quinta-feira, 29 de março de 2012

O Guerreiro Persa (2011-01-26)


No passado dia 20 de dezembro a comunidade artística ficou chocada, embora não surpreendida, com a notícia da prisão do realizador de cinema iraniano Jafar Panahi. Foi condenado a seis anos de prisão, assim como proibido de realizar algum filme durante vinte anos! Além disso, é-lhe também negado o direito de escrever argumentos, viajar para o estrangeiro e de dar entrevistas, nacionais ou estrangeiras.
Este proeminente realizador iraniano já tinha sido preso em julho de 2009, por apoiar o candidato oposicionista Moussavi, nas violentas manifestações que se seguiram à reeleição de Ahmadinejad. Depois de uma greve de fome de cerca de 90 dias, acabou por ser libertado, para posteriormente ser preso novamente por propaganda contra o regime.
Durante todo este processo já várias figuras proeminentes do cinema manifestaram o repúdio por esta situação, apoiando o realizador e chamando a atenção do mundo diplomático, com destaque para Steven Spielberg, Juliette Binoche e Martin Scorsese.
Também os governos da França, Alemanha, Finlândia e Canadá apresentaram a sua indignação sobre o processo, que segundo algumas fontes tem a ver com o facto de o realizador ter a intenção de fazer um filme sobre o movimento oposicionista no Irão.
Jafar Panahi é um dos realizadores iranianos mais influentes da atualidade, inserido no chamado movimento “New Wave” do cinema persa. Reconhecido pela crítica e teóricos da sétima arte por todo o mundo, já ganhou importantes prémios nos principais festivais de cinema do planeta, como o Leão de Outro no Festival de Veneza ou o Urso de Prata no Festival de Berlim.
Aos dez anos de idade escreveu o seu primeiro livro, acabando por conquistar o seu primeiro prémio com essa obra, começando a fazer pequenos filmes com uma câmara de 8 mm. Posteriormente estudou cinema na Universidade de Cinema e Televisão de Teerão, e realizou alguns filmes para televisão. Trabalhou ainda como assistente de Abbas Kiarostami, a principal referência cinematográfica no Irão e uma sumidade a nível mundial. Desde então tem realizado vários filmes de sucesso e ganho vários prémios.
O seu primeiro filme a chamar atenção internacionalmente foi “Badkonake Sefid” (“O Balão Branco”), que chegou a receber uma menção no Festival de Cannes, em 1995, mas foi com “Dayehreh” (“O Círculo”), em 2000, que maravilhou a crítica e os amantes de cinema, num ataque ao terrível tratamento das mulheres no regime islâmico do Irão, ganhando o Leão de Ouro no Festival de Veneza, entre outros prémios noutros festivais.
Em 2006 foi a vez de arrecadar o Urso de Prata no Festival de Berlim, com o filme “Offside” (“Fora do Jogo”), com uma ternurenta história sobre um grupo de raparigas que se disfarçam de rapazes com vista a poderem assistir a jogos de futebol, vedados às mulheres no Irão.
Atualmente com 50 anos de idade, Panahi já fez parte também do júri de grandes festivais por todo o mundo. A nível do seu estilo cinematográfico, pode ser descrito como neorrealista, com uma ficção a roçar o documentário, e com uma crítica social mordaz, mais explícita do que Kiarostami, para comparação. Aborda temas humanitários contemporâneos do seu Irão, especificamente problemas relacionados com a situação da mulher neste regime, mas também com uma mensagem de esperança.
Para os menos atentos, pode parecer ridículo estar a dar tanta atenção a um cineasta de um país tão distante e com provavelmente filmes pavorosos de homens com túnicas e bigodes e espancar mulheres de burka! O cinema no Irão é uma grande indústria, em pleno período de crescimento, e com uma longa história de produção interna e de prémios internacionais. Por todo o planeta a cinematografia iraniana é louvada, sendo, juntamente com a China, a nação emergente do cinema na década de 90, com ciclos e mostras de por todo o mundo.
Embora atualmente o discurso mediático sobre esta região do planeta esteja fortemente conotada com os regimes totalitaristas e influências de grupos terroristas, é a base de uma das mais antigas e grandes civilizações do planeta, a Persa. Donos de um passado histórico e patrimonial riquíssimo, possuem uma história das mais antigas e complexas a nível artístico. No que diz respeito ao cinema, e passando alguns séculos para a frente, existem vestígios desde o fim do século XIX, tendo a primeira sala de cinema sido inaugurada em 1904, e cerca de 20 anos depois, criada a primeira escola dedicada ao cinema.
Durante os anos 30 produziram muitos filmes mudos, de cariz interno obviamente, desenvolvendo a indústria ao longo dos anos seguinte, tendo na década de 60 a produção de cerca de 25 filmes por ano! Foram realizadores como Siamak Yasami e Masud Kimiaie que catapultaram a economia do cinema iraniano nesta década, alterando o panorama deste definitivamente. Vários festivais foram realizados desde os anos 40 e 50, mas uniram-se todos em 1973 no grande festival de cinema de Teerão, atualmente reconhecido internacionalmente.
Mas foi o realizador Abbas Kiarostami que colocou o cinema iraniano no mapa mundial, ao ganhar a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1997, com “Taste of Cherry”, considerado juntamente com Panahi, os grandes representantes do cinema iraniano desde o fim da década de 70. Em 2006, seis filmes iranianos chegaram à fase final do Festival de Berlim, um dos maiores do mundo, tendo esse facto sido noticiado por toda a comunicação social especializada. Kiarostami é mesmo considerado um dos últimos grandes realizadores do mundo vivos.
É curioso como num estado com um regime tão duro o cinema consegue ser uma das indústrias em crescendo, visto que a censura é real, intensa e abrangente. Muitos dos grandes filmes dos vários realizadores iranianos agora conhecidos foram banidos do país e apenas apresentados fora dele. Todos os filmes de Panahi foram banidos do Irão.
Jafar Panahi é um homem de coragem, um artista e um patriota para todos os efeitos, tentando através do seu trabalho, promover um desenvolvimento social justo e democrático no seu país. O regime iraniano, por conhecer o verdadeiro poder do cinema prendeu-o, como inimigo do estado.
Que da injustiça sobre o trabalho artístico e humanidade de Jafar Panahi se faça luz, e um pequeno passo seja dado em direção à liberdade no Irão.

