quinta-feira, 30 de agosto de 2012

David Fonseca: o artista português

David Fonseca - Seasons: Rising (2012)

Tento sempre que posso ouvir música portuguesa, e sou um defensor dos nossos artistas, principalmente quando cantam em português. Não é esse o caso, infelizmente, de David Fonseca. Neste quinto álbum David Fonseca partilha algo mais que música, conferindo uma história pessoal, associada ao calendário do ano, connosco.
Sempre bem acompanhado musicalmente, o resultado foi um excelente disco, com um som que nos preenche de facto a alma, e onde se notam influências de muitos e bons músicos.
Percebo que o David Fonseca, como outros, se sinta um cidadão do mundo, e que o inglês é de facto a língua no planeta que mais facilmente transmite uma mensagem "universal", mas se o encontrasse, dir-lhe-ia certamente: "David, por favor, grava um disco em português!"

PS. Ficaria para a história da música portuguesa, não tenho dúvidas...


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Leituras: o poder de Orhan Pamuk


Orhan Pamuk - A Cidadela Branca (2000)

Só em 2006, depois do Nobel, é que conheci este enigmático autor, através precisamente de "A Cidadela Brnaca". Quando acabei de ler este livro, devido a uma sobreposição de tarefas, nem me apercebi do que ele me ofereceu... 
Abordei-o com esperança de ser uma experiência envolvente. Assim foi, ao acompanhar o percurso de uma vida de dois indivíduos, o mestre e um escravo, cuja relação é tão próxima que os seus cérebros e corações se unem e desunem diariamente.
Viagem em busca da identidade, ou do próprio conceito de identidade e individualidade, em Istambul do século XVII. Um escrito tipo diário recuperado, é também um chamamento à introspecção por parte do leitor, principalmente depois de acabar o livro. Excelente!

Sinopse:
Em pleno século XVII, num mundo misto de fantástica sabedoria e de assustadora barbárie, um jovem estudante italiano viajava tranquilamente de Veneza para Nápoles quando foi capturado por piratas turcos. Após algumas voltas e reviravoltas do destino, torna-se escravo de um estranho cientista turco , conhecido como o Mestre. 
Este sábio, ávido pelo conhecimento científico e progressos intelectuais do Oeste, procura, recorrendo ao diferente saber do prisioneiro, conseguir o seu aperfeiçoamento intelectual e científico, e nos anos que se seguiram o escravo ensina ao Mestre o que ele aprendera no velho continente, da medicina à pirotecnia. Mas Hojas, o Mestre quer mais: quer saber o porquê de serem quem são e até que ponto, uma vez desvendados e trocados os seus mais íntimos segredos, as suas identidades não serão confundidas ou trocadas.



terça-feira, 28 de agosto de 2012

Pelo Tempo: "PTP, PAN ou PLD? – Parte II" (2011-05-10)


