terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Pelo Tempo: "Indústrias Culturais e Criativas" (2015-05-30)


- A discussão em torno das indústrias culturais e criativas começa agora a estar mais acesa nos Açores. No entanto, a aposta neste setor – também económico! – é ainda bastante residual. O que é que falta, na sua opinião, para que haja nos Açores um efetivo desenvolvimento destas indústrias?

Num conceito atual de Indústrias Culturais e Criativas (ICC), temos uma combinação de situações, onde a criatividade é condição nuclear para o negócio, sendo no entanto a sua origem cada vez mais vocacionada para a inovação, competências e talento individual, potenciando assim a criação de trabalho e riqueza, numa época tão complexa e de crise como os dias de hoje, valorizando a propriedade intelectual. Partindo dessa definição objetiva e simplista, sempre houve na região vários exemplos de ICC de sucesso, como editoras, galerias de arte ou ateliês de arquitetura. Na minha opinião, o que se passa atualmente na região é essas empresas não conseguem obter valorização por parte da sociedade, tendo grandes dificuldades para se imporem. É observável uma falta de experiência profissional, pois trata-se de um setor em que os profissionais são muito jovens e recentemente licenciados. Por outro lado é notória a falta de conhecimento em questões de gestão financeira e estratégica de comunicação – talvez os aspetos fundamentais a trabalhar atualmente.

- Será, aliás, realista pensar na criação de um setor de indústrias culturais e criativas nos Açores? As dificuldades decorrentes da insularidade podem dificultar este processo?

Como referi, o setor já existe, e fortemente influenciado pela insularidade, como toda a nossa sociedade – ou até se calhar menos, pois estamos a falar de uma área com uma forte componente tecnológica, estando atualmente o mundo todo ligado. O problema da distância talvez se observe mais no facto de não se poder reunir pessoalmente com alguns clientes ou parceiros. Por outro lado, num hipotético projeto em rede ao nível regional, são várias as experiências que demonstram que tal ainda não é possível, pois as ilhas ainda estão muito viradas para dentro. Ainda numa terceira perspetiva, e assumindo as dificuldades decorrentes desta nossa localização e distribuição geográfica, é de salientar o papel das autarquias, pois poderão potenciar muitos projetos a nível local, e mesmo de cariz intermunicipal.


- Qual tem sido o papel dos agentes culturais da Região no sentido de clarificar este conceito e de impulsionar o desenvolvimento deste setor?

Nos últimos anos muitos projetos que provavelmente seriam catalogados de “apenas artísticos”, embarcaram em aventuras empresariais, passando assim a estarem claramente englobados neste setor económico das ICC. Não existe aqui problema nenhum, aliás, quanto mais criativo e original, melhor correrá o projeto, e mais forte será a sua identidade. Na região o papel dos agentes culturais tem sido então muito importante, pois é um setor com sensibilidade para estas questões, e acaba muitas vezes por ser o principal cliente e parceiro dos profissionais da área. Não existindo quem faça uma mediação entre o trabalho artístico e um projeto de gestão, acabamos muita vez por sentir necessidade de ter um certo papel de consultoria e apoio a muitos jovens que nos procuram.


- As instituições e o Estado tiveram e têm, no continente, um papel central na dinamização das indústrias culturais. Qual terá de ser, nos Açores, a estratégia a adotar? Universidade e Governo Regional serão dois pilares essenciais neste domínio?

Acho que sim. Mesmo abordando um setor onde a iniciativa privada e o empreendedorismo são as palavras-chave, acredito que pode existir espaço para uma entidade, de cariz associativo (privado ou público), que sirva de complemento às atividades de gestão e comunicação das várias ICC, agindo como uma plataforma de informação legislativa, divulgação de atividades, apoio técnico e mesmo representatividade. Além do Governo e da Universidade, devemos acrescentar um conjunto alargado de agentes culturais, câmaras do comércio e indústria e as autarquias, principalmente se inserirmos na discussão a importância das incubadoras de ICC, como serve a região Norte do país de bom exemplo.

Nota: Entrevista ao Diário Insular, 2015-05-30



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