quinta-feira, 26 de julho de 2012

OuVido: Dylan no seu melhor

Bob Dylan - Blonde on Blonde (1966)

Este é um daqueles discos que até podem passar por despercebidos... 
Trata-se do sétimo disco de Dylan, numa época em que já gozava de algum estatuto, e pode mesmo ter sido visto como uma brincadeira, pois as gravações decorreram por vários meses, com vários artistas e em vários estúdios...
Blonde on Blonde apenas atingiu o nº 9 do top americano, tendo no entanto atingido a platina e o 3ª lugar no Reino Unido.
Artisticamente, é considerado o último disco de uma trilogia dedicada ao rock, entre 1965 e 1966 (juntamente com Bringing It All Back Home e Highway 61 Revisited), e para muitos críticos considerado um dos melhores discos de sempre da história da indústria!
Acima de tudo, essa análise baseia-se na sensibilidade presente no disco, com um som baseado no country, mas com letras mais modernas e uma atitude rock - além de ter sido um dos primeiros discos duplos na história do rock.
Destaque claro para as canções "Rainy Day Women #12 & 35", "I Want You", "Just Like a Woman" e "Visions of Johanna", que ainda hoje são consideradas das mais importantes de Dylan.

terça-feira, 24 de julho de 2012

OuVisto: por um breve memento...

Memento (2000)

Este inquietante thriller e magnífico exemplo de um filme negro (film noir), é um excelente filme de Chistopher Nolan (Batman e Inception), que decorre em duas sequências paralelas: uma série a preto e branco, e que segue um tempo cronologicamente correto, e um conjunto de imagens a cor, mostrados por ordem reversível, do fim para o início...
Só isto já seria suficientemente enervante, mas ainda falta o conteúdo do argumento, que aborda a história da busca de vingança por um agente de seguros pela morte da sua mulher!
Mesmo não ganhando muitos prémios de destaque, entrou decididamente para a história do cinema recente, com uma magnífica construção não linear de uma narrativa. Grande filme.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Pelo Tempo: "O Poder da Música" (2011-04-17)


