segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Pelo Tempo: "A Força do Cinema Português nos Açores" (2012-12-15)

Nos passados dias 3 e 4 de Dezembro chegou ao fim o ciclo de cinema contemporâneo português “Amostra-me Cinema Português”, organizado pela Associação Cultural Burra de Milho, onde ao longo de todo o ano de 2012, se procedeu à exibição de um filme por mês, sempre a uma quarta-feira, no Pequeno Auditório do CCCAH.
A ideia do projeto nasceu da falta de visibilidade que estes filmes sofrem na região, e em particular na ilha Terceira, pois não conseguem estrear em salas de grandes distribuidoras, sendo um tipo de filme que podemos considerar de “autor”, logo menos comercial e dirigido para os sucessos de bilheteira e rentabilidade.
O principal reflexo deste ciclo foi o feedback positivo por parte do público, sendo que a maioria ficou a conhecer os novos grandes filmes portugueses (de 2010 a 2012), e algumas pessoas descobriram o cinema de grande qualidade, criatividade e poética visual que se faz no nosso país, tão em voga atualmente por todo o mundo.
Importante também foi o esforço de trazer à Terceira o maior número de realizadores dos filmes exibidos, como Graça Castanheira, Sérgio Tréfaut e Gonçalo Tocha, entre Fevereiro e Dezembro de 2012, que estiveram em conversa com o público presente, antes e depois da exibição dos filmes.
Num cinema mais preocupado com o “espetador” do que com o “público”, é de realçar o número de bilhetes vendidos, estando a maioria das sessões com uma audiência muito considerável para o tipo de cinematografia, o que demonstra o conhecimento e interesse cinéfilo que ainda existe na ilha.
Existiram momentos altos durante o evento, podendo-se destacar a estreia do filme de Gonçalo Tocha, em parceria com o Instituto Açoriano de Cultura, esgotando o CCCAH e o Auditório do Ramo Grande, em noites consecutivas, com o filme sobre o Corvo, “É na Terra, não é na Lua”, ou a exibição do filme sobre José Saramago, de Miguel Gonçalves Mendes, perto da data da sua morte, e finalmente, a estreia regional de “Deste Lado da Ressureição”, de Joaquim Sapinho.
Na sessão dupla de encerramento referida (3 e 4 de Dezembro), foi também exibido “Um Filme Português”, documentário sobre o cinema atual nacional, em jeito de súmula do que foi exibido ao longo do ano, com a presença de um dos realizadores, Jorge Jácome, encerrando-se a noite com uma “conversa” sobre essa atualidade, a que se juntou Vítor Marques, do Cine Clube 9500 (Ponta Delgada).
Este projeto teve de facto um valor significativo no enriquecimento das pessoas que por lá passaram, contribuindo para o desenvolvimento social da ilha, felizmente agraciado por uma interessante quantidade de apoios recebidos, desde a Direção Regional da Juventude, à própria Culturangra/CMAH, RTP-Açores, NewCopy e ViaOceânica.
Terminando então em grande esta mostra, a estreia do mais recente filme de Joaquim Sapinho foi uma sessão deslumbrante. Este reconhecido realizador português (nascido no Sabugal, em 1965), oferece-nos uma verdadeira pérola cinematográfica, onde “sofremos de prazer” com as interrogações e angústias da vida, na eterna busca pela capacidade de amar por parte da nossa humanidade.
Depois de filmes como “Corte de Cabelo” (1995), “A Mulher Polícia” (2003) e “Diários da Bósnia” (2006), o seu grande projeto de trabalho foi este filme, em produção há cerca de 10 anos, atingindo desde 2011 um reconhecimento internacional merecido.
Como refere Laura Quinteiro Brasil, na folha de sala que acompanhou a sessão, trata-se de “um filme sobre a procura do próprio eu, é um filme sobre a necessidade de renascer (…) este filme é este e o outro lado da ressurreição”.
Para 2013 ficou a promessa por parte da organização de desenvolver um projeto semelhante, mas centrado no cinema realizado e produzidos nos Açores, ainda em fase de recolha de apoios financeiros e logísticos, condição essencial à sua realização.

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