quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pelo Tempo: "Ai Ai Wei Wei!" (2012-02-08)

Por mais do que uma vez utilizei esta espaço com textos sobre a ligação entre direitos humanos e arte, mais especificamente sobre o realizador iraniano Jafar Panahi. Existe uma certa lógica nesta relação, pois não é a essência da arte um grito de revolta? Seja percecionada como bela ou não, mas existe uma mensagem, algo a constatar ou alertar.
O mais recente caso que tem alertado a comunidade artística internacional, e não só, refere-se ao fabuloso artista plástico chinês Ai Weiwei. Nascido em 1957, é o mais prolífico artista e activista chinês da actualidade, percorrendo desde a arquitectura ao cinema, sempre com um pendor de crítica social, atacando o governo chinês sobre questões óbvias de democracia e direitos humanos.
Estudou cinema da Academia de Cinema de Pequim, e depois viveu uns anos nos Estados Unidos, até 1993, passando pela Parsons School of Design, sempre criando arte bastante conceptual, alterando objectos banais, como vasos ou jarros.
Regressa à China devido a doença do pai, e logo começa a estabelecer uma nova vaga de modernismo artístico, criando primeiro uma espécie de East Village em Pequim e depois publicando três livros sobre a nova geração de artistas chineses. Desde então tem sido muita a sua produção, desde a criação de empresas de design e arquitectura, até a um arquivo de arte contemporânea chinesa.
Já expôs por todo o mundo, em todas as instituições de referência, assim como em todas as bienais de renome, como Veneza e São Paulo e na Documenta. Aliás, a sua participação nesta última, o principal evento mundial de arte contemporânea, em 2007, é significativo da sua criatividade: espalhou por todo o espaço da exposição 1001 cadeiras antigas chinesas, e construiu uma estrutura no exterior com 1001 portas recuperadas de casa das dinastias Ming e Qing. Depois trouxe 1001 pessoas consigo da China para uma pequena cidade alemã, recrutadas pela internet. Criou as roupas e malas para usarem, e a lógica era circularem pela cidade durante três meses, enquanto habitavam numa antiga fábrica têxtil, também recuperada e redesenhada por Ai Weiwei.
As suas imagens mais mediáticas, são os vasos, tipo dinastia Ming, pintados com o logótipo da Coca-Cola, assim como a sua instalação “Sunflowers Seeds” (Sementes de Girassóis), na renomeada Tate Gallery em Londres, em Outubro de 2010. Esta última consistia em cem mil sementes de girassol feitas em porcelana, pintadas à mão por 1600 artesãos chineses, espalhados por uma vasta área da galeria, solicitando mesmo aos visitantes que andassem e rolassem por cima das sementes, com vista a experimentarem e contemplarem a essência dos seus comentários sobre o consumo de massas, indústria chinesa, fome e trabalho colectivo. Em Fevereiro de 2011 venderam-se 100 quilos de sementes por cerca de 600 mil euros, na Sotheby’s de Londres, muito acima do esperado!
Depois de várias detenções e ataques, foi preso novamente em Abril deste ano, supostamente por não ter pago os impostos relativos a uma empresa de arquitectura que possui. Durante uma semana nem a sua família soube onde se encontrava.
É óbvio que o seu trabalho é provocatório, e num país como a China acabaria por ser preso mais cedo ou mais tarde. Mas a resposta internacional foi imensa, a começar pela organização da campanha “Libertem Ai Weiwei” através de arte de rua, dando origem a centenas de grafitis por todo o mundo exigindo a sua libertação, até à colocação de uma grande faixa pela própria Galeria Tate, à condenação do acto pela União Europeia e Governo dos Estados Unidos.
A comunidade internacional mobilizou várias petições e movimentos, tendo sido a mais simbólica a “1001 Cadeiras para Ai Weiwei”, onde a 17 de Abril artistas de todos o mundo foram convidados a levarem cadeiras para a frente de embaixadas e consulados chineses por todo o planeta.
Assim, a 22 de Junho, as autoridades chinesas libertaram finalmente Ai Weiwei, sobre caução, e encontrando-se proibido de sair de Pequim por um ano. Ficou também inibido de utilizar a internet e em particular as redes sociais, algo que… mal teve oportunidade, não cumpriu. Recentemente, via Twitter, garantiu ter sido detido ilegalmente, e apenas pelas suas opiniões. Foram apenas três mensagens, pois esta rede encontra-se proibida na China, e é necessário furar o sistema para ter acesso. Nelas, descreve o estado de alguns colegas na prisão, denunciando os danos e torturas a que são sujeitos.
É sem dúvida curiosa a utilização de materiais com referências tanto antigas por parte deste artista, como os vasos da dinastia Ming, pois em pleno século XXI continuam a haver atropelos desta dimensão no que diz respeito aos direitos humanos e liberdade. Sabemos que a China é um caso bicudo (sem segundas intenções), mas cada um à sua maneira tem de tentar agir com vista ao fim destas situações.

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