza o termo para descrever uma profunda condição de insegurança e medo por parte do ser humano livre, tendo como principal referência o filósofo Kierkegaard. Ou seja, o medo de falhar perante Deus, seja em sentido religioso, ou figurado.
Foi talvez para combater esse medo que Graça Castanheira realizou este filme. Nascida em 1962, em Angola, é uma das referências actuais do cinema documental em Portugal. Formou-se em Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema, onde é actualmente professora, assim como na Restart – Instituto de Criatividade, Artes e Novas Tecnologias.
Já recebeu vários prémios ao longo da sua carreira, que conta com 10 filmes, e fez parte do grupo fundador da Associação pelo Documentário, que promove o festival DocLisboa. Desde 2008 que tema sua própria produtora, a Pop Filmes.
De realçar que após a exibição do filme, a realizadora esteve presente no Centro Cultural de Angra, disponível para uma breve conversa e troca de impressões com o público presente (cerca de 50 pessoas), onde se mostrou simpática, agradecida e convicta da mensagem do seu filme.
Ficou bem patente a intenção e mensagem por parte da Associação Cultural Burra de Milho, ou seja, fazer as pessoas verem cinema português, e "verem" que é de facto um bom cinema.

PS. Nos primórdios do Amostram'isse...

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Outro Lado da Lua

​M​oon (2009)

Filme de estreia de Duncan Jones (auspiciosa...), este exercício de ficção científica aborda questões profundas da humanidade, muito mais que naves e extraterrestres (não é que não goste...).

O filme vive da representação de Sam Rockwell, um astronauta que se encontra a viver sozinho numa missão mineira na Lua, à cerca de três anos, assim como da voz de Kevin Spacey, que dá vida ao computador que acompanha as actividades diárias do astronauta/mineiro.

Ao longo do filme explora-se a paranóia e perturbação que Sam Rockwell vai sentido ao chegar ao término do seu contrato, sem qualquer contacto recente com a terra e a sua família, e abalado por um acidente que vai quebrar com todo o seu isolamento...

Bom e intenso.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Os requintados De-Phazz

​De-Phazz - Big (2009)

De vez em quando também gosto de relaxar. E com música. E assim surgiram os De-Pahzz na minha vida, numa época dominada pelo trip-hop e chill out, com destaque para Kruder & Dorfmeister, Stefan Pompougnac, Air e Massive Attack, deparei-me com os vários trabalhos de extrema qualidade deste agrupamento germano-austríaco, com o destaque para este Big (2009), Death by Chocolate (2001) e também Daily Lama (2002).
Como sempre, exploram aqui uma vastidão de música, do soul ao jazz, passado pelo easy linstenig e música de origem latina, com inspiração nos grandes clássicos, posicionando-se claramente numa postura de música ambiente e lounge, mas com uma qualidade e criatividade muito requintada - não há de facto outra palavra... requintada.


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

AMOSTRAM'ISSE - PONTA DELGADA - 14 a 18 OUTUBRO



Continua o "AMOSTRAM'ISSE" - Mostra de Cinema dos Açores, desta vez em Ponta Delgada, de 14 a 18 de Outubro no Teatro Micaelense. Depois de Angra e Horta, segue-se agora a exibição em São Miguel de 13 filmes realizados por açorianos, ou realizados nos Açores, onde se desmistifica o facto de não haver qualidade nem criatividade na área do cinema na região.

É também uma altura para aproveitar o momento e falar sobre o cinema, o que se fez, o que se faz, e obviamente, o que se pode fazer, tentado reunir profissionais, apaixonados e responsáveis da arte.



terça-feira, 17 de setembro de 2013

Duras Verdades em Mar Adentro

Mar Adentro (2004)

Este excelente filme de Alejandro Amenábar é baseado na vida de Ramón Sampedro, pescador espanhol que ficou preso a uma cama devido a um acidente de mergulho (quadraplégico), ficando 28 anos a lutar pelo direito a colocar um fim à sua vida, tornando-se um dos mais reconhecidos defensores da eutanásia. 
Javier Bardem faz "mais" um excelente trabalho, explorando-se neste filme a relação do pescador com duas mulheres, cada uma com uma visão diferente em relação à eutanásia.
Além do Óscar e Globo de Ouro para melhor filme de língua estrangeira (2004), ganhou dezenas de prémios e tornou-se um filme referência de alerta social para a questão abordada. O cinema enquanto arte e intervenção social.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Pavement 101