PS. Panahi continua sobre vigilância e prisão domiciliária no Irão. Continuará a ser um génio aprisionado.

terça-feira, 27 de março de 2012

OuVido

Beach House - Teen Dream (2010)

Ora aí está mais uma bela surpresa, recheada de criatividade e frescura, intelectualidade e bom gosto! Exatamente: adoro os Beach House. Dupla franco-americana, formados em 2004, e compostos por Alex Scally e Victoria Legrande. Possuem um atmosférico som, ao estilo dream pop ou shoegaze (fixados nos sapatos...), de ritmo lento, fazendo lembrar demoradas tardes nos anos 80, com um toque de Mazzy Star.
Este é o 3º álbum da banda, que já começa a romper aquela ténue fronteira entre o independente e o comercial, num surpreendente pop, na minha opinião, sempre em qualidade crescente desde o primeiro trabalho.
Se os primeiros trabalhos já foram referenciados pela crítica musical, principalmente a norte-americana, este disco atribuiu-lhes um estatuto confirmado, sendo considerado o 5º melhor disco de 2010 pela revista Pitchfork, e obtido outras posições de destaque pela Exclaim!, Rolling Stone e The Guardian.



quinta-feira, 22 de março de 2012

OuVisto

Win Win (2011)

Esta comédia dramática, realizada por Thomas McCarthy (Michael ClaytonGood Night, and Good Luck), retrata um desanimado advogado de meia idade (o sempre magnífico Paul Giamatti), na sua luta do dia-a-dia com a esposa e duas filhas. 
A sua paixão é no entanto a luta livre, sendo treinador da equipa do liceu local, onde, através de um negócio questionável, recebe um jovem e promissor atleta, neto de um cliente seu - o perturbado adolescente Kyle, que é acolhido pela família do advogado.
Mas depois surge a sua mãe biológica, após reabilitação de toxicodependência, e ameaça estragar esta recente paz na vida de todos...
Curiosa banda sonora, com um single feito propositadamente pelos The National, "Think You Can Wait".


quarta-feira, 21 de março de 2012

Amostra-me Cinema Português


Amostra-me Cinema Português | 21 de Março | "Viagem a Portugal" de Sérgio Tréfaut

Extra, Extra!