Nesta segunda parte da viagem pelo panorama político-partidário português, começo pelo único partido de cariz regional aceite em Portugal, o “nosso” Partido Democrático do Atlântico (PDA), fundado já em 1979, e presidido atualmente por Manuel Costa. Denomina-se de centro, mas luta fundamentalmente por uma autonomia mais ampla das regiões autónomas portuguesas (Açores e Madeira). Concorre em todos os círculos dos Açores, assim como por Lisboa, onde já tem uma filial. Também no norte do país aparece em alguns círculos, mas numa pouco ortodoxa coligação com o Movimento Partido do Norte, sendo que os elementos deste movimento (não aceite como partido) concorrem como independentes…
Outra das novidades, embora já tenha participado nas últimas eleições, é o Partido Trabalhista Português (PTP), de centro-esquerda. É já a quarta edição de um partido trabalhista em Portugal, todos entretanto extintos. Mas pode ser que dure algum tempo, pois realizou uma grande contratação no mercado de inverno: José Manuel Coelho é o novo vice-presidente, tendo recentemente afirmado que quer eleger um grupo parlamentar nas legislativas de 5 de junho e “varrer os deputados corruptos do sistema”.
O Partido da Terra (MPT), originalmente chamado de Movimento o Partido da Terra, é um partido ambientalista e ruralista fundado em 1993 por Gonçalo Ribeiro Telles. Assume-se como partido ecologista, tendo por base o humanismo e a solidariedade.
Outro nos novos partidos, e já com alguma dinâmica e impacto na sociedade portuguesa, é o Movimento Esperança Portugal (MEP), sendo o 16.º partido político português, com um posicionamento ao centro. A sua relativa visibilidade deve-se fundamentalmente ao seu líder, Rui Marques, médico e escritor, antigo alto-comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural, ativista e empresário português. Fundado em 2008, o MEP defende os princípios e valores do humanismo, cultivando assim os referenciais do bem comum, da solidariedade social, da economia social de mercado, da subsidiariedade e da democracia.
Também muito recente é o Partido Liberal-Democrata (PLD), originalmente denominado Movimento Mérito e Sociedade (MMS), existe desde 2007, sendo liderado desde o início por Eduardo Correia, tendo já concorrido a três atos eleitorais. Tem uma estratégia de comunicação muito bem elaborada, sendo a sua nova cor o azul-marinho – não fosse o seu fundador mestre em Marketing e doutor em Finanças. Este professor do ISCTE aposta a base do seu manifesto na “meritocracia” e num forte investimento na educação e formação.
O Portugal Pro Vida (PPV) é um recém-criado partido (2009), que defende os princípios da doutrina social da Igreja. Composto por pessoas de todos os quadrantes políticos, embora maioritariamente da direita conservadora, defende a revogação da lei do aborto, das recentes alterações à lei do divórcio verificadas em Portugal, e a manutenção da proibição da eutanásia. No campo da cidadania, o partido defende o voto sem limite de idade e o reconhecimento da objeção de consciência dos contribuintes - estes últimos devem poder especificar quais os usos a dar aos seus impostos.
Um dos partidos que se formou também por volta do 25 de Abril é o Partido Popular Monárquico (PPM), por iniciativa da Convergência Monárquica. Já esteve representado na Assembleia da República, mas no entanto pretende o regresso à monarquia constitucional… Actualmente tem o seu centro nevrálgico nos Açores.
De Manuel Monteiro ficou-nos a Nova Democracia (PND), fundado em 2003, de cariz conservador-liberal e eurocético, assumido defensor de um sistema presidencialista. Já participou em vários atos eleitorais, mas sempre com um resultado muito reservado, isto é, à exceção dos sucessos que José Manuel Coelho teve nas regionais da Madeira e nas últimas presidenciais.
Quase por último, temos o Partido Nacional Renovador (PNR), o único partido político português nacionalista. O seu lema é “Nação e Trabalho”, e uma das suas medidas mais controversas é a restrição da imigração e inversão dos fluxos migratórios. Já concorreu em vários atos eleitorais, sempre sem expressão, tendo obtido o seu momento mais mediático quando os Gato Fedorento “brincaram” com o cartaz colocado na Praça do Marquês de Pombal, gozando com o seu presidente, José Pinto Coelho.
No oposto extremo desta ideologia, temos o mais recente partido português, o Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN), que visa transformar a mentalidade e a sociedade portuguesas e contribuir para a transformação do mundo de acordo com valores éticos e ecológicos fundamentais. Tem uma mediática liderança em Paulo Borges, Professor de Filosofia da Universidade de Lisboa, defensor de Agostinho da Silva e ativista do Ioga. São uma minoria, mas cada vez mais politizada.
Partidos, ideias e personalidades não faltam a este rico cenário. Numa altura em que tanto mal se fala da classe política, deveria a sociedade civil tentar perceber qual a distância que deve ter perante a sua participação cívica ou política no dia a dia. Nos Estados Unidos da América, dominados por uma bipolaridade partidária clara entre centro-esquerda e direita conservadora, 18% da população está diretamente envolvida na vida política, não sendo necessariamente membros de partidos.
Em Portugal o valor é de 1%.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

OuVisto: Apocalyse Now...

Apocalypse Now (1979)

Esta incrível viagem pelo interior da selva em plena Guerra do Vietname, onde um grupo de soldados é enviado para assassinar um enlouquecido Coronel americano, é uma das jóias de Francis Ford Coppola.
Trata-se de um alucinante épico sobre guerra, recriando uma atmosfera realista mas surreal ao mesmo tempo... negro e pesado, mas um dos meus filmes favoritos!
A verdade da guerra junto com a loucura humana - é um cenário muito perto do que realmente deve acontecer...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Pelo Tempo: "PTP, PAN ou PLD? – Parte I" (2011-05-07)

