Trata-se de um país com uma
população de 320 mil habitantes, quase a mesma que nos Açores, embora com uma
área maior do que Portugal Continental (cerca de 100 mil quilómetros
quadrados). Aliás, e sem juízos de qualquer tipo, as poucas semelhanças que
existem connosco resumem-se ao facto de ser uma ilha, aos seus muitos fiordes (tipo
fajãs) e a vários sítios de cariz geotérmico (tipo furnas). Enquanto sociedade,
são extremamente liberais, com uma das mais altas taxas de literacia do mundo
(99%), auto-suficientes e independentes – toda a electricidade é fornecida
através de energias renováveis, como a geotermal ou a hidráulica!
A
nível musical, possuem uma tradição baseada em canções folclóricas sobre amor,
duendes e marinheiros, que manteve certas características desaparecidas em
outros países nórdicos. O destaque vai para um tipo de canção, chamada “hákveöa”,
que se refere a um especial ênfase dada a certas sílabas das palavras que
compõem as letras, assim como existem muitas canções “à capela”, originárias
ainda dos tempos dos Vikings. Para a actualidade parece ter subsistido esse
aspecto contemplativo e abstracto, com paisagens muito extensas, gelo a perder
de vista, muito monótono…
Com
um destaque óbvio para a artista Björk, considerada mesmo a islandesa mais
famosa do mundo, existem outras referências musicais internacionais deste
pequeno país, como os míticos The Sugarcubes, os Sigur Rós e a recente sensação
Emiliana Torrini.
Se
nos Sigur Rós conseguimos claramente personificar a imagem apresentada da
cultura islandesa, produzindo um som hipnótico, de cariz sensorial e angélico,
já com os The Sugarcubes temos o oposto, com um rock irreverente e energético,
que contava com a voz de Björk para congregar tudo. Mesmo tendo a banda
terminado em 1992, deixaram um grande legado e influência a bandas de todo o
mundo. Por outro lado Emiliana Torrini, sensual e elegante, consegue ter uma
linguagem actual, com uma base electrónica, nitidamente influenciada por outras
bandas islandesas menos conhecidas, mas de grande importância para o cenário
actual como os GusGus ou os Múm.
A
cena “indie” é muito forte na Islândia, talvez por ser apenas uma moda, talvez
pelos vários exemplos de sucesso, talvez por uma característica identitária com
base no seu isolamento e solidão, quem sabe… Mas nestes últimos anos
deu-se um grande desenvolvimento da música na Islândia, quer a nível comercial,
quer a nível alternativo, devido sem dúvida a bandas que atingiram um certo
estrelado como os já referidos GusGus, ou então o caso dos The
Funerals ou Ólafur
Arnalds, para o que tem fortemente contribuído o “Icelandic Airwaves”, um
festival internacional anual, realizado nos vários clubes da capital
Reiquiavique.
Mas o que de facto é impressionante, e que me levou a escrever
este artigo é a quantidade de bandas musicais existentes no país, das mais
variadas áreas, e acima de tudo, com grande qualidade. Num país com a mesma
população de que os Açores, embora num contexto geográfico e histórico
completamente diferente, conseguem apresentar garantidamente mais de 50 bandas
já com alguma dimensão, para não falar nas centenas de bandas que existem nos liceus,
universidades e clubes desta gelada ilha.
Aqui ficam alguns exemplos de qualidade e de relativo sucesso: Apparat Organ Quartet, FM
Belfast, Amiina, For
a Minor Reflection, Strafraenn Hákon, Daníel Ágúst, Einar Orn, Jóhann Jóhannsson, Jónsi & Alex, Sin Fang
Bous, Óllöf Arnalds e Steindor Andersen.
Que
a seguir à crise, ao vulcão e à vitória portuguesa, usufrua de uma boa audição de
música islandesa!
Nota: na altura já sonhávamos com a ida da selecção ao Europeu, assim como com o fim da crise...
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