terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pelo Tempo: "Cannes – Cinema e Justiça" (2011-07-07)


As injustiças têm de ser combatidas, e mesmo vivendo num clima muito complicado em Portugal, existe infelizmente sempre alguém que se encontra em situação pior. Volto a referir a situação de Jafar Panahi, realizador iraniano sobre o qual já escrevi neste espaço, e que continua em prisão domiciliária e proibido de trabalhar durante 20 anos!
Mas a comunidade internacional não esquece esta situação, e prova disso é o facto de ter sido apresentado um filme seu, produzido quase clandestinamente, no renomeado Festival de Cannes, depois de no ano passado ter sido proibido pelas autoridades iranianas de nele participar enquanto membro do júri.
Cannes sempre teve um toque de irreverência, e se deve o seu início ao inconformismo perante o fascismo alemão e italiano, no fim dos anos 30, acaba por ter a sua primeira edição em 1946, tendo uma continuação intermitente devido a problemas financeiros.
Ganhou uma grande conotação “cor-de-rosa”, ao tornar-se de facto um dos eventos mais glamorosos do planeta, e um momento fundamental para o turismo no sul de França, mas sempre elevando a sua qualidade cinematográfica.
É o grande encontro mundial da indústria cinematográfica, onde os profissionais da área tem oportunidade de encontrar apoios, gerar mega projetos e internacionalizar ainda mais os seus contactos. Desde os anos 60 que realizam durante o festival o Mercado do Filme, que conta com mais de 10.000 participantes e 4000 filmes, sendo o principal mercado do mundo.
O seu ponto forte talvez seja o delicado equilíbrio entre a alta qualidade artística e o impacto comercial dos filmes apresentados, garantindo uma publicidade e divulgação a nível internacional, mas mantendo sempre a importância da noção de “cinema de autor para uma grande audiência”.
Este ano, entre 11 e 22 de maio, foram muitos os que pretenderam almejar os referidos prémios, desde o filme de abertura do festival, “Midnight in Paris” de Woody Allen ao filme biográfico sobre Nicolas Sarkozy, “La Conquête”.
Muitas vedetas passaram pelo evento, como os mediáticos Angelina Jolie e Brad Pitt, os representantes europeus Nanni Moretti e Pedro Almodôvar, ou os destaques do ano, com o realizador de “A Árvore da Vida”, Terence Mallick e o membro do júri, Robert De Niro.
Um dos momentos quentes foi a apresentação do filme de Panahi, “In Film Nist” (Isto Não é um Filme), uma espécie de diário biográfico sobre um artista impedido de trabalhar... Outro corajoso realizador iraniano conseguiu também produzir um filme nas barbas das autoridades, Mohammad Rasoulov, com “Be Omid-e Didar” (Adeus), retrata a vida de um advogado em Teerão que tenta sair legalmente do país, encontrando várias dificuldades.
Outro momento quente acabou por serem as “difamatórias” declarações do louco Lars von Trier sobre a sua “compreensão por Hitler”. Do seu filme, “Melancolia”, destaca-se a vitória para a melhor actriz, Kristen Dunst.
A Palma de Ouro, o mais prestigiado prémio, foi para o esperado filme de Malick, “A Árvore da Vida”, tendo Jean Dujardin ganho o prémio de melhor actor, em “The Artist”. Destaque ainda para o Grande Prémio, com o empate entre "O Garoto de Bicicleta", de Jean-Pierre e Luc Dardenne, e "Once Upon a Time in Anatolia", de Nuri Ceylan.
Ao nível das revelações e da inovação, destaque para cinco filmes e os seus respectivos realizadores: “Polisse”, de Maïwenn Le Besco (filha de Luc Besson, o conhecido actor francês); “Drive”, de Nicolas Winding Refn; “Take Shelter”, de Jeff Nichols (com pretensão aos Óscares…); “Return”, de Liza Johnson; e “Elena”, de Andrei Zvyaguintsev.
Agora resta esperar pelas estreias em Portugal, e como dizia o outro: “bons filmes”!

PS. Já os vi quase a todos, passado mais de um ano, com destaque para o próprio filme de Panahi e o de Woody Allen.

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