Conheci-o
como actor, depois realizador, e agora percebo-o como provocador que é. “Beat”
Takeshi Kitano, do Japão para o Mundo a uma velocidade televisiva!
A
meio dos anos 90, não havia sábado à tarde que não perdesse uma boa hora ou
duas a ver o programa “Nunca Digas Banzai”, que chegou a emitir na RTP1 uns
anos antes e posteriormente, já na era TV Cabo, na SIC Radical.
De
nome original “Takeshi’s Castle”, constava de um concurso televisivo japonês,
onde inicialmente mais de uma centena de concorrentes iriam tentar chegar a uma
batalha final para conquistar o castelo de um conde maluco, representado por
Takeshi Kitano.
No
entretanto, em várias provas a eliminar, a gargalhada originava lágrima quase
certa: desde os labirintos cujas portas terminavam em banhos de lama, ou as
fossas que tinham que ser ultrapassadas por uma corda, o prazer de ver os
nossos amigos nipónicos a tentarem cometer proezas físicas quase impossíveis
era do melhor que um sábado à tarde em casa nos podia providenciar!
Os
comentários, por curiosidade, eram feitos pelos jovens José Carlos Malato e Ana
Lamy, e nem ligavam muito ao que se ia passando no concurso, mas sim gozando
com as expressões, palavras e, acima de tudo, “figuras” que os concorrentes
faziam.
Mas
a verdadeira história por trás deste artigo é a exposição “Gosse de Peintre”,
que se realizou este ano entre Março e Setembro, na Fundação Cartier, em Paris.
Não fui, nem estive lá perto. Mas bendita internet e comunicação social
portuguesa, que nos permitem viajar e sonhar sentados no conforto da nossa
casa.
Esta
foi a primeira exposição de Takeshi Kitano, o maluco apresentador do programa
“Nunca Digas Banzai”, e logo uma das mais ambiciosas da Fundação Cartier,
segundo a sua administração. Embora comunicando directamente com os adultos,
foi desenhada para levar a sério as crianças, convidando-as a pensar e a
sonhar, juntando-se assim à exposição.
Como
disse o próprio autor, “com esta exibição, tentei expandir a definição de
«arte», torná-la menos convencional, menos snob, mais casual e acessível a
todos.”
Criada
inteiramente por Takeshi Kitano, especificamente para aquele espaço, é composta
por pinturas, vídeos, esculturas e máquinas fantásticas, associado a um certo
cliché que existe sobre a cultura japonesa.
Com
um forte cariz autobiográfico, esta exposição prima pela ideia de subversão que
faz de uma exposição “normal”, ou seja, transforma um museu em parque de
diversões, convidando o visitante a interagir e participar – algo que muitos
tentam, mas poucos conseguem.
Enquanto
criança, Kitano ajudava o pai, que era pintor, sendo gozado pelos seus colegas
de classe média japonesa, que o chamavam de “filho de pintor”, o que
considerava uma grande ofensa. Agora, na sua primeira exposição, vinga-se desses
tempos, intitulando a exposição de “Gosse de Peintre”, literalmente “filho de
pintor”. Já num dos seus filmes mais populares em Portugal, “O Verão de
Kikujiro” (1999), a infância é o tema retratado, numa perspectiva muito humana
e poética, sempre acompanhada de humor.
Realizador,
actor, apresentador de televisão, comediante, pintor e escritor, Takeshi Kitano
tem de facto uma personalidade singular. Famoso no mundo ocidental pelos filmes
que tem realizado, é uma estrela popular da televisão japonesa.
Muito
do seu trabalho cinematográfico inicial recai sobre a máfia japonesa, a Yakuza,
com cenas demasiado longas onde nada acontecia, ou cenas que terminavam
repentinamente e muito violentas.
Com
cerca de 15 filmes realizados entre 1989 e 2010, muitos dos quais também
escritos, montados e protagonizados pelo próprio, os destaques vão certamente
para “Fireworks” (1997), “Dolls” (2002) e “Achiles and the Tortoise” (2008),
tendo já ganho vários prémios nos principais festivais de cinema por todo o
mundo. Recentemente estreou o último filme, “Outrage”, durante o Festival de
Cannes de 2010.
Mas
a sua verdadeira faceta de estrelato é enquanto apresentador de televisão no
Japão, com outros concursos e séries de comédia de enorme sucesso depois de
“Takeshi’s Castle”.
Takeshi
Kitano já foi considerado por alguma crítica japonesa como o verdadeiro
sucessor de Akiro Kurosawa, o mais famoso realizador de cinema japonês de
sempre. Ainda arranja tempo para dar aulas na Universidade de Artes de Tóquio,
dirige uma agência de talentos, assim como um festival internacional de cinema,
o “Tokyo Filmex”.
Um
exemplo destes dá-nos vontade de levantar da cadeira e produzir qualquer coisa,
intervir de qualquer modo, e de preferência, fazer qualquer tipo de alteração
na nossa sociedade.
in Jornal Feedback 100%, Dezembro de 2010
Não deu na RTP1, foi na Sic, logo no inicio em 92/93. E nunca deu na Sic Radical, era outro gameshow, o Unbeatable Banzuke. E apesar de ele não ser propriamente o protagonista, o Battle Roayle tornou-se (com todo o mérito) um filme de culto e pelos quais ele é mais conhecido.
ResponderEliminarObrigado pela correção, pois já lá vão alguns anos e a memória está um pouco corroída de tanta televisão e cinema...
EliminarOs comentários dessa série eram da responsabilidade do actor João Vaz (Tou Xim, entre outros trabalhos) e do apresentador Malato, e começaram por dar na sic à tarde e passou a dar ao sábado à noite no ano de 1994. Pode ser visto o 1º episódio aqui:
Eliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=EuMtd7_KzUw