No passado dia 21 de Outubro,
em plena transição de estações, reuniu-se na Carmina Galeria uma curiosa
trilogia artística terceirense. Inserido no lançamento do primeiro livro da
nova coleção LABJOVEM, da autoria de Rui de Sousa, ocorreu um concerto de João
Félix, isto tudo sob o auspício da exposição de escultura de Maria Ana Simões.
E comecemos pelo evento
principal da noite, pois para todo o efeito, esta sinergia origina do
lançamento do livro “Adeus Amanhã”, do jovem terceirense Rui de Sousa. Que seja
o primeiro de muitos.
Trata-se do primeiro livro
da agora apresentada Coleção LABJOVEM Literatura, pela Direção Regional da
Cultura, em parceria com a Associação Cultural Burra de Milho, onde serão
editadas as obras dos autores selecionados do concurso com o mesmo nome, que
visa dar a conhecer os jovens criadores da região. Foi também apresentado no
sábado seguinte, na galeria Arco 8, em Ponta Delgada, contando com a atuação de
Emanuel Paquete, outro selecionado do referido concurso.
Como afirmou o autor, ao
tratar-se de uma primeira obra, é claramente autobiográfica. É de facto uma
viagem de regresso à ilha, pesando os prós e os contras da nossa dimensão,
viajando por questões morais, como o peso que damos à opinião dos outros,
polvilhado ocasionalmente com verdadeiras pérolas poéticas, numa narrativa com
uma construção moderna.
Em complemento à
apresentação do livro, João Félix apresentou 10 canções do seu forte
reportório, num íntimo concerto para cerca de 40 pessoas. Sólido e emotivo, as
suas palavras tem de facto muito poder, e em inglês – imagine-se como será em
português… Encontra-se muito maduro, pronto para efetivar o seu trabalho em
estúdio. Espera-se que para breve.
É um trovador, e as
referências a Nick Drake e a música dos The Smiths a acabar relembram o seu
eclético conhecimento musical. Um concerto melancólico, com temas escritos em
fases distintas, mas com uma sequência e ligação bem pensada.
A completar, e de certa
maneira, a servir de anfitriã, estava a exposição de escultura “Metamorfose”,
de Maria Ana Simões, mais uma jovem artista terceirense. Estudou Escultura na
Faculdade de Belas Artes da Universidade Nova de Lisboa, com uma passagem por
Itália inserida no programa Erasmus (intercâmbio estudantil), tendo ainda
frequentado o mestrado em Ensino de Artes Visuais novamente na Universidade
Nova de Lisboa.
Se a formação académica
impressiona, mais ainda destaca o valor desta artista os locais por onde já
passou, em diversas exposições individuais e coletivas, entre Angra do Heroísmo,
Sacavém, Lisboa, Nova Iorque ou Florença.
Pessoalmente, foi a novidade
da noite, pois já tinha ouvido falar do seu trabalho, mas não o conhecia “ao
vivo”, tendo sido uma boa surpresa, demonstrando um trabalho muito laborioso,
com uma intenção bastante clara e específica.
Demonstra acima de tudo
experiência, sensibilidade e muito trabalho com os materiais em questão
(madeira, pedra e ferro). Realça-se também, como refere a artista, a
fragilidade de alguns trabalhos, em busca de respostas emocionalmente
distantes.
Após a bem sucedida
inauguração no passado dia 15 de outubro, a exposição encontra-se patente até
ao próximo dia 27 de novembro. Não deixe os dias passar e vá o mais rapidamente
possível.
Para concluir todo este
otimismo, pois existe de facto uma incrível geração de jovens artistas na
região, é de realçar o trabalho da Carmina Galeria, objeto da dedicação do Dr.
Dimas Simas Lopes, assim como da restante equipa da galeria, e ainda o trabalho
da Burra de Milho, não deixando adormecer a ideia de que podemos ter uma melhor
sociedade com base na fruição e atividade artística.