Quando o mote é cultura são vários os
temas que anseio por abordar, como o próprio conceito de arte, questões sobre o
património intangível ou a crítica artística um festival de artes realizado
recentemente. Mas desta vez não tive hipótese de escolha, devido principalmente
à proximidade do momento em questão: o último concerto a que assisti.
Infelizmente não se realizou na
região, forçando mesmo a minha deslocação a Lisboa, onde, sem saber bem como,
no passado dia 5 de Abril, estava sentado numa mesa no Cabaret Maxime, à espera
de ver e ouvir Bonnie ‘Prince’ Billy.
Este incrível performer, que se afigura como algo entre um místico e efémero
trovador e um animal de palco, atingiu momentos de uma intensidade lírica
brutal, assemelhando-se a uma inocente criança, que por vezes nos transmite a
mais dolorosa verdade sobre a vida.
Parece estranho alguém deslocar-se a
Lisboa, num dia de semana, para ver um concerto numa antiga “casa de meninas”,
e ainda por cima de um artista que ninguém conhece! O único contra-argumento
lógico que tenho é o seguinte: é o Bonnie!
De seu nome Will Oldham, nascido em
Louisville, Kentucky (E.U.A.), a 24 de Dezembro de 1970, qual Messias da música
folk contemporânea, é um artista que
se encontra entre um rock
independente e um country music
alternativo.
Já gravou e editou sob vários
pseudóminos, como os Palace, Palace Music, Palace Brothers e mais recentemente
como Bonnie ‘Prince’ Billy, um nome cheio de referências iconográficas da
cultura norte-americana (Bonnie Prince Charlie, Billy the Kid e Nat King Cole),
e com o qual se estabeleceu na cena internacional.
Desde 1982 já gravou mais de 15 álbuns
e cerca de 45 singles ou EPs, de onde se destacam obrigatoriamente I See Darkness (1999) e Superwolf (2005), este em conjunto com
Matt Sweeney.
Todos os seus trabalhos carregam uma
forte vertente introspectiva, reflectiva e dolorosamente melódica. Um anjo
negro do amor, se quisermos… onde todos os sonhos, dificuldades e enigmas mais
obscuros são explicados ao pormenor, sem relutância alguma.
Uma prova inegável do seu valor e
importância para a música contemporânea norte-americana é o disco tributo de
que foi sujeito em 2004, onde artistas de várias áreas musicais se juntaram e
gravaram I Am a Cold Rock. I Am Dull
Grass, que rapidamente se esgotou.
O último trabalho de Oldham, The Letting Go (2006) – talvez o seu
melhor trabalho de sempre – esteve bem patente no concerto, onde, após mais de
uma hora e meia, ainda houve tempo para “discos pedidos” por parte do público,
e dois magníficos encores.
Dificilmente rotulado ou categorizado,
este recente disco pode-se considerar o seu trabalho mais aventureiro e
inesperado, com um leve toque de intriga proporcionado pela incrível voz de
Dawn McCarthy, vocalista dos Faun Fables, que abriram o concerto outro dia no
Maxime.
Will Oldham tem também participado em
vários filmes, com destaque para Matewan
(1987) ou Junebug (2005). Em 2006
entra em dois filmes que receberam excelentes críticas assim como alguns
prémios em vários festivais: Old Joy
e The Guatemalan Handshake.
Angra do Heroísmo, 15 de Abril de 2007
Miguel Rosa Costa
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