Existem certos filmes que demoramos a ver, por várias razões: falta de oportunidade nos cinemas; falta de companhia; ou mesmo porque temos ideia que não nos apetece naquele dia ver algo triste…
Aconteceu-me com “O Visitante” (“The Visitor”), do jovem realizador Thomas McCarthy, com a sua segunda longa-metragem, após “A Estação” (“The Station Agent”, outro que demorei a ver…).
Conta a história de Walter Vale, um professor universitário que reside numa pacata cidade, numa vida descontente, sobre quem pesa muito a morte da mulher, a sua grande razão de viver. Passa as noites a com um copo de vinho e ouvir música clássica, alguma dela gravada pela falecida mulher, pianista profissional. Por motivos académicos, vê-se obrigado a deslocar-se a Nova Iorque a uma conferência.
Ao chegar ao seu apartamento de cidade, depara-se com dois inquilinos ilegais a residirem no local: Tarek e Zainab, ele sírio-palestino e ela senegalesa, que julgavam estar a alugar legalmente o apartamento, tendo sido enganados por um amigo duvidoso. Nervosos e envergonhados com a situação, saem do apartamento para passar a noite na rua, ao que o professor lhes oferece estadia provisória enquanto não arranharem outro local para pernoitar. Começa a estória.
Walter, o professor, é um personagem distante, triste e que depende de rotinas para passar o dia. Cria uma improvável amizade com Tarek, pois é um virtuoso tocador de djembé (tambor africano), e começa a dar aulas a Walter, um apaixonado por música.
Num ridículo incidente ao entrar numa estação de metro, Tarek é preso e dá-se início a um injusto processo de deportação, que sem entrar em políticas, aborda a arbitrária atuação da imigração americana, ainda fortemente influenciada pelos acontecimentos de 11 de setembro de 2001. Walter contrata então um advogado para ajudar Tarek, ao mesmo tempo que vai criando amizade com a mãe deste, abruptamente interrompida com a deportação do sírio para África.
Este magnífico puzzle de emoções levou à nomeação de Richard Jenkins (o professor) para o Óscar de melhor ator em 2008, assim como a nomeação para vários prémios do realizador e argumentista já referido. Filmado em Nova Iorque, símbolo de globalização e mistura de culturas, é um filme que demonstra claramente o poder de inclusão e integração que a música e a arte em geral possuem.
A música enquanto linguagem universal, parece romper todas as barreiras, abrir os corações, enquanto um conjunto de homens tocam djembé num improvisado semicirculo em pleno Central Park, com americanos, africanos, hispânicos e outros, todos juntos, a partilharem um ritmo que quase faz lembrar o bater do coração humano…
E pela música chegamos à banda sonora do filme, fortemente influenciada pelo som de Fela Kuti, o grande pioneiro da música afrobeat, ativista político e grande humanista. Falecido já em 1997, Fela Kuti deixou de facto uma grande herança em várias áreas, da música à política, do estilo à atitude. Nascido na Nigéria, muda-se para Londres em 1958 para estudar medicina, mas acabou por seguir música, onde formou os Koola Lobitos, desenvolvendo o início do que veria a ficar conhecido como afrobeat, mistura de jazz, rock psicadélico e cantos tradicionais africanos.
Em 1963 regressa à Nigéria, onde trabalhou na rádio, mas a música era a sua paixão. Em 1969 viajou com a sua banda para os Estados Unidos, onde influenciado pelo movimento dos Black Panthers, muda o nome da banda para “Nigeria 70”, tendo sido posteriormente “convidados” a regressar a África por não terem licença de trabalho…
Durante várias décadas teve um percurso de luta e combate ao poder instalado na Nigéria, tendo sido preso, espancado, a sua casa e estúdio queimados e tentado inclusive candidatar-se à presidência, o que nunca foi permitido. O seu verdadeiro poder era a sua extremamente popular música, o que assustava os políticos.
Já com várias dezenas de álbuns gravados, nos anos 90 diminui a sua intensidade, e em agosto de 1997 morre vítima de Sarcoma de Kaposi, causado por AIDS. Ao seu funeral assiste mais de um milhão de pessoas.
É quase impossível quantificar o impacto que o trabalho de Fela Kuti teve no conceito global de música, assim como ao nível político, comparado por vezes a Bob Marley pela sua popularidade. Embora nunca tenha atingido grande sucesso de vendas na Europa e América durante a sua vida, nos últimos anos tem sido reeditados vários álbuns, disponibilizando assim muito do seu importante trabalho, que também continua vivo no seu filho, Femi Kuti, fazendo juz ao legado do pai, com um explosivo talento.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

OuVido: A Estranha Aranha de Robyn Hitchcock

Robyn Hitchock - Olé! Tarantula (2006)

Neste criativo projeto, Robyn Hitchcock contou com a participação de alguns membros dos Minus 5 e de metade dos elementos dos R.E.M., assim como muitos outros de bandas com as quais já tinha trabalhado, originando um pequeno exército.
Criaram um som que se assemelha aos primeiros cantautores do início dos anos 80, num ambiente surrealista, próprio e digno de Hitchcock, sempre tecendo fortes críticas sociais, inserindo a sua sensibilidade humana na estranheza da sua música.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Grande Festa!


GRANDE FESTA DE ANIVERSÁRIO DA BURRA DE MILHO!

22h00| Bar do Abismo|Biscoitos

João Félix
DJ Lino

Junta-te ao nosso grupo, ouve boa música e diverte-te!


Tens ainda a oportunidade de te fazeres sócio da associação por apenas 6€, com as mensalidades gratuitas até Dezembro
, e ainda oferecemos uma pen USB de 4G*, que será o teu cartão de sócio! Muito Bom!


Os sócios da Burra de Milho têm sempre desconto nas nossas atividades, como vários Workshops, IndieLisboa, “Amostra-me Cinema Português” e muitas outras.


Estamos à tua espera!
Entrada Livre!

Associação Cultural Burra de Milho

tel: 916 423 836

Com Beberete
Oferta limitada ao stock existente.

terça-feira, 17 de julho de 2012

OuVisto: Ainda o massacre de Srebrenica...