Ainda falta muito para o próximo 5 de junho, dia de eleições legislativas, ou por outro lado, se calhar até falta é pouco. Num período em que as preocupações dos portugueses se centram no pavor das medidas a implementar pela “troika”, com as distrações típicas como a morte de Bin Laden ou o passado familiar nos novos concorrentes do “Peso Pesado”, existirá pouco tempo certamente para a análise, discussão e introspeção que o país precisa neste momento da sua história.
Seria interessante se todos, classe política e sociedade civil, demonstrassem um sinal de evolução no modelo de pensamento social e, num momento de exceção, existir de facto uma união em torno de um bem comum, e não de ideologias, desejo de poder ou medo da mudança.
Infelizmente, neste cenário, e com os atores atuais, parece pouco provável. No entanto, temos os partidos políticos, com um mapa bastante mais colorido do que verdadeiramente nos apercebemos. Quem verdadeiramente controla a opinião pública atualmente são os órgãos de comunicação social, com o óbvio destaque para a televisão, onde em busca das audiências se proporciona ao telespectador o que este deseja. E assim se passa ao lado de toda a representatividade política portuguesa.
Assim, teremos provavelmente 18 partidos e coligações a concorrer às eleições legislativas próximas, e não querendo ocupar o que deveria ser o papel da Comissão Nacional de Eleições, acho pertinente fazer uma rápida viagem pelos que pretendem ser nossos representantes na Assembleia da República.
Como na maioria dos países europeus, temos um parlamento representado por várias forças partidárias, embora historicamente os governos têm sido repartidos entre o PSD e o PS, ficando o PCP e o CDS-PP com a grande maioria dos restantes votos.
O Partido Social Democrata (PSD) e o Partido Socialista (PS), formados oficialmente por volta do 25 de Abril de 1974, representam as grandes ideologias sociais-democratas e socialistas, tendo sido os grandes obreiros da evolução de Portugal desde a revolução. Geraram a maioria das grandes figuras de estado do país, como Sá Carneiro, Cavaco Silva ou Mário Soares, e tem estado presentes em todos os governos até ao momento.
O Partido Comunista Português (PCP) é um partido comunista marxista-leninista e a sua organização é baseada no centralismo democrático. Fundado em 1921, é um dos partidos políticos mais antigos e com mais história e ainda ativo. Tem estado sempre presente no parlamento, assim como em algumas autarquias de referência.
O Centro Democrático Social - Partido Popular (CDS-PP) é inspirado pela democracia cristã e é aberto também a conservadores e liberais clássicos. Já integrou governos, sempre em coligação, à direita e à esquerda. Tem no forte e carismático líder Paulo Portas um importante chamariz de votos, assim como se torna recetáculo dos desiludidos à direita e centro-esquerda.
A mais recente força representativa dos portugueses é o Bloco de Esquerda (BE), nascido em 1998, da fusão de três forças políticas: a União Democrática Popular (UDP), o Partido Socialista Revolucionário (PSR) e a Política XXI, de origens socialistas, trotskistas e marxistas. Ganhou o seu lugar, dando uma nova frescura à esquerda ideológica em Portugal, e seguindo um instinto verdadeiramente humano: a união faz a força! Ao não querer participar nas negociações da “troika” e com um discurso mais extremado, pode perder alguns eleitores de esquerda moderada.
Tendo aparecido sempre em coligação, o Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV), foi fundado em 1982, e faz parte de uma história recente intermédia da política portuguesa. Tem estado quase sempre desde o seu início representado na Assembleia, via APU e CDU, e são os representantes mais visíveis do movimento ecológico em Portugal. Poderiam talvez conquistar mais respeito e votantes se concorressem sozinhos, embora talvez não conseguissem ser ouvidos…
Um dos grandes clássicos e verdadeiro símbolo de resiliência é o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP), de inspiração maoísta e fundado em 1976. Com grande atividade e espírito reivindicativo, tornou conhecidos os nomes de Arnaldo Matos e Garcia Pereira, mas por lá passaram muitas personalidades ainda hoje ligadas à vida política nacional, como Durão Barroso, Fernando Rosas ou Ana Gomes.
Outro clássico, embora com menos visibilidade, é o Partido Operário de Unidade Socialista (POUS), de ideologia trotskista, que defende a rutura com a União Europeia e a proibição dos despedimentos. Fundado em 1976, por elementos divergentes do PS, ainda hoje em dia são liderados por um dos fundadores, Carmelinda Pereira. Entre 1994 e 1999 mudou o seu nome para Movimento para a Unidade dos Trabalhadores (MUT), tendo depois retomado o nome original, assim como o seu símbolo: o punho!
Um dos partidos do que se pode intitular a “nova vaga” é o Partido Humanista (PH), fundado em 1999, de ideologia “Novo Humanismo”. Nunca teve assento parlamentar, mas em 2009 concorreu às legislativas em coligação com o MPT, e participarão nas próximas eleições em oito círculos. A forma de atuar dos humanistas pode resumir-se na seguinte frase: "Eu melhoro a minha situação enquanto trabalho para melhorar a situação de outros". A sua ação baseia-se na não-violência, na reciprocidade, e na ação voluntária e solidária. Paz e amor.
(Continua…)


PS: nem de propósito, aproximam-se novamente eleições... e importantes.