Tento
aproveitar esta oportunidade para abordar temas obviamente do meu
interesse, como arte, cultura e comunicação em geral, com alguns
laivos à sociedade e à política…
Acho
importante a presença destes temas no dia a dia das pessoas, sendo
mesmo minha convicção que a arte é um dos principais
impulsionadores de um verdadeiro desenvolvimento social sustentável,
equilibrado e civilizado.
Assim,
e numa perspetiva local, tento quando possível, que o teor deste
espaço seja regional ou nacional… que não é o caso de hoje.
Há
muito que tenho desejo de escrever sobre Jeff Wall, mesmo sendo
difícil definir, mas deve ser o meu fotógrafo preferido. Tenho
outros, nacionais e internacionais, mas este marcou-me
particularmente, talvez por tenha sido através das suas imagens que
comecei a aprender sobre fotografia contemporânea.
Nascido
em 1946 no Canadá, desde os anos 60 e 70 que se tornou uma das
principais figuras da cena artística de Vancouver, cuja escola
ajudou a definir através de vários trabalhos escritos de relativa
importância. Está sempre muito presente esta cidade no seu
trabalho, misturando a sua beleza natural, e decadência urbana e
mesmo moral.
Estudou
na Universidade de British Columbia e no Courtauld Institute, e
depois deu aulas em várias universidades e institutos, assim como
publicou outros importantes ensaios sobre fotografia e arte sobre com
vários artistas de renome internacional. Entre os vários prémios
que já recebeu, destaque para o Hasselblad Award, reconhecido prémio
de uma academia sueca em fotografia.
Enquanto
estudante, o seu trabalho foi bastante experimental e conceptual,
como se deseja num jovem, mas só em 1977 produziu o que se pode
definir como as suas primeiras “foto transparências retro
iluminadas”, pelo que ficou conhecido mundialmente, geralmente
encenadas e referindo-se a problemas da história da arte e
filosofia.
Embora
seja praticamente impossível referir apenas alguns trabalhos de Jeff
Wall, gostaria de destacar “Mimic” (1982), que desmonta o seu
estilo cinematográfico: um casal branco e um indivíduo asiático,
ambos de frente para a câmara, num ambiente norte-americano
suburbano, onde o homem branco, num gesto de troça e racista,
levanta com o dedo o canto superior do seu olho, simulando os olhos
orientais. No que parece uma fotografia casual, muito trabalho e
técnicos foram utilizados, para conseguir naquele momento
representar o que Wall desejava, ou seja, aquela tensão social
implícita, que afinal se baseava num gesto que o artista tinha mesmo
presenciado.
Uma
das suas imagens mais conhecidas deve-se ao facto de a banda
norte-americana Sonic Youth a ter escolhido para o álbum “The
Destroyed Room: B-sides and rarities”, de 2006, uma importante
coletânea para os seus fãs. A fotografia, de 1978, deu mesmo origem
ao nome do álbum, de extrema importância para o futuro trabalho de
Jeff Wall, como que um manifesto contextualizado de revolta e
agressão à vida doméstica, ao bom estilo punk
académico dos Sonic Youth.
Jeff
Wall pretende aperfeiçoar a “arte de não fotografar”, ou seja,
procurar as imagens que se escondem numa cidade, e depois a partir
delas construir momentos ficcionados para capturar novamente em
câmara. E isto é literalmente uma mistura de performance e
realidade, em que a fotografia de Jeff Wall se move.
As
suas fotografias são cuidadosamente pensadas e ensaiadas,
partilhando técnicas e pensamentos do cinema e da pintura, criando
um conjunto de imagens que derivam dessas duas técnicas.
Outro
exemplo, a finalizar, e uma das minhas peças de referência, é o
trabalho “A
Sudden Gust of Wind (after Hokusai)”,
de 1993, atualmente parte integrante da Tate Gallery. Trata-se de uma
transparência das já referidas, com 2,2 x 3,3 metros. Grande e
luminosa. É baseada numa xilogravura do artista japonês Katsushika
Hokusai, de 1831, que representa a época dos tufões e retrata um
grupo de viajantes lutando contra os fortes ventos, agarrando-se aos
seus chapéus e haveres.
Jeff
Wall transplantou essa imagem para a sua Vancouver, e demonstra um
grupo de personagens apanhados desprevenidos por uma súbita rajada,
levando um chapéu e muitos papéis pelo ar. O trabalho foi
construído a partir de 50 imagens, tiradas ao longo do ano, que
depois foram digitalizadas e processadas, quase como na produção de
um filme, mas trata-se “apenas” de uma fotografia… isto é Jeff
Wall.
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