Munira - a documentary (2010)

Realizado por Rudi Uran, este documentário conta a história de Munira Subasic, uma "mulher de armas" da Bósnia. Perdeu o marido e filhos no massacre de Srebrenica, durante a guerra dos balcãs, deixando-a desamparada para a vida.
Foi uma das fundadoras e a principal representante de uma associação de mulheres vítimas da guerra, que ainda hoje perseguem os "verdadeiros" culpados, claramente identificados por elas durante os terríveis dias da guerra.
Triste, mas um retrato de perseverança e coragem. 
Inserido no Ciclo de Cinema DOC_EUROPA, exibido recentemente no Alpendre, numa parceria do 9500 Cine-Clube, Associação Cultural Burra de Milho e Teatrinho Produções.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

OuVido: O Leve Boletim dos Flaming Lips

The Flaming Lips - The Soft Bulletin (1999)

Depois de gravarem o emblemático e marcante álbum Zaireeka (que consistia de quatro álbuns que tinham de ser tocados ao mesmo tempos em quatro leitores diferentes, desafiando a sincronia humana...), o que se pode esperar de uma "normal" banda é um disco falhado, ou de relativo sucesso.

Não. Os Flaming Lips gravaram o seu melhor trabalho (na minha modesta opinião), arriscando no próprio conceito que define o grupo, emocional e sinfónico, algo muito próprio da mente de Wayne Coyne, o seu líder.

Um som celestial, acessível, mas sempre com uma grande carga de experimentalismo e criatividade radical, assim como com letras muito emotivas e pessoais, criando uma espiritualidade muito difícil de encontrar, e ainda por cima com os conceitos e personagens mais banais e surpreendentes possíveis.

Não posso estar sempre a dizer que é um dos meus álbuns favoritos, mas este, além de ser, é também uma referência para a qualidade que uma obra "pop/rock" pode atingir.


terça-feira, 10 de julho de 2012

Visto e Revisto Mesmo: Blade Runner

Blade Runner (1982)

É certamente um dos filmes da minha vida, além de um apaixonado por ficção científica, adoro bons filmes! E este é um momento marcante na história do cinema, talvez até hoje nunca "replicado" ao nível consensual da crítica e dos espectadores.
Curiosamente estamos a apenas 7 anos de 2019, ano retratado no filme, numa cidade de Los Angeles, cheia de robôs orgânicos, e que nos envolve numa complexa temática, misturando os sentimentos humanos, com os desejos de uma máquina...
Harrison Ford é um retirado polícia, especialista em perseguir estes robôs, que regressa ao activo para caçar um grupo que se rebelou e tenta desesperadamente, junto do "seu criador", alongar o seu período de vida.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Pelo Tempo: "O Regresso da Nouvelle Vague" (2011-03-24)


