Antero de Quental, por Columbano Bordalo Pinheiro
Hoje relembra-se Antero de Quental, o Grande. Até o Google aderiu à homenagem, deste pensador muito à frente do seu tempo, mas que cumpriu o seu papel, contribuindo para um dos mais criativos e críticos movimentos portugueses.
Fica abaixo um dos meus poemas preferidos de Antero, um carismático homem, que no meio do seu génio e da sua loucura, disse, pouco tempo antes da sua morte, a uns amigos em Lisboa: "Descansa-se!... se no tédio doloroso de nós mesmos encontramos a força para nos sumirmos."
Evolução
Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.
Antero de Quental, in "Sonetos"
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