quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A crise, o vulcão e a música (2010-10-05)

Da Islândia não nos vem apenas a crise e o vulcão (assim como uma vitória da selecção), mas acima de tudo música!
Trata-se de um país com uma população de 320 mil habitantes, quase a mesma que nos Açores, embora com uma área maior do que Portugal Continental (cerca de 100 mil quilómetros quadrados). Aliás, e sem juízos de qualquer tipo, as poucas semelhanças que existem connosco resumem-se ao facto de ser uma ilha, aos seus muitos fiordes (tipo fajãs) e a vários sítios de cariz geotérmico (tipo furnas). Enquanto sociedade, são extremamente liberais, com uma das mais altas taxas de literacia do mundo (99%), auto-suficientes e independentes – toda a electricidade é fornecida através de energias renováveis, como a geotermal ou a hidráulica!
A nível musical, possuem uma tradição baseada em canções folclóricas sobre amor, duendes e marinheiros, que manteve certas características desaparecidas em outros países nórdicos. O destaque vai para um tipo de canção, chamada “hákveöa”, que se refere a um especial ênfase dada a certas sílabas das palavras que compõem as letras, assim como existem muitas canções “à capela”, originárias ainda dos tempos dos Vikings. Para a actualidade parece ter subsistido esse aspecto contemplativo e abstracto, com paisagens muito extensas, gelo a perder de vista, muito monótono…
Com um destaque óbvio para a artista Björk, considerada mesmo a islandesa mais famosa do mundo, existem outras referências musicais internacionais deste pequeno país, como os míticos The Sugarcubes, os Sigur Rós e a recente sensação Emiliana Torrini.
Se nos Sigur Rós conseguimos claramente personificar a imagem apresentada da cultura islandesa, produzindo um som hipnótico, de cariz sensorial e angélico, já com os The Sugarcubes temos o oposto, com um rock irreverente e energético, que contava com a voz de Björk para congregar tudo. Mesmo tendo a banda terminado em 1992, deixaram um grande legado e influência a bandas de todo o mundo. Por outro lado Emiliana Torrini, sensual e elegante, consegue ter uma linguagem actual, com uma base electrónica, nitidamente influenciada por outras bandas islandesas menos conhecidas, mas de grande importância para o cenário actual como os GusGus ou os Múm.
A cena “indie” é muito forte na Islândia, talvez por ser apenas uma moda, talvez pelos vários exemplos de sucesso, talvez por uma característica identitária com base no seu isolamento e solidão, quem sabe… Mas nestes últimos anos deu-se um grande desenvolvimento da música na Islândia, quer a nível comercial, quer a nível alternativo, devido sem dúvida a bandas que atingiram um certo estrelado como os já referidos GusGus, ou então o caso dos The Funerals ou Ólafur Arnalds, para o que tem fortemente contribuído o “Icelandic Airwaves”, um festival internacional anual, realizado nos vários clubes da capital Reiquiavique.
Mas o que de facto é impressionante, e que me levou a escrever este artigo é a quantidade de bandas musicais existentes no país, das mais variadas áreas, e acima de tudo, com grande qualidade. Num país com a mesma população de que os Açores, embora num contexto geográfico e histórico completamente diferente, conseguem apresentar garantidamente mais de 50 bandas já com alguma dimensão, para não falar nas centenas de bandas que existem nos liceus, universidades e clubes desta gelada ilha.
Aqui ficam alguns exemplos de qualidade e de relativo sucesso: Apparat Organ Quartet, FM Belfast, Amiina, For a Minor Reflection, Strafraenn Hákon, Daníel Ágúst, Einar Orn, Jóhann Jóhannsson, Jónsi & Alex, Sin Fang Bous, Óllöf Arnalds e Steindor Andersen.
Que a seguir à crise, ao vulcão e à vitória portuguesa, usufrua de uma boa audição de música islandesa!


Nota: na altura já sonhávamos com a ida da selecção ao Europeu, assim como com o fim da crise...

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