Temos
a oportunidade de assistir a uma mostra de cinema da realizadora francesa Agnès
Varda, a decorrer no próximo fim de semana, 26 e 27 de março, no Teatro
Angrense, numa iniciativa da Associação Cultural Burra de Milho.
Conta
com o apoio do Instituto Francês de Portugal, do Cine Clube de Ponta Delgada e
da Culturangra, num claro esforço de divulgação do cinema de qualidade, assim
como de criar oportunidades de exibição de filmes sem hipóteses de entrar no
circuito comercial.
Serão
cerca de 15 curtas-metragens de Agnès Varda, uma das mais importantes cineastas
da atualidade. Da sua vasta produção talvez a referência principal seja o filme
Duas Horas da Vida de Uma Mulher
(1962), um dos porta-estandartes da Nouvelle Vague do cinema francês. Desde
então muito produziu e realizou, entre a ficção e o documentário, entre a curta
e a longa-metragem.
Agnès
Varda nasceu na Bélgica em 1928, mas cedo se mudou para França onde estudou
Literatura e Psicologia na Sorbonne, e História de Arte no Louvre. Trabalhou
como fotógrafa no Teatro Nacional Popular de Paris, assim como deu início a uma
carreira como fotojornalista. Realiza o seu primeiro filme aos 26 anos, em
1954, La Pointe Curte, já com
indícios precursores da Nouvelle Vague francesa.
Foi
casada com o realizador francês Jacques Demy, falecido em 1990, e é mãe do ator
Mathieu Demy e da costureira/estilista de cinema Rosalie Varda, ambos com
carreiras de sucesso. Agnès Varda foi uma das cinco pessoas a estar presente no
funeral de Jim Morrison no cemitério Père Lachaise, em Paris…
Intitulada
por alguma imprensa especializada como a “Avó da Nouvelle Vague”, tem um
trabalho muito conotado com questões políticas e sociais, como se poderá
observar por algumas das curtas-metragens a exibir.
Destacou-se
também em trabalhos de parceria com outros realizadores de renome, como a sua
participação nos diálogos de O Último
Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci. Após a morte do seu marido,
realizou um grande filme, em formato de tributo: Jacquot de Nantes (1991), que todos esperavam ser o seu último
trabalho, pela sua idade e situação pessoal. Mas em 1995 regressa com Les Cent et Une Nuits, e desde então
realizou, produziu e participou em mais de 10 filmes, com o destaque para o
documentário Les Pláges d’Agnès,
nomeado para vários prémios.
Rivalizando
já com Manoel Oliveira, pela longa carreira, Agnès Varda é uma ensaísta do
cinema, sendo principalmente as suas curtas-metragens momentos de pura
intervenção social e filosófica.
Aproveitando
a boleia sobre a temática da Nouvelle Vague francesa, destaco ainda um filme de
2010, Os Dois da (Nova) Vaga, de
Emmanuel Laurent, exibido recentemente pelo Cine Clube de Ponta Delgada.
Trata-se
da história da amizade entre Jean-Luc Godard e François Truffaut, dois dos
principais realizadores franceses de sempre. São muitos os filmes que
realizaram e que marcaram a história do cinema, destacando-se Os 400 Golpes, de Truffaut e O Acossado de Godard.
Recorrendo
a imagens de arquivo, a excertos dos filmes dos dois realizadores e folheando
recortes de imprensa da época, o filme fala de uma década que transformou o
mundo, podendo ser uma boa abordagem inicial a este movimento artístico do
cinema francês, próprio da contestação dos anos sessenta. Inicialmente composto
apenas por jovens realizadores sem grandes possibilidades financeiras, mas com
uma vontade comum: transgredir as regras do cinema comercial.
Além
dos dois nomes fundamentais já referidos, podemos ainda destacar Alain Resnais
e Eric Rohmer, entre outros, e que tinham como principais características do
seu trabalho a inflexibilidade com os conceitos narrativos da altura,
apresentando uma montagem inesperada e original, onde geralmente não obedeciam
à linearidade da própria narrativa.
Com
o continuar dos anos, este extremismo foi-se diluindo, seguindo cada realizador
o seu caminho, deixando um dos maiores legados da história do cinema,
influenciando inclusive os realizadores da chama “Nova Hollywood”, como Robert
Altman, Francis Ford Coppola ou Martin Scorsese.
O cinema
mudou com esta vaga, que agora se refresca com a “jovem” Agnès Varda.
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