sexta-feira, 25 de maio de 2012

A tecnologia ao serviço da democracia (2011-02-18)


No passado dia 7 de fevereiro, tive a oportunidade de assistir por alguns minutos à reunião da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, via internet e em direto (acesso disponível através do sítio da CMAH). Foi um excelente exercício de democracia, pelo qual gostaria de felicitar o município.
Esta transmissão permite o acesso do munícipe à discussão entre todos os vereadores eleitos, representando um excelente momento de transparência política, digno dos nossos tempos, utilizando a tecnologia em prol do desenvolvimento.
Tento geralmente abordar temas com os quais estou à vontade, por uma questão de honestidade intelectual, mas também por ser bastante autocrítico e perceber as minhas limitações. No entanto sinto-me um pouco a sair da minha zona de conforto, a cultura, arte e comunicação, mas longe de ingressar em questões políticas – apenas de civismo.
Acredito na proximidade entre eleitor e eleito, entre poder e povo. Se o país está preparado ou não, se temos maturidade democrática suficiente para estarmos mais próximos das decisões sobre o nosso futuro, não me cabe tamanha sabedoria para responder. Na mesma lógica, considero muito importante o cariz regional das nossas políticas, assim como fundamental o papel do poder local, onde realmente se está em contacto com o cidadão.
E nesta altura complexa de crise generalizada, que começa a pesar e a parecer de longa resolução, será talvez o momento de afirmação, pelo menos nos países mais evoluídos, do poder local. E as câmaras municipais são as entidades visíveis desse poder, são os órgãos executivos dos municípios, são o seu governo. É um órgão colegial, composto por um presidente e por um número variável de vereadores com ou sem pelouros. E passando por vários cenários e formatos ao longo da nossa história, desde 1976 que as câmaras municipais são órgãos executivos, e as assembleias municipais os órgãos deliberativos. Existe ainda um terceiro tipo de órgão, o consultivo, que são os conselhos municipais, e com uma importância e dimensão variada, mas que para todos os efeitos, formam juntamente com a câmara e a assembleia, o conjunto dos órgãos representativos de cada município. Geralmente aparecem associados a áreas como Segurança, Educação, Ambiente ou Desporto, mas representam de facto uma verdadeira abertura aos temas e valores que devem estar presentes na elaboração de políticas municipais, assim como representam um conceito de aproximação aos cidadãos.
É fácil criticar, aliás, algo que sabemos fazer exaustivamente em Portugal, principalmente se não temos soluções ou respostas que pensemos ser exequíveis. Nesse sentido, das soluções, tem aparecido vários tipos de movimentos, associativos, académicos e alguns obviamente políticos, que buscam novos conceitos, novas perspetivas sobre a forma de fazer política ou de organizar o sistema governativo em Portugal.
Um desses exemplos é o Movimento do Associativismo e da Democracia Participativa, com origem em vários institutos académicos e universidades portuguesas, que tem vindo a desenvolver o seu trabalho desde 2009, e teve o seu momento alto num congresso realizado no fim de 2010. A sua grande referência é o próprio Artigo 2º da Constituição da República Portuguesa: “A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, (...) visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.
E é esta questão da democracia participativa, que numa postura humanista e civilizacional, aparece como fundamental, não sendo eu conhecedor da realidade política nem estudioso da sua história, mas apenas um crente de que a base para um estado é um governo democrático, gerido por políticos eleitos por partidos, preferencialmente por eleição uninominal ou então com um sistema de regionalização e proximidade.
Num regime de democracia participativa pretende-se que existam mecanismos de controlo por parte da sociedade civil sob a administração pública, sendo o poder do eleitor algo mais que o seu voto.
Para alguns académicos que tem investigado o tema, a democracia participativa é considerada uma justificação do exercício do poder político pautado no debate público entre cidadãos livres e em condições iguais de participação. Assim, as decisões políticas resultariam de processos de discussão orientados pelos princípios da inclusão, pluralismo, igualdade participativa, autonomia e justiça social, conferindo um reordenamento na lógica de poder político instaurado.
Um claro exemplo disso é o conceito de Orçamento Participativo, que algumas câmaras municipais têm vindo a desenvolver em Portugal, sobretudo através do desafio colocado via Agenda XXI Local, com o intuito de submeter o destino de parte dos recursos públicos a consulta pública, através de reuniões comunitárias abertas aos cidadãos, onde primeiro são reunidas propostas e depois votadas as prioridades.
Se este conceito aparece orientado para o nível de governo central e não o poder local, serve também para demonstrar como pode funcionar a nível autárquico, onde a referida transmissão online é certamente um primeiro passo.
Existem riscos, existiriam muitas discussões, mas com uma boa dose de equilíbrio entre a experiência dos vários políticos locais, a sapiência de muitos académicos e conhecedores de vários saberes, assim como o valor de uma nova geração adormecida e desapontada, o contributo da comunidade seria de facto fulcral para o desenvolvimento económico e social sustentável dos nossos municípios.
Estaríamos a redemocratizar a própria democracia?

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