quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A profundidade em Zach Condon (Beirut)

Beirut - The Flying Club Cup (2007)

Zach Condon continua a impressionar. Com os seus 21 anos de idade, realiza outro trabalho de uma profundidade e criatividade incríveis. The Flying Club Cup é um álbum que tresanda a maturidade, muito composto, e com a já habitual inspiração de orquestras de sopro da Europa de Leste (à Kustorica), assim como um tom folk baseado em instrumentos de corda.
Um trabalho muito pensado, divertido e sofisticado, que se resume em mais um álbum de sucesso de Zach Condon (Beirut).


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Uma Coisa em Forma de Assim (2011-07-08)


Mesmo numa quarta-feira, mesmo sem ser no Teatro Angrense, e em pleno momento de crise, foi louvável a iniciativa da Culturangra em brindar a cidade com o espetáculo “Uma Coisa em Forma de Assim”, da Companhia Nacional de Bailado.
Com uma casa quase cheia, o espetáculo acabou por resultar no grande auditório do Centro Cultural, algo que alguns elementos do público temiam, ou pelo simples facto de preferirem sempre o já referido espaço.
Seria louvável que todas as grandes instituições públicas com responsabilidades na arte promovessem digressões nacionais, uma das melhores formas de levar a todo o território, principalmente ilhas, espetáculos de grande qualidade, e acima de tudo, de grande atualidade, pelo menos no panorama nacional.
Neste caso suplantou-se esse mesmo propósito, pois trata-se de uma obra criada por alguns dos mais importantes coreógrafos portugueses, a convite da Companhia Nacional de Bailado, ficando a composição e interpretação musical a cargo de Bernardo Sassetti.
A ideia teve origem com vista a assinalar o Dia Mundial da Dança, no passado dia 29 de abril, juntando os coreógrafos Francisco Camacho, Clara Andermatt, Benvindo Fonseca, Rui Lopes Graça, Rui Horta, Paulo Ribeiro, Olga Roriz, Madalena Victorino e Vasco Wellenkamp, artistas com trabalhos muito distintos, para trabalhar com os bailarinos residentes da companhia, e com a magnífica oportunidade de ter a música interpretada ao vivo pelo próprio autor.
Durante junho e julho a companhia partiu então em digressão por todo o país, cabendo-nos na sorte Angra do Heroísmo (CCCAH, 6 de julho) e Ponta Delgada (9 de julho, Teatro Micaelense), depois da estreia nacional a 28, 29 e 30 de abril no Teatro Camões.
“Uma Coisa em Forma de Assim” foi o título escolhido para esta obra, baseado no livro de Alexandre O’Neill, que se trata de uma compilação de artigos previamente apresentados na imprensa escrita, como um conjunto de retalhos que os vários coreógrafos nos apresentam.
Cenário montado, luz apagada, começou o espetáculo a tempo e horas. A primeira coreografia ficou a cargo de Madalena Victorino, e contou com todos os bailarinos participantes nas restantes peças. Foi talvez o momento mais arriscado e irreverente, ao estilo da muito aclamada autora.
O segundo momento da noite ficou a cargo de Vasco Wellenkamp, talvez uma dos mais credenciados e conhecidos nomes do bailado português, com um estilo mais romântico e clássico, sempre no registo do contemporâneo, e com a excelente bailarina principal Peggy Konik. Depois seguiu-se a coreografia de Paulo Ribeiro, um favorito pessoal, e que se tornou no preferido da noite, com um corpo de quatro bailarinos, com um ambiente muito orgânico, fazendo-nos lembrar o planeta e a solidariedade que talvez deveria haver nesta fase da nossa vida.
Rui Lopes Graça, bailarino solista da companhia, coreografou a peça seguinte, com um bonito, romântico e intenso par, com destaque para a bailarina Yurina Miura. Depois tivemos uma apresentação de Francisco Camacho – uma primeira vez para mim – com um divertido e físico duo masculino. Outro dos momentos altos da noite foi a coreografia de Rui Horta, outro facciosamente preferido pessoal, com um potente solo de Marta Sobreira, conjugando várias nuances sobre o corpo, numa performance muito física, ao bom estilo do coreógrafo.
A peça imediata esteve ao cargo de Benvindo Fonseca, outro bom regresso à Terceira. Foi claro o seu sensual estilo e traço nesta romântica coreografia, bem suportada pelo bailarino principal Tomislav Petranovic. Depois foi Olga Roriz, aplaudida coreógrafa, que apresentou uma estética muito própria, qual Paula Rego da dança portuguesa. Uma mulher intensa, perdida e confusa... mas poderosamente interpretada por Isabel Galriça.
A concluir, nova coreógrafa de eleição pessoal, Clara Andermatt, e que felizmente não defraudou as expectativas, criando um final em grande, envolvendo totalmente os bailarinos Irina de Oliveira e Nuno Fernandes no instrumento central desta noite: o piano de Bernardo Sassetti.
Mesmo com os referidos preferidos pessoais, a grande capacidade física e disponibilidade emocional dos bailarinos, e os destaques para as bailarinas Marta Sobreira e Irina de Oliveira, a noite foi também muita de Bernardo Sassetti. Sempre bem recebido na ilha, onde tem um grande número de fãs, esteve sempre de corpo e alma na obra, do início ao fim, com altos e baixos de intensidade e de participação nas coreografias. Muito bom.
O público terceirense, que ocupava cerca de 3/4 da sala, soube avaliar a noite, aplaudindo efusivamente vários regressos e apresentações dos artistas, mas não culminando com uma ovação em pé, que seria exagerada na minha opinião.
Tratou-se também de um excelente momento pedagógico, pois deu-nos oportunidade de vermos trabalhos de vários coreógrafos, com diferentes estilos, tudo numa noite. Do mais romântico e clássico, ao mais irreverente e transversal, presenciámos de tudo nesta bonita e importante noite de dança na ilha Terceira.
Ao nível das expectativas do público podemos identificar aqui alguma ambivalência: para quem conhece alguns dos trabalhos dos coreógrafos presentes, ficou certamente com a vista e o coração saciados. Para quem tem menos oportunidade talvez não.
Infelizmente são apresentados um ou dois momentos de dança na ilha por ano, e nem sempre de qualidade, pelo menos pedagógica ou inovadora. Isso faz com que exista um público que gosta realmente de dança, mas que tem poucas oportunidades para assistir ao vivo a esses momentos. Talvez para esse público, este evento tenha sido um pouco descontextualizado. Mesmo assim, fica de certeza a beleza e a fisicalidade dos movimentos dos excelentes bailarinos.
Repito, uma importante noite de dança.