​Pavement - Quarantine the Past: The Best of Pavement​ (2010)

Por mim inseria no blogue todos os álbuns dos Pavement, provavelmente a banda que me fez nascer para a música menos comercial e alternativa, com o seu espírito crítico, de base universitária norte-americana, e acima de tudo, com um excelente som e uma criatividade fora do comum.
As colectâneas são de facto sempre complexas, pois tiram o fio condutor de um álbum, que conta uma história específica, Mas neste caso conta muito bem a história dos Pavement.
Lançado pela Matador Records em 2010, compreende os sons iniciais da banda, nos seus exclusivos discos de vinil, até aos mais recentes e maduros trabalhos, numa fase final do grupo. Este é o primeiro registo em formato de colectânea, e teve por base a reunião do grupo liderado por Stephen Malkmus em 2010, sendo ainda dificultado pelo facto de a banda nunca ter tido nenhum "hit" nos tops.
Neste disco recordam-se temas emblemáticos para quem ouviu vezes sem conta os álbuns dos Pavement (como "Shaddy Lane" ou "Cut Your Hair"), sem novas músicas ou Lados B, podendo ser considerada uma boa biografia musical para iniciantes em Pavement.
Extremamente Recomendado!

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Pelo Tempo: "O Regresso dos Ornatos" (2012-02-21)

Quem não gosta de uma boa notícia, principalmente em época de acometimento, e foi isso que me aconteceu: os Ornatos Violeta vão dar dois concertos, nos Coliseus da nação (Lisboa e Porto), a 25 e 30 de Outubro respetivamente.
Desde 2002, data do último concerto da banda, foi impressionante a disseminação e influência que tiveram com base nos dois únicos discos editados, “Cão!” (1997) e “O Monstro Precisa de Amigos” (1999), relançados recentemente a celebrar os 20 anos da sua criação, assim como um novo CD com inéditos e raridades, o que já deixava algo no ar…
Tornaram-se de facto uma referência musical no panorama português, que muitas boas memórias criaram, com Manuel Cruz (a alma), Nuno Prata (baixo), Kinorm (bateria), Elísio Donas (teclados) e Peixe (guitarra). Se em Portugal não existiu um circuito alternativo de música rock, tipo circuito universitário norte-americano, ou uma cidade co mais pujança criativa, como Seattle ou Manchester, tivemos os Ornatos Violeta!
Este quinteto, originário do Porto, esperou seis anos até à produção do seu primeiro álbum, o já referido e mítico “Cão!”, em 1997, onde revelaram toda a sua irreverência e criatividade, percorrendo musicalmente do Ska ao Rock, passando pelo Funk, entre outros. O talento foi logo reconhecido, tendo sido convidados pelos Xutos & Pontapés a abrirem vários concertos, entre eles, um no Coliseu de Lisboa.
Dois anos depois confirma-se toda a sua genialidade, com a edição do álbum “O Monstro Precisa de Amigos”, monumental e inovador, e que acabaria por ser o último trabalho da banda, arrecadando vários prémios, como o Álbum do Ano pela Blitz.
Este trabalho tem ainda mais valor pela sua qualidade transversal, como é disso exemplo a magnífica participação dos Corvos em algumas faixas, ou do mítico Victor Espadinha e ainda de Gordon Gano (dos Violent Femmes).
Ganham nova notoriedade ao participarem na coletânea de homenagem aos Xutos, “XX Anos, XX Bandas”, gravando uma versão de “Circo de Feras” que se tornou um quase ex-libris do álbum.    
Após a sua última e famosa aparição pública, no Hard club, onde ficaram célebres as três palavras proferidas por Manel Cruz: “até um dia”, começou imediatamente o legado dos Ornatos, surgindo em 2002 os Pluto, banda com um rock ligeiramente mais tradicional, incluindo Cruz e o guitarrista Peixe. No mesmo ano surgem ainda os Supernada, novamente liderados por Cruz.
Agora estão de volta, cimentados numa amizade que preferiram não estragar, acabando com a banda e não dando possibilidade a brigas e desentendimento… embora tenham tido a triste ideia de irem viver todos juntos num apartamento!
Miguel Rosa Costa


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Negro Scorsese

Taxi Driver (1976)

Escura obra-prima de Martin Scorsese, este Taxi Driver causa paixões e ódios. É de facto um exemplo poético, de um realismo muito deprimente... 
Robert De Niro no seu melhor papel, de simples homem, a mostro horroroso e, finalmente, a herói mediático, numa incrível transformação - que marca o estilo de Scorsese, negro como a vida...

