quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Pelo Tempo: "Festivais Para Todo o Gosto" (2011-07-15)

Novo governo, novas regras, o mesmo medo. É Portugal, na sua sintomática realidade, da qual não se desprende por um conjunto infinito de maus hábitos há muito instalados… mas isso é mesmo assim, e o que gostamos é de festa!
Nem quero abordar o cliché cultural dos açorianos (e terceirenses em particular) serem especialistas em festa, mas sim o que se passa ao nível nacional: só quatro festivais de música de verão vão receber cerca de 500 mil pessoas!
Combatendo a crise com nomes ainda maiores e estrategicamente mais aliciantes para o público, a austeridade não se demonstra nos festivais de grande dimensão a realizar este ano. Tivemos o Optimus Alive, com um orçamento de 6,5 milhões de euros, e talvez uma das melhores razões para sucumbir ao calor de Lisboa no verão: os Coldplay, banda inglesa que atualmente arrasta multidões aos palcos europeus, roubando a primazia aos eternos U2.
Depois, ainda em julho e agosto, também se esperam grandes enchentes nos festivais do Sudoeste TMN e Super Bock Super Rock, ultrapassando as vendas do ano passado, e com uns interessantes 15% de público estrangeiro.
Numa outra dimensão, mas ainda com alguma importância, temos o Festival Paredes de Coura, também em agosto, e com orçamento reforçado, superior a 2 milhões de euros, empregando cerca de 500 pessoas numa zona do interior do país.
Além dos mediáticos artistas que passam por estes grandes eventos, de tendência megalómana e massificada, muitos outros decorrem em Portugal durante o verão, com outra dimensão, e necessariamente, outra atenção ao pormenor.
Gostaria de destacar o Festival Med, que se realiza em Loulé, por onde passaram 22 mil pessoas em quatro dias, contando este ano com George Clinton (o pai do funk!) como cabeça de cartaz. Trata-se da oitava edição de um festival dedicado apenas à música do mundo, no centro histórico de uma pequena e turística cidade algarvia. São seis palcos no centro histórico, restaurantes, exposições e teatro a acontecer pela cidade, que ainda contou este ano com os Afrocubism e os Balkan Brass Battle.
Mas o grande momento em Portugal dedicado exclusivamente à música do mundo é o FMM (Festival Músicas do Mundo), que se realiza em Sines desde 1999. No ano passado estiveram cerca de 90 mil pessoas, distribuídos por quatro dias, vários palcos e atividades, sendo o destaque para a edição de 2011 a presença dos galegos Berrogüeto e da brasileira Luísa Maita, assim como do projeto “O Experimentar Na M’Incomoda”, onde a música tradicional açoriana é reinventada através do digital, numa ideia de Pedro Lucas.
No que diz respeito à música de tendência erudita, que muito público tem em Portugal, deve-se realçar o Festival de Sintra, em julho, na sua 46ª edição, e pela mesma altura, o Festival Internacional de Música de Espinho, este na sua 37ª edição, e sempre com um cartaz de exceção.
Mas muitos outros festivais acontecem em Portugal durante o verão, alguns ganhando já notória dimensão, como o Delta Tejo, com músicas originárias de países produtoras de Café, no início de julho, em Oeiras; o Festival Marés Vivas, a meio de julho em Vila Nova de Gaia, e em setembro a eterna Festa do Avante, com um cariz mais específico, mas muito festivaleiro!
Outro festival que vem ganhando nome e respeito é o CoolJazz Fest, realizando-se no fim de julho, este ano com vários nomes, entre os quais Seal, Cuca Roseta e Maria Rita.
Saindo da música, temos o aclamado Festival de Teatro de Almada, na sua 28ª edição, que além de espetáculos, inclui ainda exposições, colóquios e debates, entre 4 e 18 de julho, em Almada, Lisboa e Porto.
A nível regional também não ficamos atrás, pois nos últimos anos tem-se consolidado o conceito de festival, muito devido à redescoberta mobilidade entre ilhas, via Atlanticoline. Começando logo em junho pelas Sanjoaninas, que oferecem sempre um cartaz único, seguido pelas Festas da Praia (início de agosto), a Maré de agosto e o Azurre, durante o mês de agosto, e estes talvez com um conceito mais perto de festival, e em setembro, a concluir, o AngraRock.
Por fim, gostava de falar de dois festivais menos comerciais e se quisermos, ligeiramente “alternativos”: o Festival Para Gente Sentada, em Santa Maria da Feira, dedicado apenas a cantautores, tendo já passado por lá nomes como Sufjan Stevens ou Davendra Banhart; e o Festival ao Largo, com música sinfónica e coral, dança e bailado ao ar livre, tudo isto à porta do Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, e com acesso gratuito.
Bom verão!


PS. Vem a jeito, recordar este artigo, em plena fase de trabalho para um projeto da Associação Cultural Burra de Milho, com o apoio da Direção Regional da Cultura, com vista à realização de um documentário sobre o mítico festival da Riviera, o "Musical Açôres 1976".


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