Tinha sinceramente assegurado
a mim próprio que não tentaria fazer nenhum artigo de rescaldo, num típico
cliché desta época de transição entre anos, ou uma análise ao estado das coisas
no mundo artístico.
Mas através de algumas
leituras online e em revistas, cheguei a uma conclusão que acho interessante
partilhar, no que diz respeito à música editada em 2010, e aos respectivos tops
de venda e de crítica jornalística.
Efectuei então uma análise
heterogénea e imparcial, utilizando como referências revistas, jornais e sites
dedicados à música, uns mais comerciais e outros menos, destacando a revista
Rolling Stone, a New Music Express, o Blitz, a Pitchforfk e a Bodyspace.
Optei por não ter em atenção
os dados estatísticos de vendas, pois como se trata de um mercado com regras
próprias, com um marketing próprio e um espaço televisivo muito específico,
dominado pelas grandes empresas, torna-se difícil uma relação exacta entre a
verdadeira qualidade musical de um trabalho e o seu sucesso ao nível de vendas.
Com esta abordagem, torna-se
difícil, mesmo sem juízo de valor sobre o seu trabalho, inserir artistas como
Lady Gaga, Shakira ou Justin Bieber, verdadeiras máquinas de fazer dinheiro,
realizando grandes eventos de puro entretenimento popular.
Então, para todos os
efeitos, aqui segue o Top 10 das minhas pesquisas:
10.
Caribou: “Swim”. Neste terceiro disco deste projecto de
música electrónica “downtempo”, com uma abordagem fresca e dinâmica alcança a
maturidade, deixando antever futuros trabalhos com muita qualidade.
9.
The National: “High Violet”. Influenciados pelo
movimento pós-punk dos anos 90, esta banda de Nova Iorque optou por um rock
mais calmo, introspectivo, mas ainda não aparecem lado a lado com outros
gigantes da cena “indie”, como os Arcade Fire, embora seja este o seu quinto
álbum, e desta vez pela grande editora do mundo alternativo, a 4AD.
8.
Joanna Newsom: “Have One on Me”. É apenas o seu terceiro
álbum, mas esta original artista, com laivos de música folk e uma postura
avant-garde, proporciona-nos sempre uma fantástica e mágica audição dos seus etéreos
temas. Uma das minhas favoritas desta lista.
7.
Deerhunter: “Halcyon Digest”. Felizmente os Deerhunter
começam a ocupar o espaço que vem logrando, com vários discos editados, e sempre
com uma criatividade muito grande, num rock experimentalista, abrangendo muitas
sonoridades, por vezes agressiva e barulhenta, por vezes fazendo lembrar a
calma ambiência dos Sigur Rós.
6.
Ariel Pink's Haunted Graffiti: “Before Today”. Banda
quase desconhecida até 2004, estes norte-americanos possuem um eclético som com
origens nos psicadélicos anos 60, mas com incursões no pop dos anos 80,
gravando também agora pela 4AD, e com um trabalho mais consistente. A conhecer
melhor.
5.
Arcade Fire: “The Suburbs”. Já quase todos conhecem esta
mega-banda canadiana, sendo um bom exemplo de música com qualidade, num
projecto inovador e com objectivos mais artísticos do que comerciais, que
atinge um importante lugar no estrelato mundial musical. Disco cheio de
energia, e já com um sentido de nostalgia em relação a trabalhos anteriores.
4.
Beach House: “Teen Dream”. Mais uma prova da ténue fronteira entre
música comercial e independente, com a importância do som pop, neste caso mais
“dream pop”. Tão bom e surpreendente quanto o álbum anterior, “Devotion”.
3.
Vampire Weekend: “Contra”. Desde o lançamento do seu primeiro disco
em 2007, via internet, a popularidade dos Vampire Weekend nunca mais parou de
crescer, e com este trabalho alcançou a fama (nº1 nos EUA) e o reconhecimento
da crítica mundial. Mais um grupo de Nova Iorque, verdadeira capital artística
do planeta, actual centro da produção da música de cariz independente e
alternativo.
2.
LCD Soundsystem: “This Is Happening”. É o álbum do ano que aparece
em mais listas ou Top 10 das fontes pesquisadas, embora em posições mais
intermédias (do 1º ao 10º). Com mais um disco de qualidade, desta vez com uma
sonoridade ainda mais “retro” (rebuscado aos anos 70), apresenta-nos um
conjunto de rave, disco e dance punk, sempre baseado em nostálgicos
sintetizadores analógicos. Também estão a chegar ao lugar de destaque que
merecem, por muitos anos de bom e constante trabalho. Existem alguns rumores de
que se trata do último álbum sob a égide de LCD Soundsystem…
1.
Kanye West: “My Beautiful Dark Twisted Fantasy”. E
chegamos ao nº1, com o inevitável Kanye West, num ano em que lhe aconteceu de
tudo, quer por vicissitudes impossíveis de controlar, quer por temperamento
descontrolado e infantil. É muito difícil não gostar deste disco, por mais
inimigos e antipatias que West tenha criado nos últimos anos. Sendo um disco de
rap, é todo ele poesia, e acima de tudo, todas as músicas tem um significado,
uma história e coerência… aqui não há músicas para encher balões! Com “beats”,
rimas e canções, esta obra-prima de Kanye West, o rei alternativo do rap
norte-americano, coloca o artista em primeiro lugar de muitas listas e tops de
2010, sendo por alguns críticos mais extremos, a ser considerado como o futuro
Michael Jackson, com um som muito diversificado, embora baseado no urbano hip-hop.
Aproveito para admitir também a minha preferência por este disco, em relação a
tudo o que ouvi em 2010, embora me tenha escapado muita coisa, mas enquanto fã
de longa data, regozijo-me com este resultado.
Para concluir, regresso ao aspecto
que deu origem a este artigo, em forma de “Best Of 2010”: a proximidade actual
entre a música de cariz mais alternativo e independente e o mainstream. Também é verdade que ser indie (ou independente) está na moda,
mas talvez isso mesmo tenha permitido a grandes trabalhos musicais sair da
obscuridade de alguns site e blogues pouco conhecidos.
Esperemos agora pelos
lançamentos de 2011, com esperança de criatividade e qualidade.
PS. Este revisitar de artigos, neste caso com pouco mais de um ano, serve-me de ponto de comparação com a minha atual visão das coisas. E neste caso da música continuo muito parecido. Aparentemente nem evolui nem regredi...
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