sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Pelo Tempo: "Direitos Humanos no Cinema Português" (2012-04-06)

No passado dia 21, e inserido no “Amostra-me Cinema Português”, iniciativa da Associação Cultural Burra de Milho, que ao longo ao ano exibirá cerca de 12 filmes portugueses no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, sempre a uma quarta-feira de cada mês, decorreu a segunda sessão, desta vez com o filme “Viagem a Portugal”, contando com a presença do realizador, Sérgio Tréfaut.
É decidida e assumidamente um filme político, que incide sobre os procedimentos do controle de estrangeiros nos aeroportos portugueses, e que se baseia numa história verídica. Maria é uma ucraniana que vem passar o ano a Portugal, onde a espera o seu marido, senegalês, que se encontra a trabalhar nas obras da Expo’98. E aí desenrola-se todo o penoso e humilhante processo de interrogatório, suspeição e detenção…
Como afirma o próprio realizador, trata-se de um filme “alternativo, experimental e baseado numa história real”. Acrescento que imprimiu uma sobriedade e modernidade à história, num filme a preto e branco, onde os contrastes ajudam à intensidade do filme, assim como a utilização da repetição de diálogos de vários ângulos e separadores monocromáticos, tudo em prol de uma dramaticidade, que se exigia perante tão sensível temática.
Este filme já arrecadou alguns prémios, como a Taiga de Ouro no festival “Spirit of Fire”, na Rússia, destinado a primeiras obras, ou no Faial Film Fest (Prémio do Público) e ainda nos Caminhos do Cinema Português (melhor longa-metragem e melhor atriz secundária). Aliás, as duas interpretações femininas são sublimes, com Maria de Medeiros a interpretar a jovem ucraniana e Isabel Ruth a inspetora do SEF que a interroga.
“Viagem a Portugal” é a primeira experiência de ficção de Sérgio Tréfaut, um dos maiores nomes no cinema documental português, com os filmes “Lisboetas” e “Cidade dos Mortos”, e pelo seu trabalho desenvolvido no festival DocLisboa. Foi talvez o primeiro realizador de documentários a ter filmes com vários milhares de espetadores em salas de cinema em Portugal (e no estrangeiro).
Mas Tréfaut é também um militante de causas, principalmente relacionadas com movimentos migratórios, tema recorrente no seu trabalho, assumindo-se como um ativista dos direitos dos emigrantes. Neste filme fomenta nitidamente o debate sobre o funcionamento da polícia, dos serviços de estrangeiros e da sociedade civil em geral, onde milhares de cidadãos são interrogados à saída dos aviões, e centenas são recambiados para os seus países de origem – e não são criminosos nem traficantes, mas sofrem na pele a humilhação e violência psicológica que todo esse processo representa.

PS. Adoro recordar... (não que já me tivesse esquecido!)

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