segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Pelo Tempo: "A experimentar se aprende, valoriza e enriquece…" (2013-02-05)

Felizmente muito se falou do projeto musical O Experimentar Na M’Incomoda, liderado pelo faialense Pedro Lucas (radicado na Dinamarca), tendo causado sensação a nível nacional, obtendo várias referências em jornais e revistas da especialidade.
O projeto reside na reinvenção da música tradicional açoriana, onde se utiliza por base músicas do nosso folclore (podemos chamá-la assim, para simplificar…), e se insere uma nova roupagem contemporânea, criando novos ambientes sonoros.
Mas não se trata apenas de pegar no “Pezinho de São Miguel” e dar-lhe uma batida house ou hip-hop, nem de perto nem de longe – a preocupação com a sensibilidade do assunto é imensa e reflete-se no admirável trabalho editado.
Conta com a colaboração de um grupo vasto, destacando-se as participações de Zeca Medeiros, Miguel Machete, Pedro Gaspar e Jácome Armas e outros, acompanhado ainda de uma forte componente visual, numa tendência paralelamente contemporânea e de reinvenção da estética açoriana…
O seu primeiro trabalho foi editado em 2010, O Experimentar Na M’Incomoda, que dá nome ao projeto, e tem por base o disco de 1998 do terceirense Carlos Medeiros, O Cantar na m’Incomoda, também este de reinterpretações de músicas tradicionais açorianas. Destaque ainda para a excelente capa de Andrea Inocêncio, artista multifacetada que residiu e absorveu a experiência açoriana.
O segundo álbum, 2: Sagrado e Profano, apresenta-se como recriando uma festa religiosa numa freguesia açoriana, na mesma linguagem e atitude de reinvenção do disco anterior.
Muitos dos temas utilizados neste segundo trabalho são originários das recolhas efetuadas pelo Prof. Artur Santos nas décadas de 1960, assim como do disco Pastor do Verbo, sobre o terceirense José da Lata, uma edição da Direção Regional da Cultura.
Basicamente tratam-se dos meus dois primeiros projetos sérios (e remunerados…) após a conclusão da licenciatura, no início da década de 2000, tratando no primeiro da catalogação e inventariação do espólio no Museu de Angra, e no segundo realizado a pesquisa e texto que acompanhou o disco.
Esta recolha de Artur Santos é de uma importância extrema com vista à preservação da cultura açoriana, contribuindo fortemente para o conhecimento das nossas tradições orais, principal fonte do nosso vasto património imaterial e intangível, que reside, aliás, no nosso imaginário coletivo.
Em algumas anotações do riquíssimo espólio que nos deixou Artur Santos, é óbvia a admiração por José da Lata, realçando que sempre que participava na gravação de uma canção, automaticamente conferia-lhe qualidade, pela sua maneira única e singular de sentir o que cantava.
Vemos assim com este trabalho de Pedro Lucas a nossa memória e identidade cultural valorizada, relembrada e enriquecida, contribuindo com uma postura contemporânea e preocupada com a preservação da nossa identidade cultural.

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