quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Takeshi Kitano – Nunca Digas Banzai! (2010-12)


Conheci-o como actor, depois realizador, e agora percebo-o como provocador que é. “Beat” Takeshi Kitano, do Japão para o Mundo a uma velocidade televisiva!
A meio dos anos 90, não havia sábado à tarde que não perdesse uma boa hora ou duas a ver o programa “Nunca Digas Banzai”, que chegou a emitir na RTP1 uns anos antes e posteriormente, já na era TV Cabo, na SIC Radical.
De nome original “Takeshi’s Castle”, constava de um concurso televisivo japonês, onde inicialmente mais de uma centena de concorrentes iriam tentar chegar a uma batalha final para conquistar o castelo de um conde maluco, representado por Takeshi Kitano.
No entretanto, em várias provas a eliminar, a gargalhada originava lágrima quase certa: desde os labirintos cujas portas terminavam em banhos de lama, ou as fossas que tinham que ser ultrapassadas por uma corda, o prazer de ver os nossos amigos nipónicos a tentarem cometer proezas físicas quase impossíveis era do melhor que um sábado à tarde em casa nos podia providenciar!
Os comentários, por curiosidade, eram feitos pelos jovens José Carlos Malato e Ana Lamy, e nem ligavam muito ao que se ia passando no concurso, mas sim gozando com as expressões, palavras e, acima de tudo, “figuras” que os concorrentes faziam.
Mas a verdadeira história por trás deste artigo é a exposição “Gosse de Peintre”, que se realizou este ano entre Março e Setembro, na Fundação Cartier, em Paris. Não fui, nem estive lá perto. Mas bendita internet e comunicação social portuguesa, que nos permitem viajar e sonhar sentados no conforto da nossa casa.
Esta foi a primeira exposição de Takeshi Kitano, o maluco apresentador do programa “Nunca Digas Banzai”, e logo uma das mais ambiciosas da Fundação Cartier, segundo a sua administração. Embora comunicando directamente com os adultos, foi desenhada para levar a sério as crianças, convidando-as a pensar e a sonhar, juntando-se assim à exposição.
Como disse o próprio autor, “com esta exibição, tentei expandir a definição de «arte», torná-la menos convencional, menos snob, mais casual e acessível a todos.”
Criada inteiramente por Takeshi Kitano, especificamente para aquele espaço, é composta por pinturas, vídeos, esculturas e máquinas fantásticas, associado a um certo cliché que existe sobre a cultura japonesa.
Com um forte cariz autobiográfico, esta exposição prima pela ideia de subversão que faz de uma exposição “normal”, ou seja, transforma um museu em parque de diversões, convidando o visitante a interagir e participar – algo que muitos tentam, mas poucos conseguem.
Enquanto criança, Kitano ajudava o pai, que era pintor, sendo gozado pelos seus colegas de classe média japonesa, que o chamavam de “filho de pintor”, o que considerava uma grande ofensa. Agora, na sua primeira exposição, vinga-se desses tempos, intitulando a exposição de “Gosse de Peintre”, literalmente “filho de pintor”. Já num dos seus filmes mais populares em Portugal, “O Verão de Kikujiro” (1999), a infância é o tema retratado, numa perspectiva muito humana e poética, sempre acompanhada de humor.
Realizador, actor, apresentador de televisão, comediante, pintor e escritor, Takeshi Kitano tem de facto uma personalidade singular. Famoso no mundo ocidental pelos filmes que tem realizado, é uma estrela popular da televisão japonesa.
Muito do seu trabalho cinematográfico inicial recai sobre a máfia japonesa, a Yakuza, com cenas demasiado longas onde nada acontecia, ou cenas que terminavam repentinamente e muito violentas.
Com cerca de 15 filmes realizados entre 1989 e 2010, muitos dos quais também escritos, montados e protagonizados pelo próprio, os destaques vão certamente para “Fireworks” (1997), “Dolls” (2002) e “Achiles and the Tortoise” (2008), tendo já ganho vários prémios nos principais festivais de cinema por todo o mundo. Recentemente estreou o último filme, “Outrage”, durante o Festival de Cannes de 2010.
Mas a sua verdadeira faceta de estrelato é enquanto apresentador de televisão no Japão, com outros concursos e séries de comédia de enorme sucesso depois de “Takeshi’s Castle”.
Takeshi Kitano já foi considerado por alguma crítica japonesa como o verdadeiro sucessor de Akiro Kurosawa, o mais famoso realizador de cinema japonês de sempre. Ainda arranja tempo para dar aulas na Universidade de Artes de Tóquio, dirige uma agência de talentos, assim como um festival internacional de cinema, o “Tokyo Filmex”.
Um exemplo destes dá-nos vontade de levantar da cadeira e produzir qualquer coisa, intervir de qualquer modo, e de preferência, fazer qualquer tipo de alteração na nossa sociedade.

in Jornal Feedback 100%, Dezembro de 2010

3 comentários:

  1. Não deu na RTP1, foi na Sic, logo no inicio em 92/93. E nunca deu na Sic Radical, era outro gameshow, o Unbeatable Banzuke. E apesar de ele não ser propriamente o protagonista, o Battle Roayle tornou-se (com todo o mérito) um filme de culto e pelos quais ele é mais conhecido.

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    1. Obrigado pela correção, pois já lá vão alguns anos e a memória está um pouco corroída de tanta televisão e cinema...

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    2. Os comentários dessa série eram da responsabilidade do actor João Vaz (Tou Xim, entre outros trabalhos) e do apresentador Malato, e começaram por dar na sic à tarde e passou a dar ao sábado à noite no ano de 1994. Pode ser visto o 1º episódio aqui:
      https://www.youtube.com/watch?v=EuMtd7_KzUw

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