Temos a oportunidade de assistir a uma mostra de cinema da realizadora francesa Agnès Varda, a decorrer no próximo fim de semana, 26 e 27 de março, no Teatro Angrense, numa iniciativa da Associação Cultural Burra de Milho.
Conta com o apoio do Instituto Francês de Portugal, do Cine Clube de Ponta Delgada e da Culturangra, num claro esforço de divulgação do cinema de qualidade, assim como de criar oportunidades de exibição de filmes sem hipóteses de entrar no circuito comercial.
Serão cerca de 15 curtas-metragens de Agnès Varda, uma das mais importantes cineastas da atualidade. Da sua vasta produção talvez a referência principal seja o filme Duas Horas da Vida de Uma Mulher (1962), um dos porta-estandartes da Nouvelle Vague do cinema francês. Desde então muito produziu e realizou, entre a ficção e o documentário, entre a curta e a longa-metragem.
Agnès Varda nasceu na Bélgica em 1928, mas cedo se mudou para França onde estudou Literatura e Psicologia na Sorbonne, e História de Arte no Louvre. Trabalhou como fotógrafa no Teatro Nacional Popular de Paris, assim como deu início a uma carreira como fotojornalista. Realiza o seu primeiro filme aos 26 anos, em 1954, La Pointe Curte, já com indícios precursores da Nouvelle Vague francesa.
Foi casada com o realizador francês Jacques Demy, falecido em 1990, e é mãe do ator Mathieu Demy e da costureira/estilista de cinema Rosalie Varda, ambos com carreiras de sucesso. Agnès Varda foi uma das cinco pessoas a estar presente no funeral de Jim Morrison no cemitério Père Lachaise, em Paris…
Intitulada por alguma imprensa especializada como a “Avó da Nouvelle Vague”, tem um trabalho muito conotado com questões políticas e sociais, como se poderá observar por algumas das curtas-metragens a exibir.
Destacou-se também em trabalhos de parceria com outros realizadores de renome, como a sua participação nos diálogos de O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci. Após a morte do seu marido, realizou um grande filme, em formato de tributo: Jacquot de Nantes (1991), que todos esperavam ser o seu último trabalho, pela sua idade e situação pessoal. Mas em 1995 regressa com Les Cent et Une Nuits, e desde então realizou, produziu e participou em mais de 10 filmes, com o destaque para o documentário Les Pláges d’Agnès, nomeado para vários prémios.
Rivalizando já com Manoel Oliveira, pela longa carreira, Agnès Varda é uma ensaísta do cinema, sendo principalmente as suas curtas-metragens momentos de pura intervenção social e filosófica.
Aproveitando a boleia sobre a temática da Nouvelle Vague francesa, destaco ainda um filme de 2010, Os Dois da (Nova) Vaga, de Emmanuel Laurent, exibido recentemente pelo Cine Clube de Ponta Delgada.
Trata-se da história da amizade entre Jean-Luc Godard e François Truffaut, dois dos principais realizadores franceses de sempre. São muitos os filmes que realizaram e que marcaram a história do cinema, destacando-se Os 400 Golpes, de Truffaut e O Acossado de Godard.
Recorrendo a imagens de arquivo, a excertos dos filmes dos dois realizadores e folheando recortes de imprensa da época, o filme fala de uma década que transformou o mundo, podendo ser uma boa abordagem inicial a este movimento artístico do cinema francês, próprio da contestação dos anos sessenta. Inicialmente composto apenas por jovens realizadores sem grandes possibilidades financeiras, mas com uma vontade comum: transgredir as regras do cinema comercial.
Além dos dois nomes fundamentais já referidos, podemos ainda destacar Alain Resnais e Eric Rohmer, entre outros, e que tinham como principais características do seu trabalho a inflexibilidade com os conceitos narrativos da altura, apresentando uma montagem inesperada e original, onde geralmente não obedeciam à linearidade da própria narrativa.
Com o continuar dos anos, este extremismo foi-se diluindo, seguindo cada realizador o seu caminho, deixando um dos maiores legados da história do cinema, influenciando inclusive os realizadores da chama “Nova Hollywood”, como Robert Altman, Francis Ford Coppola ou Martin Scorsese.
O cinema mudou com esta vaga, que agora se refresca com a “jovem” Agnès Varda.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

"Amostra-me Cinema Português" - 6ª Sessão


No próximo dia 18 de julho, a Burra de Milho exibe o sexto filme do Amostra-me Cinema Português, mostra de cinema a decorrer no Centro Cultural de Angra, de Janeiro a Dezembro de 2012, desta vez com o filme de João Pedro Rodrigues, Morrer como um homem.

Amostra-me Cinema Português é um projecto que pretende a apresentação ao público terceirense de cinema português contemporâneo, dando assim a conhecer realizadores portugueses com linguagens cinematográficas e olhares diferentes sobre o nosso quotidiano.

Amostra-me Cinema Português é antes de tudo uma intenção de manifesto da vida através do cinema. É um manifesto. 


segunda-feira, 2 de julho de 2012

OuVido: Of Montreal (Geórgia, EUA)

Of Montreal - Hissing Fauna, Are You the Destroyer? (2007)

Este foi o álbum que me confirmou o valor e criatividade dos norte-americanos Of Montreal, banda que, sinceramente, ouvi pela primeira vez apenas pena estranha composição do seu nome... (supostamente devido a uma antiga namorada canadiana, mas isto são "wiki-boatos").
Disco produzido após seis ou sete trabalhos mais leves, este simboliza uma época menos boa para Kevin Barnes, o líder do projecto, tornando-o num produto ainda mais pessoalizado.
Enfim, um suave pop, com pormenores grotescos e uma negra viagem por aspectos muito íntimos do autor - isto é Of Montreal!