As injustiças têm de ser
combatidas, e mesmo vivendo num clima muito complicado em Portugal, existe
infelizmente sempre alguém que se encontra em situação pior. Volto a referir a
situação de Jafar Panahi, realizador iraniano sobre o qual já escrevi neste
espaço, e que continua em prisão domiciliária e proibido de trabalhar durante
20 anos!
Mas a comunidade
internacional não esquece esta situação, e prova disso é o facto de ter sido
apresentado um filme seu, produzido quase clandestinamente, no renomeado
Festival de Cannes, depois de no ano passado ter sido proibido pelas
autoridades iranianas de nele participar enquanto membro do júri.
Cannes sempre teve um toque
de irreverência, e se deve o seu início ao inconformismo perante o fascismo
alemão e italiano, no fim dos anos 30, acaba por ter a sua primeira edição em
1946, tendo uma continuação intermitente devido a problemas financeiros.
Ganhou uma grande conotação
“cor-de-rosa”, ao tornar-se de facto um dos eventos mais glamorosos do planeta,
e um momento fundamental para o turismo no sul de França, mas sempre elevando a
sua qualidade cinematográfica.
É o grande encontro mundial
da indústria cinematográfica, onde os profissionais da área tem oportunidade de
encontrar apoios, gerar mega projetos e internacionalizar ainda mais os seus
contactos. Desde os anos 60 que realizam durante o festival o Mercado do Filme,
que conta com mais de 10.000 participantes e 4000 filmes, sendo o principal
mercado do mundo.
O seu ponto forte talvez seja
o delicado equilíbrio entre a alta qualidade artística e o impacto comercial
dos filmes apresentados, garantindo uma publicidade e divulgação a nível
internacional, mas mantendo sempre a importância da noção de “cinema de autor
para uma grande audiência”.
Este ano, entre 11 e 22 de
maio, foram muitos os que pretenderam almejar os referidos prémios, desde o
filme de abertura do festival, “Midnight in Paris” de Woody Allen ao filme
biográfico sobre Nicolas Sarkozy, “La Conquête”.
Muitas vedetas passaram pelo
evento, como os mediáticos Angelina Jolie e Brad Pitt, os representantes
europeus Nanni Moretti e Pedro Almodôvar, ou os destaques do ano, com o
realizador de “A Árvore da Vida”, Terence Mallick e o membro do júri, Robert De
Niro.
Um dos momentos quentes foi
a apresentação do filme de Panahi, “In Film Nist” (Isto Não é um Filme), uma
espécie de diário biográfico sobre um artista impedido de trabalhar... Outro
corajoso realizador iraniano conseguiu também produzir um filme nas barbas das
autoridades, Mohammad Rasoulov, com “Be Omid-e Didar” (Adeus), retrata a vida
de um advogado em Teerão que tenta sair legalmente do país, encontrando várias
dificuldades.
Outro momento quente acabou
por serem as “difamatórias” declarações do louco Lars von Trier sobre a sua
“compreensão por Hitler”. Do seu filme, “Melancolia”, destaca-se a vitória para
a melhor actriz, Kristen Dunst.
A Palma de Ouro, o mais
prestigiado prémio, foi para o esperado filme de Malick, “A Árvore da Vida”,
tendo Jean Dujardin ganho o prémio de melhor actor, em “The Artist”. Destaque
ainda para o Grande Prémio, com o empate entre "O Garoto de Bicicleta",
de Jean-Pierre e Luc Dardenne, e "Once Upon a Time in Anatolia", de
Nuri Ceylan.
Ao nível das revelações e da
inovação, destaque para cinco filmes e os seus respectivos realizadores: “Polisse”,
de Maïwenn Le Besco (filha de Luc Besson, o conhecido actor francês); “Drive”,
de Nicolas Winding Refn; “Take Shelter”, de Jeff Nichols (com pretensão aos
Óscares…); “Return”, de Liza Johnson; e “Elena”, de Andrei Zvyaguintsev.
Agora resta esperar pelas
estreias em Portugal, e como dizia o outro: “bons filmes”!
PS. Já os vi quase a todos, passado mais de um ano, com destaque para o próprio filme de Panahi e o de Woody Allen.
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