PS. Talvez a última passagem de Sassetti pela ilha...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Wong Kar-Wai: sempre disponível para amar...

In The Mood For Love (2000)

Talvez depois de Chunking Express, este tenha sido o filme que catapultou o realizador chinês Wong Kar-Wai para o reconhecimento internacional, com um estilo bastante próprio, de um grande perfeccionismo visual.
Em Disponível Para Amar (versão portuguesa), aborda um amor platónico entre dois vizinhos, ambos vítima de traição pelos respetivos parceiros, mas que ao mesmo tempo não podem consumar o seu amor...
Trata-se de uma intensa história, não só de amor, mas de insinuações, numa narrativa complexa, mas visualmente viciante.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Jethro Tull: nitidamente 40 anos à frente do seu tempo...

Jethro Tull - Aqualung (1971)

Numa época em que o "neo-punk" e um certo "glamour-retro-punk" (?), com toques de gótico, vigora com sucesso as frescas mentes dos ouvintes, em casos como Ariel Pink, Beach House ou mesmo uns mais batidos Animal Collective, lembrei-me de procurar no baú das minhas memórias musicais... e a redescoberta dos Jethro Tull foi óbvia!
Muitas vezes catalogados como "hard-rock", o que nos dias de hoje já não pegaria na comunicação social especializada, trata-se de facto de uma banda com uma visão social brilhante, de forte sentido crítico e com muito humor, para não falar numa verdadeira abordagem a um som que poderíamos intitular "folk-punk".
Este álbum em particular, um dos meus favoritos, surge numa época (1971) bastante conservadora, e com um discurso anti-igreja, mexendo com as mentalidades da época. Foi chegando no entanto aos "tops" devido à muito boa música patente no trabalho...
Neste mistura de "hard-rock" com "folk", com um som verdadeiramente atual, demonstram a intemporalidade da música, mesmo da mais radical e controversa, e que celebrou 40 (!) anos em 2011, tendo sido reeditado várias vezes e com diferentes remasterizações, pois curiosamente, não tem a certeza de qual foi a cassete original que deu origem ao disco... coisas à Ian Anderson!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pelo Tempo: "Cannes – Cinema e Justiça" (2011-07-07)


