Ao
longo dos anos temos vindo a olhar para o domínio da cultura com outros olhos,
acompanhando a evolução económica e social do mundo, e percebendo a importância
das políticas culturais no desenvolvimento de uma comunidade.
Primeiro,
e talvez o mais importante, tem-se vindo a perceber que é um campo conceptual
específico, ou seja, que existem especialistas em cultura. Como tema muito caro
a todos, desde o património às artes de espetáculo, gera sempre alguma
discussão e controvérsia, pondo facilmente em causa opções por parte dos
programadores dos vários equipamentos culturais.
Mas
existe um número cada vez maior de profissionais da cultura, que se formam,
trabalham e aprendem diariamente com atividades que consideramos culturais.
Desde os programadores culturais, aos responsáveis pela logística, passando
pelos técnicos de som e luz, e aos artistas, evidentemente, representando um
extenso grupo profissional, e que muito tem batalhado pelo seu reconhecimento
legal.
Estabelecido
o campo teórico independente, e realçada a importância das políticas culturais,
não há estado ou governo, democrático ou ditatorial, que não entenda o
investimento nesta área como fundamental. O seu objetivo é sempre o
fortalecimento da cidadania e a inclusão social, onde todos participam,
artistas, profissionais e públicos.
O
que tem faltado recentemente é a participação popular – a intervenção da
sociedade civil. Se as decisões sobre as políticas culturais são, e bem,
centralizadas nos governos centrais e regionais, assumindo uma responsabilidade
sobre a esfera pública, a iniciativa ao nível da criatividade e promoção de
eventos transdisciplinares que envolvam mesmo a própria comunidade tem de
partir da sociedade civil: grupos, associações ou indivíduos. À exceção de
algumas galerias (privadas ou cooperativas), grupos de teatro ou associações,
quase toda a intervenção cultural é feita ao nível das administrações: central,
regional e sobretudo municipal.
Uma
das dimensões mais importantes e mais abordadas por recentes projetos de
investigação é a democratização cultural. No que diz respeito à criação e
fruição, pode significar a formação e democratização da estrutura social dos
públicos e dos agentes culturais, assim como a promoção de valores culturais humanistas e
críticos. É um assunto de grande importância, e merece ser
investigado, trabalhado e divulgado, sendo um dos principais indicadores de
evolução numa sociedade, assumindo-se que quanto melhor acesso, mais
democracia. Existe ainda uma definição mais perto do pensamento francófono, que
se centraliza na democratização da chamada “cultura cultivada”, portanto,
atividades culturais com forte cariz artístico, como a ópera, dança ou arte
contemporânea.
Pela avaliação desta dimensão,
podemos perceber se os investimentos e apostas que são concretizadas pelas
políticas culturais postas em prática, contribuem de facto para que os
equipamentos culturais estejam melhores, mais acessíveis, se o número de
espectadores aumentou, se foram criadas mais associações ou grupos de artistas,
e outros aspetos relacionados com a promoção dos valores democráticos.
É sempre altura de reflexão, entre ciclos
políticos e sociais, e deve pretender-se o desenvolvimento constante de questões
sobre democratização cultural, que provoquem reflexões várias na sociedade,
dando origem a uma maior intervenção da população neste assunto, seja ela de
cariz académico, associativo ou político.
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