Felizmente
muito se falou do projeto musical O
Experimentar Na M’Incomoda,
liderado pelo faialense Pedro Lucas (radicado na Dinamarca), tendo
causado sensação a nível nacional, obtendo várias referências em
jornais e revistas da especialidade.
O
projeto reside na reinvenção da música tradicional açoriana, onde
se utiliza por base músicas do nosso folclore (podemos chamá-la
assim, para simplificar…), e se insere uma nova roupagem
contemporânea, criando novos ambientes sonoros.
Mas
não se trata apenas de pegar no “Pezinho de São Miguel” e
dar-lhe uma batida house
ou hip-hop,
nem de perto nem de longe – a preocupação com a sensibilidade do
assunto é imensa e reflete-se no admirável trabalho editado.
Conta
com a colaboração de um grupo vasto, destacando-se as participações
de Zeca Medeiros, Miguel Machete, Pedro Gaspar e Jácome Armas e
outros, acompanhado ainda de uma forte componente visual, numa
tendência paralelamente contemporânea e de reinvenção da estética
açoriana…
O
seu primeiro trabalho foi editado em 2010, O
Experimentar Na M’Incomoda,
que dá nome ao projeto, e tem por base o disco de 1998 do
terceirense Carlos Medeiros, O
Cantar na m’Incomoda,
também este de reinterpretações de músicas tradicionais
açorianas. Destaque ainda para a excelente capa de Andrea Inocêncio,
artista multifacetada que residiu e absorveu a experiência açoriana.
O
segundo álbum, 2:
Sagrado e Profano,
apresenta-se como recriando uma festa religiosa numa freguesia
açoriana, na mesma linguagem e atitude de reinvenção do disco
anterior.
Muitos
dos temas utilizados neste segundo trabalho são originários das
recolhas efetuadas pelo Prof. Artur Santos nas décadas de 1960,
assim como do disco Pastor
do Verbo,
sobre o terceirense José da Lata, uma edição da Direção Regional
da Cultura.
Basicamente
tratam-se dos meus dois primeiros projetos sérios (e remunerados…)
após a conclusão da licenciatura, no início da década de 2000,
tratando no primeiro da catalogação e inventariação do espólio
no Museu de Angra, e no segundo realizado a pesquisa e texto que
acompanhou o disco.
Esta
recolha de Artur Santos é de uma importância extrema com
vista à preservação da cultura açoriana, contribuindo fortemente
para o conhecimento das nossas tradições orais, principal fonte do
nosso vasto património imaterial e intangível, que reside, aliás,
no nosso imaginário coletivo.
Em
algumas anotações do riquíssimo espólio que nos deixou Artur
Santos, é óbvia a admiração por José da Lata, realçando que
sempre que participava na gravação de uma canção, automaticamente
conferia-lhe qualidade, pela sua maneira única e singular de sentir
o que cantava.
Vemos
assim com este trabalho de Pedro Lucas a nossa memória e identidade
cultural valorizada, relembrada e enriquecida, contribuindo com uma
postura contemporânea e preocupada com a preservação da nossa
identidade cultural.
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