Amostra-me Cinema Português continua na próxima quarta-feira, dia 21 de Março, às 21h00, com a projecção do filme Viagem a Portugal, deSérgio Tréfaut, no pequeno auditório do Centro Cultural e de Congressos de Angra do HeroísmoA apresentação contará com a presença do realizador, que estará disponível para uma conversa com os espectadores, após o visionamento do filme.










Amostra-me Cinema Português é antes de tudo uma intenção de manifesto da vida através do cinema. É um manifesto.

Será apresentado um filme por mês, a uma dada quarta-feira.

Filme de Abril e respectivo dia serão anunciados no dia 21 de Março, na sessão de cinema e posteriormente publicados online.

Os bilhetes custam 2 euros. 50% de Desconto para Sócios.


mais informações:
http://amostra-me-cinema.blogspot.com/
http://burrademilho.blogspot.com


bilheteira online: 
http://culturangra.ticketbuster.net/Calendario.aspx?Ref=26&CodEspec=22091


terça-feira, 20 de março de 2012

A dor em Francis Bacon

Francis Bacon - Self Portrait (1975)
 
Francis Bacon - Self Portrait (1971)
 
Francis Bacon - Study for a Self Portrait (1985-86)

Francis Bacon - Study for the Head of George Dyer (1973)

Só para recordar: Francis Bacon (1909-1992) foi um potente pintor irlandês, mais conhecido pelo seu trabalho figurativo, de cariz austero, grotesco e audaz. É descendente do "outro" Francis Bacon, um dos pais da ciência moderna (filósofo do séc. XVI). 

Para Bacon, o tabu era o pequeno-almoço: trabalhou quase tudo o que nos choca, como as fantasias masoquistas ou pedófilas, transgressões sexuais, religião e fluídos humanos... Mas a sua visão "modernista" criou uma bela e tensa imagem da dor humana, como se vê nestes exemplos acima, nestes corpos de dor, alguns auto-retratos.

sábado, 17 de março de 2012

Da Banda Desenhada

A banda desenhada de jornal mais engraçada que encontrei até hoje. Pensativa, crítica e sem grandes artefatos. F Minus:





quinta-feira, 15 de março de 2012

E já agora, 2011! (2011-01-15)