As injustiças têm de ser combatidas, e mesmo vivendo num clima muito complicado em Portugal, existe infelizmente sempre alguém que se encontra em situação pior. Volto a referir a situação de Jafar Panahi, realizador iraniano sobre o qual já escrevi neste espaço, e que continua em prisão domiciliária e proibido de trabalhar durante 20 anos!
Mas a comunidade internacional não esquece esta situação, e prova disso é o facto de ter sido apresentado um filme seu, produzido quase clandestinamente, no renomeado Festival de Cannes, depois de no ano passado ter sido proibido pelas autoridades iranianas de nele participar enquanto membro do júri.
Cannes sempre teve um toque de irreverência, e se deve o seu início ao inconformismo perante o fascismo alemão e italiano, no fim dos anos 30, acaba por ter a sua primeira edição em 1946, tendo uma continuação intermitente devido a problemas financeiros.
Ganhou uma grande conotação “cor-de-rosa”, ao tornar-se de facto um dos eventos mais glamorosos do planeta, e um momento fundamental para o turismo no sul de França, mas sempre elevando a sua qualidade cinematográfica.
É o grande encontro mundial da indústria cinematográfica, onde os profissionais da área tem oportunidade de encontrar apoios, gerar mega projetos e internacionalizar ainda mais os seus contactos. Desde os anos 60 que realizam durante o festival o Mercado do Filme, que conta com mais de 10.000 participantes e 4000 filmes, sendo o principal mercado do mundo.
O seu ponto forte talvez seja o delicado equilíbrio entre a alta qualidade artística e o impacto comercial dos filmes apresentados, garantindo uma publicidade e divulgação a nível internacional, mas mantendo sempre a importância da noção de “cinema de autor para uma grande audiência”.
Este ano, entre 11 e 22 de maio, foram muitos os que pretenderam almejar os referidos prémios, desde o filme de abertura do festival, “Midnight in Paris” de Woody Allen ao filme biográfico sobre Nicolas Sarkozy, “La Conquête”.
Muitas vedetas passaram pelo evento, como os mediáticos Angelina Jolie e Brad Pitt, os representantes europeus Nanni Moretti e Pedro Almodôvar, ou os destaques do ano, com o realizador de “A Árvore da Vida”, Terence Mallick e o membro do júri, Robert De Niro.
Um dos momentos quentes foi a apresentação do filme de Panahi, “In Film Nist” (Isto Não é um Filme), uma espécie de diário biográfico sobre um artista impedido de trabalhar... Outro corajoso realizador iraniano conseguiu também produzir um filme nas barbas das autoridades, Mohammad Rasoulov, com “Be Omid-e Didar” (Adeus), retrata a vida de um advogado em Teerão que tenta sair legalmente do país, encontrando várias dificuldades.
Outro momento quente acabou por serem as “difamatórias” declarações do louco Lars von Trier sobre a sua “compreensão por Hitler”. Do seu filme, “Melancolia”, destaca-se a vitória para a melhor actriz, Kristen Dunst.
A Palma de Ouro, o mais prestigiado prémio, foi para o esperado filme de Malick, “A Árvore da Vida”, tendo Jean Dujardin ganho o prémio de melhor actor, em “The Artist”. Destaque ainda para o Grande Prémio, com o empate entre "O Garoto de Bicicleta", de Jean-Pierre e Luc Dardenne, e "Once Upon a Time in Anatolia", de Nuri Ceylan.
Ao nível das revelações e da inovação, destaque para cinco filmes e os seus respectivos realizadores: “Polisse”, de Maïwenn Le Besco (filha de Luc Besson, o conhecido actor francês); “Drive”, de Nicolas Winding Refn; “Take Shelter”, de Jeff Nichols (com pretensão aos Óscares…); “Return”, de Liza Johnson; e “Elena”, de Andrei Zvyaguintsev.
Agora resta esperar pelas estreias em Portugal, e como dizia o outro: “bons filmes”!

PS. Já os vi quase a todos, passado mais de um ano, com destaque para o próprio filme de Panahi e o de Woody Allen.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Rei da Exposição: Brian Matthew Hart

 how to stand | 2011

lauren on couch | 2012

right hand [unfinished diptych] | 2012

Estas são algumas imagens do fantástico trabalho de Brian Matthew Hart, um verdadeiro mestre do desenho com luz, como o exemplo desta mão, feita com 324 fotografias onde utiliza a luz em movimento.

Esta técnica fotográfica consiste em exposições movendo uma fonte de luz, como aquelas famosos fotos das luzes de automóveis em torno de uma praça qualquer... Este trabalho tem origem, e faz mesmo lembrar, os seus percussores, como Frank Gilbreth, Man Ray ou Barbara Morgan:

Barbara Morgan - Samadhi

Frank Gilbreth - Work Simplification Study

Manray - Lightpaiting

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Monty Python (versão editada para advogados...)

Monty Python: Almost the Truth - Lawyers Cut (2009)

Este documentário de 2009, de seis episódios, que a RTP2 brilhantemente se lembrou de exibir, cobre o trajecto deste grupo, as suas vidas pessoais antes do projeto, e os trabalhos desde o marcante Flyning Circus até aos nossos dias, com o óbvio destaque para And Now For Something Completly Different (E Agora Para Algo Completamente Diferente, 1971) e Holy Grail (Em Busca do Cálice Sagrado, 1975), assim com Life of Brian (A Vida de Brian, 1979) e o filme final, The Meaning of Life (O Sentido da Vida, 1983).
São indiscutivelmente os pais da comédia moderna, com a insistente fórmula britânica do insólito e non sense, e marcaram várias gerações, mesmo já não realizando um trabalho há quase trinta anos (em conjunto...).
Como é possível esquecer os vários ataques de escoceses, com as camisas amarradas à cabeça e em trajes de mineiros, o famoso jogo de futebol entre os filósofos gregos e alemães, ou os pajens, acompanhando a trote com o som de dois cocos o seu cavaleiro apeado em plena busca do Graal.
Este sim, unidos, jamais serão vencidos!