Surgem naturalmente as
reações às declarações e propostas do governo português em relação à
RTP/Açores, tentando resolver os elevados custos com a diminuição da “janela”
de transmissão, a palavra do momento.
Com transmissão desde 1975,
é assumidamente um canal regional, e como o próprio slogan indica, “A Nossa Televisão”, contribuiu ao longo
dos anos para o fortalecimento do sentimento autonómico e para a preservação de
uma identidade açoriana, conceito constantemente em discussão.
Atualmente transmite 24
horas por dia, embora entre as 00h00 e as 08h00 retransmite o canal EuroNews,
que agora se revelou um negócio danoso. Durante o dia tem o formato típico de
um canal generalista, com programas de informação, infantojuvenis, ficção
nacional e estrangeira, documentários, etc.
Segundo dados de 2003, mais
de 35% da programação da RTP/Açores é produzida na região, seguida de programas
oriundos da RTP2 e com apenas 3% vindos da RTP1. De realçar que 85% dessa
produção regional é oriunda da ilha de São Miguel.
Não consigo compreender
porque transmite ficção estrangeira, sem duvidar da sua qualidade, mas não tem
cabimento, a não ser que existam ainda muitos lares que só recebam RTP/Açores e
a RTP1. Por outro lado, é de destacar a importância na transmissão de vários
eventos de cariz diversificado, desde os jogos da equipa de hóquei da
Candelária a concertos do AngraJazz.
Serviço público de televisão
não será dar ao público o que ele quer ver – para isso existem os canais privados,
que aliás dependem desse mesmo fator, pois precisam de audiência, com vista a
captarem publicidade.
Assim, num serviço público
não deveria haver lugar para transmissões desportivas de forte apelo comercial,
concursos, reality shows e ficção
internacional (telenovelas incluídas). Por outro lado, deveria incluir ficção
nacional, programas dirigidos às minorias, documentários, programas
experimentais e com preocupações estéticas, alguma programação com cariz
infantil e juvenil, cinema de autor e de qualidade (nacional e estrangeiro),
assim como alguns programas de informação (reportagens, debates ou
noticiários).
Não parece difícil de
definir, assumindo-se que de facto é uma programação que não atrai públicos em
massa, mas sim que se preocupa em acrescentar algo à vida das pessoas, com um
cariz pedagógico e informativo, por oposição ao vulgar.
O que leva à questão da
necessidade de uma discussão pública em torno destes temas, numa perspetiva
mais participativa da nossa democracia. Esse será talvez o grande tema
subjacente a toda esta discussão.
Deverá haver uma programação
24 horas por dia? Deverá haver transmissão de conteúdos estrangeiros,
nomeadamente ficção? Deverão os centros de produção manter o mesmo número de
funcionários ou poderá recorrer-se a outsourcing? Poderá uma fusão com a
RTP/Madeira ser uma solução “atlântica”? Deverá estar em cima da mesa uma
inclusão na RTP/Internacional, com visibilidade na televisão por cabo?
São questões que obviamente
deveriam ser discutidas, ou tidas em conta, como já foi proposto, na Assembleia
Regional. Assim sendo, temos então um custo de 12 milhões de euros anuais, que
poderá certamente ser reduzido com melhor gestão a vários níveis. Por outro
lado, temos que saber atribuir um “preço” ao que será um bom serviço público.
É sereno considerar que a
RTP/Açores tem feito um razoável serviço público, com algumas exceções, falhas
de gestão e erros estruturais. Sem dúvida que é mais serviço público do que a
RTP1, embora menos que a RTP2, na minha ótica, o melhor exemplo de serviço
público nacional.
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