Já se sabe que quando alguém
morre, surgem logo a falar bem do seu trabalho, da sua personalidade, da boa
pessoa que era… e foi o que sucedeu com o desaparecimento de Fernando Lopes, um
dos grandes realizadores portugueses, também conhecido pela sua paixão,
sinceridade, ser um bon vivant e um amante
de Lisboa.
Fernando Lopes estudou
Realização de Cinema no London Film School em 1959, enquanto trabalhava na RTP.
Após o seu regresso a Portugal, filma algumas curta-metragens documentais e de
ficção, e com a sua primeira longa-metragem, cria um mito, com o documentário Belarmino (1964). Considerado um dos
principais trabalhos do Novo Cinema português, movimento vanguardista que
rompeu com a ideologia do Estado Novo vigente na época, juntamente com António
Pedro Vasconcelos, José Fonseca e Costa e outros.
O filme segue a vida de um
pugilista português, Belarmino, numa ótica neo-realista, com nítidas
preocupações sociais, num cinema direto e com recurso à entrevista. Juntamente
com Uma Abelha na Chuva (1971) e O Delfim
(2002) são as suas obras mais marcantes e conhecidas do público português.
Publicamente reconhecido
pelos seus pares, talvez o melhor prémio de uma vida dedicada à promoção e
defesa da ética no cinema, tornou-se uma figura conhecida e acarinhada do
público português, tendo sido ainda fundador e diretor da RTP2 e professor
universitário.
O seu mais recente filme, Em Câmara Lenta (2012), estreou em Março
deste ano, e seria já uma antecipação da sua partida, uma despedida triste, em
contraponto com tanta felicidade que colocou nos seus filmes. Trata-se de um
filme sobre o revisitar da vida de um homem, com os inevitáveis “quem sou eu” e
“como vivi a minha vida”.
Mas Fernando Lopes era
também um ativista atento às causas do cinema, e geralmente queixava-se dos
meios de produção em Portugal, dizendo mesmo ser necessária uma “Nova Vaga”,
facilitando os meios para se fazer cinema.
E esse espírito de luta em
defesa do cinema continuará, como tem vindo a ser noticiado, pelo facto de um
grupo de realizadores e produtores nacionais se terem reunido no Cinema São
Jorge, a exigirem ser recebidos pelo Primeiro-ministro, com vista a que seja cumprido
o prazo de aprovação da nova Lei do Cinema. Isto tudo na mesma altura em que o
filme de Gonçalo Tocha sobre a ilha do Corvo (a exibir brevemente em Angra e
Praia), ganhou mais um prémio, desta vez no Festival de São Francisco.
O cinema português vive um
momento de reconhecimento internacional, que deve ser capitalizado, mas
infelizmente isso não significa que existam grandes expectativas para o futuro.
Com o ICA (Instituto de Cinema e Audiovisuais) praticamente falido, e muitos
profissionais do sector sem receberem os apoios já concedidos, o cinema
encontra-se parado.
Bem sei que em altura de
crise a arte e a cultura podem não ser o que mais interessa, mas se pensarmos
bem, e relembrando uma máxima de Winston Churchill, se não lutarmos pela nossa cultura, então lutamos porquê?
Sem comentários:
Enviar um comentário