Nos
passados dias 3 e 4 de Dezembro chegou ao fim o ciclo de cinema
contemporâneo português “Amostra-me Cinema Português”,
organizado pela Associação Cultural Burra de Milho, onde ao longo
de todo o ano de 2012, se procedeu à exibição de um filme por mês,
sempre a uma quarta-feira, no Pequeno Auditório do CCCAH.
A
ideia do projeto nasceu da falta de visibilidade que estes filmes
sofrem na região, e em particular na ilha Terceira, pois não
conseguem estrear em salas de grandes distribuidoras, sendo um tipo
de filme que podemos considerar de “autor”, logo menos comercial
e dirigido para os sucessos de bilheteira e rentabilidade.
O
principal reflexo deste ciclo foi o feedback positivo por parte do
público, sendo que a maioria ficou a conhecer os novos grandes
filmes portugueses (de 2010 a 2012), e algumas pessoas descobriram o
cinema de grande qualidade, criatividade e poética visual que se faz
no nosso país, tão em voga atualmente por todo o mundo.
Importante
também foi o esforço de trazer à Terceira o maior número de
realizadores dos filmes exibidos, como Graça Castanheira, Sérgio
Tréfaut e Gonçalo Tocha, entre Fevereiro e Dezembro de 2012, que
estiveram em conversa com o público presente, antes e depois da
exibição dos filmes.
Num
cinema mais preocupado com o “espetador” do que com o “público”,
é de realçar o número de bilhetes vendidos, estando a maioria das
sessões com uma audiência muito considerável para o tipo de
cinematografia, o que demonstra o conhecimento e interesse cinéfilo
que ainda existe na ilha.
Existiram
momentos altos durante o evento, podendo-se destacar a estreia do
filme de Gonçalo Tocha, em parceria com o Instituto Açoriano de
Cultura, esgotando o CCCAH e o Auditório do Ramo Grande, em noites
consecutivas, com o filme sobre o Corvo, “É na Terra, não é na
Lua”, ou a exibição do filme sobre José Saramago, de Miguel
Gonçalves Mendes, perto da data da sua morte, e finalmente, a
estreia regional de “Deste Lado da Ressureição”, de Joaquim
Sapinho.
Na
sessão dupla de encerramento referida (3 e 4 de Dezembro), foi
também exibido “Um Filme Português”, documentário sobre o
cinema atual nacional, em jeito de súmula do que foi exibido ao
longo do ano, com a presença de um dos realizadores, Jorge Jácome,
encerrando-se a noite com uma “conversa” sobre essa atualidade, a
que se juntou Vítor Marques, do Cine Clube 9500 (Ponta Delgada).
Este
projeto teve de facto um valor significativo no enriquecimento das
pessoas que por lá passaram, contribuindo para o desenvolvimento
social da ilha, felizmente agraciado por uma interessante quantidade
de apoios recebidos, desde a Direção Regional da Juventude, à
própria Culturangra/CMAH, RTP-Açores, NewCopy e ViaOceânica.
Terminando
então em grande esta mostra, a estreia do mais recente filme de
Joaquim Sapinho foi uma sessão deslumbrante. Este reconhecido
realizador português (nascido no Sabugal, em 1965), oferece-nos uma
verdadeira pérola cinematográfica, onde “sofremos de prazer”
com as interrogações e angústias da vida, na eterna busca pela
capacidade de amar por parte da nossa humanidade.
Depois
de filmes como “Corte de Cabelo” (1995), “A Mulher Polícia”
(2003) e “Diários da Bósnia” (2006), o seu grande projeto de
trabalho foi este filme, em produção há cerca de 10 anos,
atingindo desde 2011 um reconhecimento internacional merecido.
Como
refere Laura Quinteiro Brasil, na folha de sala que acompanhou a
sessão, trata-se de “um filme
sobre a procura do próprio eu, é um filme sobre a necessidade de
renascer (…)
este filme é este e o outro lado da ressurreição”.
Para
2013 ficou a promessa por parte da organização de desenvolver um
projeto semelhante, mas centrado no cinema realizado e produzidos nos
Açores, ainda em fase de recolha de apoios financeiros e logísticos,
condição essencial à sua realização.
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