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Vintage Eletro-Pop

Destroyer - Kaputt (2011)

Este já é o nono álbum dos Destroyer, pouco divulgados em Portugal, mas uma banda com uma maturidade e experiência incríveis, tendo este trabalhado sendo considerado um dos melhores discos de 2011 por algumas revistas da especialidade.
Com origem no génio criativo de Daniel Bejar (que já colaborou com os The New Pornographers), surge-nos mais um disco onde a base musical pode situar-se algures entre os anos 70 e 80, mas com uma complexidade por vezes difícil de perceber, essa sim, bastante contemporânea.
É um vintage eletro-pop, calminho, com um "saxofonezinho" de fundo, numa batida romântica, com letras sentidas.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pelo Tempo: "Ai Ai Wei Wei!" (2012-02-08)

Por mais do que uma vez utilizei esta espaço com textos sobre a ligação entre direitos humanos e arte, mais especificamente sobre o realizador iraniano Jafar Panahi. Existe uma certa lógica nesta relação, pois não é a essência da arte um grito de revolta? Seja percecionada como bela ou não, mas existe uma mensagem, algo a constatar ou alertar.
O mais recente caso que tem alertado a comunidade artística internacional, e não só, refere-se ao fabuloso artista plástico chinês Ai Weiwei. Nascido em 1957, é o mais prolífico artista e activista chinês da actualidade, percorrendo desde a arquitectura ao cinema, sempre com um pendor de crítica social, atacando o governo chinês sobre questões óbvias de democracia e direitos humanos.
Estudou cinema da Academia de Cinema de Pequim, e depois viveu uns anos nos Estados Unidos, até 1993, passando pela Parsons School of Design, sempre criando arte bastante conceptual, alterando objectos banais, como vasos ou jarros.
Regressa à China devido a doença do pai, e logo começa a estabelecer uma nova vaga de modernismo artístico, criando primeiro uma espécie de East Village em Pequim e depois publicando três livros sobre a nova geração de artistas chineses. Desde então tem sido muita a sua produção, desde a criação de empresas de design e arquitectura, até a um arquivo de arte contemporânea chinesa.
Já expôs por todo o mundo, em todas as instituições de referência, assim como em todas as bienais de renome, como Veneza e São Paulo e na Documenta. Aliás, a sua participação nesta última, o principal evento mundial de arte contemporânea, em 2007, é significativo da sua criatividade: espalhou por todo o espaço da exposição 1001 cadeiras antigas chinesas, e construiu uma estrutura no exterior com 1001 portas recuperadas de casa das dinastias Ming e Qing. Depois trouxe 1001 pessoas consigo da China para uma pequena cidade alemã, recrutadas pela internet. Criou as roupas e malas para usarem, e a lógica era circularem pela cidade durante três meses, enquanto habitavam numa antiga fábrica têxtil, também recuperada e redesenhada por Ai Weiwei.
As suas imagens mais mediáticas, são os vasos, tipo dinastia Ming, pintados com o logótipo da Coca-Cola, assim como a sua instalação “Sunflowers Seeds” (Sementes de Girassóis), na renomeada Tate Gallery em Londres, em Outubro de 2010. Esta última consistia em cem mil sementes de girassol feitas em porcelana, pintadas à mão por 1600 artesãos chineses, espalhados por uma vasta área da galeria, solicitando mesmo aos visitantes que andassem e rolassem por cima das sementes, com vista a experimentarem e contemplarem a essência dos seus comentários sobre o consumo de massas, indústria chinesa, fome e trabalho colectivo. Em Fevereiro de 2011 venderam-se 100 quilos de sementes por cerca de 600 mil euros, na Sotheby’s de Londres, muito acima do esperado!
Depois de várias detenções e ataques, foi preso novamente em Abril deste ano, supostamente por não ter pago os impostos relativos a uma empresa de arquitectura que possui. Durante uma semana nem a sua família soube onde se encontrava.
É óbvio que o seu trabalho é provocatório, e num país como a China acabaria por ser preso mais cedo ou mais tarde. Mas a resposta internacional foi imensa, a começar pela organização da campanha “Libertem Ai Weiwei” através de arte de rua, dando origem a centenas de grafitis por todo o mundo exigindo a sua libertação, até à colocação de uma grande faixa pela própria Galeria Tate, à condenação do acto pela União Europeia e Governo dos Estados Unidos.
A comunidade internacional mobilizou várias petições e movimentos, tendo sido a mais simbólica a “1001 Cadeiras para Ai Weiwei”, onde a 17 de Abril artistas de todos o mundo foram convidados a levarem cadeiras para a frente de embaixadas e consulados chineses por todo o planeta.
Assim, a 22 de Junho, as autoridades chinesas libertaram finalmente Ai Weiwei, sobre caução, e encontrando-se proibido de sair de Pequim por um ano. Ficou também inibido de utilizar a internet e em particular as redes sociais, algo que… mal teve oportunidade, não cumpriu. Recentemente, via Twitter, garantiu ter sido detido ilegalmente, e apenas pelas suas opiniões. Foram apenas três mensagens, pois esta rede encontra-se proibida na China, e é necessário furar o sistema para ter acesso. Nelas, descreve o estado de alguns colegas na prisão, denunciando os danos e torturas a que são sujeitos.
É sem dúvida curiosa a utilização de materiais com referências tanto antigas por parte deste artista, como os vasos da dinastia Ming, pois em pleno século XXI continuam a haver atropelos desta dimensão no que diz respeito aos direitos humanos e liberdade. Sabemos que a China é um caso bicudo (sem segundas intenções), mas cada um à sua maneira tem de tentar agir com vista ao fim destas situações.

