No passado dia 21, e
inserido no “Amostra-me Cinema Português”, iniciativa da Associação Cultural
Burra de Milho, que ao longo ao ano exibirá cerca de 12 filmes portugueses no
Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, sempre a uma quarta-feira
de cada mês, decorreu a segunda sessão, desta vez com o filme “Viagem a
Portugal”, contando com a presença do realizador, Sérgio Tréfaut.
É decidida e assumidamente
um filme político, que incide sobre os procedimentos do controle de
estrangeiros nos aeroportos portugueses, e que se baseia numa história
verídica. Maria é uma ucraniana que vem passar o ano a Portugal, onde a espera
o seu marido, senegalês, que se encontra a trabalhar nas obras da Expo’98. E aí
desenrola-se todo o penoso e humilhante processo de interrogatório, suspeição e
detenção…
Como afirma o próprio
realizador, trata-se de um filme “alternativo,
experimental e baseado numa história real”. Acrescento que imprimiu uma
sobriedade e modernidade à história, num filme a preto e branco, onde os
contrastes ajudam à intensidade do filme, assim como a utilização da repetição de
diálogos de vários ângulos e separadores monocromáticos, tudo em prol de uma
dramaticidade, que se exigia perante tão sensível temática.
Este filme já arrecadou
alguns prémios, como a Taiga de Ouro no festival “Spirit of Fire”, na Rússia,
destinado a primeiras obras, ou no Faial Film Fest (Prémio do Público) e ainda
nos Caminhos do Cinema Português (melhor longa-metragem e melhor atriz
secundária). Aliás, as duas interpretações femininas são sublimes, com Maria de
Medeiros a interpretar a jovem ucraniana e Isabel Ruth a inspetora do SEF que a
interroga.
“Viagem a Portugal” é a
primeira experiência de ficção de Sérgio Tréfaut, um dos maiores nomes no
cinema documental português, com os filmes “Lisboetas” e “Cidade dos Mortos”, e
pelo seu trabalho desenvolvido no festival DocLisboa. Foi talvez o primeiro
realizador de documentários a ter filmes com vários milhares de espetadores em
salas de cinema em Portugal (e no estrangeiro).
Mas Tréfaut é também um
militante de causas, principalmente relacionadas com movimentos migratórios,
tema recorrente no seu trabalho, assumindo-se como um ativista dos direitos dos
emigrantes. Neste filme fomenta nitidamente o debate sobre o funcionamento da
polícia, dos serviços de estrangeiros e da sociedade civil em geral, onde milhares
de cidadãos são interrogados à saída dos aviões, e centenas são recambiados
para os seus países de origem – e não são criminosos nem traficantes, mas
sofrem na pele a humilhação e violência psicológica que todo esse processo
representa.
PS. Adoro recordar... (não que já me tivesse esquecido!)
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