Voltando à mesma lógica cliché, a seguir ao TOP de 2010, o que se espera de 2011! Felizmente no mundo da arte esperar algo para um ano seria mau, pois o espontâneo é essencial no mundo das artes.
Existem no entanto alguns projetos, com mais ou menos perspetivas de marketing, que vão sendo falados nas redes sociais e nos órgãos de comunicação social especializados, que merecem alguma atenção e divulgação.
Comecemos pela música, sempre de mais fácil comunicação e abrangência, mesmo sem ser da vertente mais comercial. Durante o ano de 2011, os norte-americanos Flaming Lips vão lançar uma música nova por mês, embora ainda não tenham decidido como: via download, singles em CD ou então em caixas de cereais!
A principal razão, segundo Wayne Coyne, o líder da banda, é que “passar mais dois anos a tocar as mesmas 13 músicas – é f*****", em entrevista à revista Rolling Stone. Esta banda, formada em 1983, é uma das mais aclamadas do rock alternativo dos Estados Unidos, conhecidos pelo seu estilo psicadélico e espetáculos elaborados, com fatos, bonecos, vídeos e complexos jogos de iluminação. O seu percurso é de facto deliciosamente estranho, sempre com uma postura pop, onde a melhor imagem que se pode dar dela, sem a ouvir, é a de uma pastilha elástica com ácido, do som mais melódico ao barulho mais incómodo, mas firmemente originais. De olhos nos cereais então!
Ainda na música, temos em Portugal uma feliz e orgulhosa coincidência, cada vez mais possível devido ao elevado nível que a programação cultural atingiu: dois grandes concertos no mesmo dia: a 25 de maio temos PJ Harvey em Lisboa e Philip Glass no Porto.
A primeira, já com os dois concertos esgotados (25 e 26, na Aula Magna), foi uma das artistas inglesas mais marcantes da década de 90, influenciando vários artistas da sua época e gerações seguintes de todo o planeta, sendo um verdadeiro ícone rock
No Porto, mais especificamente na Casa da Música, apresenta-se Philip Glass, um dos mais importantes compositores minimalistas deste século nos Estados Unidos. Trabalhando desde os anos 60, tem uma vastíssima obra, tendo produzido trabalhos como óperas, sinfonias, bandas sonoras e alguns trabalhos com outros músicos como Brian Eno ou Mike Oldfield. O destaque a nível das várias bandas sonoras criadas vai para a trilogia de documentários de Godfrey Reggio: Koyaanisqatsi (1982), Powaqqatsi (1988) e Naqoyqatsi (2002). Possui também um estúdio de gravação, por onde já passaram artistas como David Bowie, Lou Reed e Björk.
Passando para o universo vídeo, nomeadamente televisão e cinema, recebemos uma boa notícia: entre tantos concursos televisivos onde se tenta dar oportunidades a jovens artistas, chegou agora a vez do cinema. A iniciativa é, como seria de esperar, da RTP2, no programa “Fá-las Curtas”, e teve já a sua estreia neste mês de janeiro.
Esta busca por novos talentos do cinema faz-se pela produção de curtas-metragens de ficção, onde em cada episódio duas duplas de realizadores criam um filme em três dias, no mesmo cenário e com dois atores conhecidos, assim como recebem apoio ao nível de guarda-roupa e maquilhagem. No fim, os realizadores Joaquim Leitão e João Garção Borges avaliam as curtas e escolhem a dupla vencedora, que passam à fase seguinte.
A apresentação é de Filomena Cautela (do “5 Para a Meia Noite”), e vai para o ar aos Sábados, pelas 20h00, na RTP2, com um interessante prémio final de 10.000 euros, tendo em vista a produção de uma curta-metragem para a própria RTP, ao qual concorreram 78 duplas de jovens realizadores.
Esperemos também que a edição do concurso LabJovem 2011 tenha um elevado número de participantes, neste que se tornou o principal veículo de afirmação e descoberta de novos valores nas artes nos Açores.
Realizando-se em anos alternados (um ano para concurso, e no seguinte para a mostra dos escolhidos), vai já na terceira edição, num projeto que se baseia na promoção e incentivo de jovens criadores de várias áreas artísticas, geralmente contemplando áreas como as artes plásticas, dança, teatro, design ou fotografia.
Aos trabalhados escolhidos tem sido atribuídas bolsas de estudo no estrangeiro e em Portugal, que muito feedback positivo tem gerado. É promovido pela Direção Regional da Juventude e organizado pela Associação Cultural Burra de Milho, realizando-se aproximadamente entre maio e outubro.
Para concluir, algo mais institucional, e numa área que muito apoio tem necessitado, a fotografia. Foi recentemente anunciado pelo Ministério da Cultura que estabeleceu um protocolo com a associação cultural “Encontros da Imagem”, com vista a apoiar a participação de Portugal na 21.ª Edição do Festival de Fotografia de Bratislava, assim como para a realização de uma Mostra de Fotografia Portuguesa, no âmbito das comemorações do ano de Portugal no Brasil em 2012.
Com este apoio no valor de 40.000 euros, o Ministério da Cultura pretende sublinhar o seu apoio ao desenvolvimento de estruturas culturais nos diversos domínios artísticos, e a importância de projetar e afirmar a Fotografia portuguesa nos circuitos internacionais. Assim sim!

Miguel Rosa Costa


quarta-feira, 14 de março de 2012

OuVido


Ry Cooder - Paradise and Lunch (1974) 

Dono de uma carreira brilhante e multifacetada, já trabalhou em várias áreas da música, sendo o seu instrumento de eleição a guitarra - da qual é um verdadeiro virtuoso, ao seu próprio estilo.
Já foi considerado um dos melhores guitarristas do mundo pela Rolling Stone, mas o que lhe vale é o seu ecletismo, abrangendo desde o folk ao jazz, passado pelo country, música experimental e blues, entre outras...
Já ganhou três Grammy, e possui uma discografa interminável, entre trabalhos a solo e colaborações, certamente acima das 40 edições.
Neste magnífico e marcante disco, o destaque vai para o jazz, blues e música tradicional americana (roots), e foi o trabalho que o catapultou para o reconhecimento nacional e internacional.
Consegue misturar sons que parecem ter mais de 60 anos, com a cena experimental e inovadora dos anos 70, em que o disco foi produzido, nunca perdendo a coesão, mesmo apresentando tantos estilos diferentes. Este, que para muitos continua a ser o seu principal trabalho (embora pessoalmente prefira o divertidíssimo Chávez Ravine, 2005), acaba em beleza com o tema mais conhecido, "Ditty Wah Ditty", em parceria com o mítico pianista Earl "Fatah" Hines, representando esta sim a verdadeira "world music" norte-americana do século XX!

