quarta-feira, 18 de abril de 2012

Antero, o Grande

Antero de Quental, por Columbano Bordalo Pinheiro



Hoje relembra-se Antero de Quental, o Grande. Até o Google aderiu à homenagem, deste pensador muito à frente do seu tempo, mas que cumpriu o seu papel, contribuindo para um dos mais criativos e críticos movimentos portugueses.

Fica abaixo um dos meus poemas preferidos de Antero, um carismático homem, que no meio do seu génio e da sua loucura, disse, pouco tempo antes da sua morte, a uns amigos em Lisboa: "Descansa-se!... se no tédio doloroso de nós mesmos encontramos a força para nos sumirmos."


Evolução

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo 
tronco ou ramo na incógnita floresta... 
Onda, espumei, quebrando-me na aresta 
Do granito, antiquíssimo inimigo... 

Rugi, fera talvez, buscando abrigo 
Na caverna que ensombra urze e giesta; 
O, monstro primitivo, ergui a testa 
No limoso paúl, glauco pascigo... 

Hoje sou homem, e na sombra enorme 
Vejo, a meus pés, a escada multiforme, 
Que desce, em espirais, da imensidade... 

Interrogo o infinito e às vezes choro... 
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro 
E aspiro unicamente à liberdade. 

Antero de Quental, in "Sonetos"

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