terça-feira, 9 de julho de 2013

A dor, sempre presente nos Dardenne

O Filho (Le Fils) (2002)

Neste magnífico filme dos irmãos Dardenne, voltamos a ser confrontados com a sua exploração das emoções humanas, que podem surgir na mais mundana das situações, assim como no mais intenso dos momentos.

Vão-nos contar, lenta e pormenorizadamente a história de Olivier (Olivier Gourmet, prémio de melhor ator em Cannes), um carpinteiro que perdeu o seu filho há cinco anos, e que ensina jovens num centro de formação, onde se concentra num jovem, Francis, que toma como seu aprendiz, e por quem desenvolve uma estranha fixação, explicada apenas no fim do filme...

O perdão, a dureza da realidade, a dor - são elementos presentes, onde viajamos pelas emoções, esperanças e ansiedades dos membros da história, de uma maneira que se torna impossível não nos sentirmos ligados, sentido pena, paixão, compreensão e tristeza. Um saboroso desconforto...

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Hotel Costes, by Stéphane Pompougnac

Stéphane Pompougnac - Hôtel Costes, Vol. 2: La Suite (1999)

Este produtor francês, em meu entender, revolucionou e estandardizou um conceito de música easy listening / club dance... que poderíamos desmaterializar em música electrónica suave, com uma forte base jazística e um ritmo lento, ideal para átrios de hotéis e bares onde se pode conversar...
Se comercialmente esse é o alvo, a nível musical tem um sentido bastante ecléctico e de muita qualidade, com um funk/jazz muito bem escolhido e misturado, principalmente nestas colectâneas editadas pelo Hotel Costes (em Paris), onde podemos, por exemplo, encontrar uma delicada e divertida mistura de "Carnaval de São Vicente" de Cesária Évora, que em nada ofende nem deturpa a música original, e lança aliás o sentido do disco, um pouco retro, mas fashion q.b., com toques de anos 60 e 70 e ainda daqueles maravilhosos filmes de classe B...
Se não me engano, esta colectânea já vai em 15 ou 16 discos lançados, mas dos vários a que já tive acesso, este é para mim, sem dúvidas nenhumas, o melhor - um grande disco!
Chill...