PS. E, já agora, a capa é o máximo!

terça-feira, 13 de março de 2012

Leituras: Hermes e Cibertexto


Luís Filipe B. Teixeira - Hermes ou a experiência da mediação (2004) 
Espen Aarseth - Cibertexto: Perspectivas sobre literatura ergódica (1997)

Desta vez são dois livros, dos tempos de uma pós-graduação em Gestão Cultural, sobre comunicação, cultura e tecnologia, termos tão antigos (inicialmente explorados na Grécia) como atuais - tecnologias de informação.

Podem ser considerados leitura técnica, mas para os verdadeiramente apaixonados por estas questões, serão necessariamente tratados de cariz filosófico, profundo e suscitador de imensas perguntas.

É a inevitável junção entre o tecnológico e o pensamento humano. As novas tecnologias e os livros, não em choque, mas em progressão natural na evolução das novas sociedades urbanas.

São obras que apresentam uma visão transdisciplinar da cultura contemporânea à luz do seu cruzamento com as problemáticas dos novos media e das tecnologias da informação.

Agora, depois da sua leitura, estou agradecido por me terem chegado às mãos, pelo Prof. Luís Filipe Teixeira e à editora “Pedra de Roseta.

quinta-feira, 8 de março de 2012

OuVisto

Farewell (2009)

"O Caso Farewell", na tradução portuguesa, é um filme francês de 2009, realizado por Christian Carion, que tive a sorte de ver graças à RTP 2, e àqueles dias em que decide programar dois bons filmes seguidos... nunca percebi bem quando e como, mas de facto brinda-nos ocasionalmente com essa situação.
Trata-se de um humano filme de espionagem, baseado em factos reais, nomeadamente na vida de um alto oficial da KGB e de um empresário francês a viver na Rússia, em plena Guerra Fria.
Uma das outras coisas boas deste filme, é a excelente interpretação de Emir Kusturica, no papel do oficial russo - muito bom: o homem canta, toca, filma, representa...

terça-feira, 6 de março de 2012

Razões Para Estar Grato

Viver numa ilha onde pela manhã, no início de março, estão 17 graus de temperatura, o sol reflete por tudo quanto é sítio, ouvindo o novo disco dos Stateless...





quinta-feira, 1 de março de 2012

Para todos os efeitos, é um TOP 10! (Janeiro de 2011)


