segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Um Disco Verdadeiramente Messiânico...

D'Angelo and The Vanguard - Black Messiah (2014)

É incrível como este é apenas o terceiro álbum de D'Angelo, sendo que é editado 14 anos após o segundo (Voodoo, disco de platina e ouro em vários países, incluindo os EUA)!

Black Messiah era então esperado com grande expetativa, e contrariando as habituais desilusões neste mercado, superou toda a crítica e aclamação pública.

Mesmo sendo um género menos popular na Europa, este trabalho tornou-se contemporâneo e transversal, originando num soul psicadélico, passando pelo funk rock e com toques de neo souljazz, ou seja, um som de autor, mas de base soul, e bebendo de várias influências, acima de tudo com uma qualidade e criatividade incríveis!

Possui ainda uma inteligente e mordaz dose de crítica social, apanágio deste poeta americano, do povo, tendo entrado em quase todas as listas de top 10 do ano nas revistas e sites da especialidade.

Um dos meus discos preferidos (de 2 ou 3...) de 2014/2015!

Ganda Malha!




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Leonardo Drew: "Raw..."

Leonardo Drew é um artista norte-americano, cujo trabalho, agora aclamado, se baseia em esculturas que utilizam apenas materiais naturais, assim como o recurso a vários processos naturais - a Mãe Natureza como parceira!

Desde a oxidação, queimar ou apenas decompor, os seus trabalhos resultam em esculturas de grande dimensão e intensidade, numa lógica de crítica social e luta contra as injustiças do mundo, com base no ciclo da vida e da decadência da natureza.

Obrigatório e seminal.









sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Nebraska a Preto e Branco

Nebraska (2013)

Magnífico filme de Alexander Payne (Os Descendentes, Sideways ou As Confissões de Schmidt), numa onda de comédia negra, neste caso, a preto e branco.

Com um argumento refinado, conta também com um conjunto de atores que apenas enriquecem o filme, com o óbvio destaque para Bruce Dern (Prémio de Melhor Ator em Cannes e nomeação para Óscar), mas também Will Forte e June Squibb (nomeada Melhor Atriz Secundária para os Óscares).

A história é simples, mas como se pretende, complexa: Dern interpreta um idoso desgastado e alcoólico que acredita ter ganho 1 milhão de dólares num daqueles concursos publicitários que chegam pelos correios.

Decide então ir a pé até à distante cidade de Lincoln (no estado norte-americano do Nebraska), não deixando hipótese ao seu filho levá-lo de carro, que devido a um pequeno incidente, transforma a viagem num retomar de laços com antigos familiares... "road trip"!

Mas perante a possibilidade de existir um grande prémio em dinheiro, desperta a cobiça em todos os familiares, levando a um conjunto de episódios típicos da ganância humana...

A nível técnico, de destacar a poética opção de utilizar uma câmara específica, uma "Arri Alexa" com lentes Panavision C-Series (coisas técnicas...). O filme foi então filmado com uma luz especial, tendo em vista que posteriormente seria convertido em preto e branco... muito bom.





segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Pelo Tempo: "A experimentar se aprende, valoriza e enriquece…" (2013-02-05)

Felizmente muito se falou do projeto musical O Experimentar Na M’Incomoda, liderado pelo faialense Pedro Lucas (radicado na Dinamarca), tendo causado sensação a nível nacional, obtendo várias referências em jornais e revistas da especialidade.
O projeto reside na reinvenção da música tradicional açoriana, onde se utiliza por base músicas do nosso folclore (podemos chamá-la assim, para simplificar…), e se insere uma nova roupagem contemporânea, criando novos ambientes sonoros.
Mas não se trata apenas de pegar no “Pezinho de São Miguel” e dar-lhe uma batida house ou hip-hop, nem de perto nem de longe – a preocupação com a sensibilidade do assunto é imensa e reflete-se no admirável trabalho editado.
Conta com a colaboração de um grupo vasto, destacando-se as participações de Zeca Medeiros, Miguel Machete, Pedro Gaspar e Jácome Armas e outros, acompanhado ainda de uma forte componente visual, numa tendência paralelamente contemporânea e de reinvenção da estética açoriana…
O seu primeiro trabalho foi editado em 2010, O Experimentar Na M’Incomoda, que dá nome ao projeto, e tem por base o disco de 1998 do terceirense Carlos Medeiros, O Cantar na m’Incomoda, também este de reinterpretações de músicas tradicionais açorianas. Destaque ainda para a excelente capa de Andrea Inocêncio, artista multifacetada que residiu e absorveu a experiência açoriana.
O segundo álbum, 2: Sagrado e Profano, apresenta-se como recriando uma festa religiosa numa freguesia açoriana, na mesma linguagem e atitude de reinvenção do disco anterior.
Muitos dos temas utilizados neste segundo trabalho são originários das recolhas efetuadas pelo Prof. Artur Santos nas décadas de 1960, assim como do disco Pastor do Verbo, sobre o terceirense José da Lata, uma edição da Direção Regional da Cultura.
Basicamente tratam-se dos meus dois primeiros projetos sérios (e remunerados…) após a conclusão da licenciatura, no início da década de 2000, tratando no primeiro da catalogação e inventariação do espólio no Museu de Angra, e no segundo realizado a pesquisa e texto que acompanhou o disco.
Esta recolha de Artur Santos é de uma importância extrema com vista à preservação da cultura açoriana, contribuindo fortemente para o conhecimento das nossas tradições orais, principal fonte do nosso vasto património imaterial e intangível, que reside, aliás, no nosso imaginário coletivo.
Em algumas anotações do riquíssimo espólio que nos deixou Artur Santos, é óbvia a admiração por José da Lata, realçando que sempre que participava na gravação de uma canção, automaticamente conferia-lhe qualidade, pela sua maneira única e singular de sentir o que cantava.
Vemos assim com este trabalho de Pedro Lucas a nossa memória e identidade cultural valorizada, relembrada e enriquecida, contribuindo com uma postura contemporânea e preocupada com a preservação da nossa identidade cultural.