Tinha sinceramente assegurado a mim próprio que não tentaria fazer nenhum artigo de rescaldo, num típico cliché desta época de transição entre anos, ou uma análise ao estado das coisas no mundo artístico.
Mas através de algumas leituras online e em revistas, cheguei a uma conclusão que acho interessante partilhar, no que diz respeito à música editada em 2010, e aos respectivos tops de venda e de crítica jornalística.
Efectuei então uma análise heterogénea e imparcial, utilizando como referências revistas, jornais e sites dedicados à música, uns mais comerciais e outros menos, destacando a revista Rolling Stone, a New Music Express, o Blitz, a Pitchforfk e a Bodyspace.
Optei por não ter em atenção os dados estatísticos de vendas, pois como se trata de um mercado com regras próprias, com um marketing próprio e um espaço televisivo muito específico, dominado pelas grandes empresas, torna-se difícil uma relação exacta entre a verdadeira qualidade musical de um trabalho e o seu sucesso ao nível de vendas.
Com esta abordagem, torna-se difícil, mesmo sem juízo de valor sobre o seu trabalho, inserir artistas como Lady Gaga, Shakira ou Justin Bieber, verdadeiras máquinas de fazer dinheiro, realizando grandes eventos de puro entretenimento popular.
Então, para todos os efeitos, aqui segue o Top 10 das minhas pesquisas:
10. Caribou: “Swim”. Neste terceiro disco deste projecto de música electrónica “downtempo”, com uma abordagem fresca e dinâmica alcança a maturidade, deixando antever futuros trabalhos com muita qualidade.
9. The National: “High Violet”. Influenciados pelo movimento pós-punk dos anos 90, esta banda de Nova Iorque optou por um rock mais calmo, introspectivo, mas ainda não aparecem lado a lado com outros gigantes da cena “indie”, como os Arcade Fire, embora seja este o seu quinto álbum, e desta vez pela grande editora do mundo alternativo, a 4AD.
8. Joanna Newsom: “Have One on Me”. É apenas o seu terceiro álbum, mas esta original artista, com laivos de música folk e uma postura avant-garde, proporciona-nos sempre uma fantástica e mágica audição dos seus etéreos temas. Uma das minhas favoritas desta lista.
7. Deerhunter: “Halcyon Digest”. Felizmente os Deerhunter começam a ocupar o espaço que vem logrando, com vários discos editados, e sempre com uma criatividade muito grande, num rock experimentalista, abrangendo muitas sonoridades, por vezes agressiva e barulhenta, por vezes fazendo lembrar a calma ambiência dos Sigur Rós.
6. Ariel Pink's Haunted Graffiti: “Before Today”. Banda quase desconhecida até 2004, estes norte-americanos possuem um eclético som com origens nos psicadélicos anos 60, mas com incursões no pop dos anos 80, gravando também agora pela 4AD, e com um trabalho mais consistente. A conhecer melhor.
5. Arcade Fire: “The Suburbs”. Já quase todos conhecem esta mega-banda canadiana, sendo um bom exemplo de música com qualidade, num projecto inovador e com objectivos mais artísticos do que comerciais, que atinge um importante lugar no estrelato mundial musical. Disco cheio de energia, e já com um sentido de nostalgia em relação a trabalhos anteriores.
4. Beach House: “Teen Dream”. Mais uma prova da ténue fronteira entre música comercial e independente, com a importância do som pop, neste caso mais “dream pop”. Tão bom e surpreendente quanto o álbum anterior, “Devotion”.
3. Vampire Weekend: “Contra”. Desde o lançamento do seu primeiro disco em 2007, via internet, a popularidade dos Vampire Weekend nunca mais parou de crescer, e com este trabalho alcançou a fama (nº1 nos EUA) e o reconhecimento da crítica mundial. Mais um grupo de Nova Iorque, verdadeira capital artística do planeta, actual centro da produção da música de cariz independente e alternativo.
2. LCD Soundsystem: “This Is Happening”. É o álbum do ano que aparece em mais listas ou Top 10 das fontes pesquisadas, embora em posições mais intermédias (do 1º ao 10º). Com mais um disco de qualidade, desta vez com uma sonoridade ainda mais “retro” (rebuscado aos anos 70), apresenta-nos um conjunto de rave, disco e dance punk, sempre baseado em nostálgicos sintetizadores analógicos. Também estão a chegar ao lugar de destaque que merecem, por muitos anos de bom e constante trabalho. Existem alguns rumores de que se trata do último álbum sob a égide de LCD Soundsystem…
1. Kanye West: “My Beautiful Dark Twisted Fantasy”. E chegamos ao nº1, com o inevitável Kanye West, num ano em que lhe aconteceu de tudo, quer por vicissitudes impossíveis de controlar, quer por temperamento descontrolado e infantil. É muito difícil não gostar deste disco, por mais inimigos e antipatias que West tenha criado nos últimos anos. Sendo um disco de rap, é todo ele poesia, e acima de tudo, todas as músicas tem um significado, uma história e coerência… aqui não há músicas para encher balões! Com “beats”, rimas e canções, esta obra-prima de Kanye West, o rei alternativo do rap norte-americano, coloca o artista em primeiro lugar de muitas listas e tops de 2010, sendo por alguns críticos mais extremos, a ser considerado como o futuro Michael Jackson, com um som muito diversificado, embora baseado no urbano hip-hop. Aproveito para admitir também a minha preferência por este disco, em relação a tudo o que ouvi em 2010, embora me tenha escapado muita coisa, mas enquanto fã de longa data, regozijo-me com este resultado.
Para concluir, regresso ao aspecto que deu origem a este artigo, em forma de “Best Of 2010”: a proximidade actual entre a música de cariz mais alternativo e independente e o mainstream. Também é verdade que ser indie (ou independente) está na moda, mas talvez isso mesmo tenha permitido a grandes trabalhos musicais sair da obscuridade de alguns site e blogues pouco conhecidos.
Esperemos agora pelos lançamentos de 2011, com esperança de criatividade e qualidade.

PS. Este revisitar de artigos, neste caso com pouco mais de um ano, serve-me de ponto de comparação com a minha atual visão das coisas. E neste caso da música continuo muito parecido. Aparentemente nem evolui nem regredi...